Realizada ao longo da campanha Setembro Amarelo, mês marcado pelas ações de prevenção ao suicídio, uma pesquisa do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) traça um quadro preocupante sobre os médicos no Estado. Dos profissionais que responderam ao questionamento, feito através do site do sindicato, um em cada três médicos declarou não estar satisfeito com seu trabalho, e 10,7% afirmaram que tiveram de sair em licença médica por conta da saúde mental.
Além disso, 38% dos participantes garantiram que fazem uso de alguma medicação psicotrópica, e 16,8% afirmaram que pensam ou já pensaram recentemente sobre suicídio. Conforme o Simers, essa é a primeira pesquisa sobre saúde mental de médicos realizada no Estado.
Para o médico residente em psiquiatria Fernando Uberti Machado, diretor de Interior do Simers, o levantamento reforça um quadro conhecido sobre os profissionais de Medicina.
— Já sabíamos basicamente para onde os resultados iriam apontar: para uma situação muito grave, muito séria. Esperávamos, por exemplo, receber um alto número em termos de prevalência para a síndrome de "burnout" (esgotamento profissional) por conta da jornada de trabalho extenuante, pela pressão diária e a judicialização extrema da profissão, e isso se confirmou — explica.
No entanto, o alto índice de médicos que responderam afirmativamente à pergunta "Você pensa ou já pensou recentemente em suicídio" surpreendeu o Simers.
— É muito alto, realmente. Dentro da faculdade, eu já via uma prevalência muito alta da intenção suicida, e sabidamente a taxa de suicídio entre médicos é maior do que no restante da sociedade. Ainda assim, esperávamos ver menos pessoas que pensaram, nas últimas semanas ou meses, em suicídio.
Cerca de 15% do total de associados do Simers, que tem aproximadamente 16 mil membros no Rio Grande do Sul, respondeu a pesquisa. O sindicato estima que o total de médicos em atividade no Estado chegue a 30 mil, portanto a pesquisa conta com uma amostra importante para diagnosticar um pouco da realidade dos profissionais de Medicina.
A partir dos resultados, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul pretende promover ações voltadas à prevenção e ao tratamento desses problemas. O diagnóstico de doenças como a síndrome de "burnout" e a sugestão de profissionais habilitados para tratar questões de saúde como essa são algumas das atividades que se pretende reforçar junto à classe médica gaúcha.
Resultados da pesquisa
Dentre os 2.476 médicos associados do Simers que responderam a pesquisa:
- 38% garantiram que fazem uso de alguma medicação psicotrópica
- 35,3% declararam não estar satisfeitos em relação ao trabalho
- 21,2% responderam que não conseguem relaxar em algum momento do dia
- 16,8% afirmaram que pensam ou já pensaram recentemente sobre suicídio
- 10,7% disseram já ter saído de licença médica por saúde mental
Fonte: Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), em parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)