Preso a um tubo de oxigênio, durante a infância, Henrique Busnardo só podia observar os amigos jogando futebol. Diagnosticado em 1995 com bronquiolite obliterante (doença que obstrui os bronquíolos e dificulta a expiração), o menino de Curitiba, no Paraná, tinha a capacidade pulmonar extremamente reduzida, o que o impedia de participar de brincadeiras que exigissem algum esforço físico. Sem obter nenhum resultado com os medicamentos, sua única chance de cura era um transplante.
Então, no dia 17 de setembro de 1999, aos 12 anos, ele teve os dois pulmões retirados por completo e substituídos por uma metade do órgão do pai, Amadeu Busnardo, e outra da mãe, Márcia Busnardo. Em mais um capítulo de pioneirismo, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre realizava o primeiro transplante de pulmão inter vivos fora dos Estados Unidos. Conforme o médico José Camargo, que liderou a equipe, a decisão foi tomada em função do estado crítico do menino e da dificuldade em encontrar um órgão compatível, inclusive em tamanho.
— O transplante inter vivos é uma solução de emergência, quando o quadro é tão grave que não tem chance de esperar por um doador — explica o médico.
Camargo, que também foi responsável pelo primeiro transplante de pulmão na América Latina, igualmente realizado na Santa Casa, lembra o quão impactante foi a chegada de Henrique ao bloco cirúrgico do Pavilhão Pereira Filho.
— Ele entrou ajoelhado na maca, ficou na mesma posição na mesa de cirurgia e foi anestesiado assim. Depois, deitamos ele — relembra Camargo, explicando que o menino não conseguia se deitar, pois se sentia sufocado.
Para realizar a cirurgia, a família se mudou para Porto Alegre, onde viveu de agosto a dezembro daquele ano. Voltou à terra natal “pelas mãos” de Camargo, que fez questão de entregá-lo” ao seu médico. Na capital paranaense, Henrique retomou a rotina e, hoje, 20 anos após o procedimento, leva uma vida normal.
— Faço esportes, jogo futebol, vou na academia. Sou capaz de fazer coisas que eu queria ter feito na infância — conta.
Na segunda-feira (23), Henrique e sua mãe participaram de um evento no Centro Histórico-Cultural da Santa Casa, em comemoração às duas décadas do feito. No encontro, Camargo recebeu a distinção máxima da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a medalha de irmão Gran Benemérito.