Essa semana, em que foi comemorado o Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou um novo relatório dedicado à saúde alimentar e à nutrição das crianças em todo o mundo. O documento Situação Mundial da Infância 2019: Crianças, alimentação e nutrição traz dados preocupantes, como, por exemplo, que há 250 milhões de crianças sofrendo de desnutrição ou sobrepeso no mundo.
Dados de 2018 do Unicef mostram que 149 milhões de crianças menores de cinco anos de idade sofrem de déficit de crescimento ou estão muito baixas para a idade. Além disso, 50 milhões delas estão com baixo peso para a sua altura.
O levantamento revela ainda que metade das crianças com menos de cinco anos (340 milhões) sofrem de fome oculta, caracterizada pela falta de nutrientes essenciais, como vitamina A e ferro, o que prejudica a capacidade de crescerem e desenvolverem todo o seu potencial. O relatório também aponta que 40 milhões delas estão obesas ou com sobrepeso.
Atualmente, a má alimentação é o principal fator de risco para doenças. Uma dieta pobre em nutrientes mas alta em calorias é a realidade de milhões de pessoas em todo o mundo e afeta, principalmente, as populações mais pobres. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), é preciso que as crianças tenham acesso a alimentos nutritivos, seguros, acessíveis e sustentáveis.
Dados Mundiais
Entre 2000 e 2016, a proporção de crianças de cinco a 19 anos com excesso de peso aumentou de 10% para quase 20%. O sobrepeso pode levar ao aparecimento precoce de diabetes tipo dois e depressão.
O número de crianças com crescimento atrofiado diminuiu em todas as regiões, exceto na África, enquanto o número de crianças com excesso de peso aumentou em todas as regiões, incluindo a África.
Nas áreas rurais e entre as famílias mais pobres, apenas uma em cada cinco crianças de até dois anos de idade recebe o mínimo de nutrientes para um desenvolvimento cerebral adequado. Cerca de 45% das crianças entre seis meses e dois anos não consomem frutas ou legumes e 60% não consomem ovos, leite, peixe ou carne.
Apenas 40% das crianças com menos de seis meses são alimentadas exclusivamente com leite materno. A amamentação pode salvar a vida de 820 mil crianças por ano ao redor do planeta.
Um número crescente de bebês é alimentado com fórmulas infantis. As vendas de fórmula à base de leite cresceram 72% entre 2008 e 2013 em países de renda média-alta, como Brasil, China e Turquia, em grande parte devido a propagandas inadequadas e políticas ineficientes para estimular e apoiar a amamentação.
Muitos adolescentes consomem regularmente alimentos processados: 42% bebem refrigerante pelo menos uma vez por dia e 46% consomem fast food pelo menos uma vez por semana. Essas taxas sobem para 62% e 49%, respectivamente, para adolescentes em países de renda alta.
Brasil
De acordo com o Unicef, o Brasil reduziu a taxa de desnutrição crônica entre menores de cinco anos de 19%, em 1990, para 7%, em 2006. No entanto, ainda é um sério problema para indígenas, quilombolas e ribeirinhos. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, a prevalência de desnutrição crônica entre crianças indígenas menores de cinco anos era de 28,6%. Os números variam entre etnias, alcançando 79,3% das crianças ianomâmis.
No Brasil, o consumo de alimentos ultraprocessados (com baixo valor nutricional e ricos em gorduras, sódio e açúcares) vem crescendo, assim como as taxas de sobrepeso e obesidade. Uma em cada três crianças de cinco a nove anos possui excesso de peso. Entre os adolescentes, 17% estão com sobrepeso e 8,4% são obesos.
Na América Latina e no Caribe, 4,8 milhões de crianças menores de cinco anos têm desnutrição crônica (baixo crescimento para a idade), 0,7 milhão têm desnutrição aguda (baixo peso para a altura) e 4 milhões têm excesso de peso, incluindo obesidade.