O eterno debate sobre como conciliar os planos de ser mãe com a trajetória profissional voltou à tona nesta quinta-feira (14) durante o 58° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia, que vai até este sábado (16) no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), na Capital.
Médicos debateram como fazer o planejamento para a chegada do bebê e o que levar em conta antes de dar curso ao projeto. E as conclusões são convergentes: é impossível traçar uma regra para todas, uma vez que as variáveis envolvidas são muito particulares.
— É sabido que há um limite da natureza para a reprodução humana: o potencial reprodutivo da mulher cai com a idade e este processo se acelera em algum ponto entre os 35 e os 40 anos. E não há medicamento, ganho de qualidade de vida, exercício ou alimentação que adie a mudança — resume Bruno Ramalho, ginecologista do Distrito Federal com atuação em reprodução humana — Mas se formos falar em melhor momento para ter o bebê e como se planejar, isto dependerá de cada caso.
Fosse considerada apenas a condição biológica feminina, o apogeu reprodutivo seria entre 18 e 25 anos, complementa o médico César Eduardo Fernandes, presidente da Federação de Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Mas este período coincide exatamente com uma fase em que as pessoas estão obtendo a formação superior, iniciando a jornada profissional e formando patrimônio financeiro, pondera ele. E isso muitas vezes leva ao adiamento da maternidade.
— Muitas vezes a etapa de composição de estofo profissional vai até os 29, 30 anos. Depois, há a formação do patrimônio. Então, muitos casais deixam para incluir o filho no seu planejamento apenas depois destas etapas, aos 33, 34 anos — contextualiza Fernandes — E quando se decide, a mulher depara com uma queda drástica de seu potencial reprodutivo. Não é por menos que temos muitas clínicas de fertilidade surgindo — completa.
A sugestão dos médicos é que a mulher que chegue aos 35 anos sem começar a tentar reproduzir — seja por não ter encontrado o parceiro adequado, por estar insegura financeiramente ou quaisquer outros fatores — que comece a se planejar para contar com a ciência para que, no futuro, possa ter seu bebê.
— Após os 34 anos da mulher, será importante ao casal considerar procurar um processo de fertilização e guardar o embrião para implantar mais tarde, tendo em vista a dificuldade de concepção com a idade. Há também a possibilidade de congelar óvulos, embora não haja garantia que estes sejam recuperados adequadamente para serem fecundados no futuro — explica Fernandes.
Conforme Bruno Ramalho, em linhas gerais, a matemática sugere que mulheres com menos de 35 anos tenham 90% de chance de sucesso na fecundação se congelarem de 15 a 20 óvulos. O importante, diz o médico, é que a mamãe esteja preparada para lidar com os desafios da chegada de um bebê, independentemente da idade.
— O segredo é ter parcimônia e entender que maternidade faz parte da vida da mulher e da família. Não é determinante para a felicidade, tenho convicção disso, mas se faz parte do projeto de vida, é preciso se adequar ao planejamento do casal, pois exige tempo, esforço, sacrifícios e abdicação de algumas coisas — conclui Bruno.