Cirurgiões do Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, nos EUA, realizaram, nesta segunda-feira (28), o primeiro transplante com um doador vivo HIV positivo. Trata-se de um rim doado por Nina Martinez, 35 anos, a um receptor também HIV positivo, cuja identidade é mantida em sigilo. Nina e o paciente transplantado recuperam-se da cirurgia no hospital norte-americano. Pela primeira vez em um ano, o paciente que recebeu o órgão não precisará fazer hemodiálise. As informações são do jornal The Washington Post.
Antes do transplante de Nina, doações de órgãos entre HIV positivos só eram realizadas quando o doador já estava morto. Nos EUA, foram transplantados 116 órgãos de doadores falecidos soropositivos para receptores com HIV desde 2016, quando uma nova lei permitindo a cirurgia entrou em vigor. Entre as pessoas sem HIV, mais de 152 mil rins de doadores vivos foram transplantados nos últimos 30 anos, e algumas centenas de fígados de doadores vivos são implantados a cada ano.
O procedimento é um avanço importante para 1,1 milhão de pessoas portadoras do vírus, e os médicos esperam expandir o conjunto de órgãos disponíveis e ajudar a mudar a percepção do HIV.
— A sociedade acredita que pessoas como eu trazem a morte. E eu não consigo descobrir uma maneira melhor de mostrar que pessoas como eu podem trazer vida — disse a doadora em entrevista no sábado antes da operação.
A sociedade acredita que pessoas como eu trazem a morte. E eu não consigo descobrir uma maneira melhor de mostrar que pessoas como eu podem trazer vida.
NINA MARTINEZ
35 anos, doadora HIV positivo
Nina e o destinatário permanecerão em medicação anti-retroviral indefinidamente para controlar seu HIV. A resistência à medicação para o HIV pode variar de pessoa para pessoa, por isso os médicos devem monitorar de perto o receptor nos meses após o órgão doador ser introduzido. O receptor também tomará medicamentos para prevenir a rejeição de órgãos, e não se espera que estes interfiram significativamente nos medicamentos supressores do HIV.
Nina, que contraiu o vírus em uma transfusão de sangue ainda bebê, está com saúde física quase normal. Sua carga viral hoje é indetectável.
— Sua saúde é excelente. Seu HIV está bem controlado. Seu sistema imunológico é essencialmente normal — disse Christine Durand, professora de medicina na Hopkins e membro da equipe que avaliou Martinez.
Mais de 113.000 pessoas estão na lista de espera dos EUA para transplantes de órgãos, a maioria deles em busca de rins. Outros estão doentes demais para serem listados ou são retirados da lista quando a doença progride demais.
Até agora, deixar uma pessoa soropositiva com apenas um rim era considerado muito perigoso porque a infecção e os medicamentos que a controlam aumentam as chances de doença renal.
Pessoas com HIV hoje não podem doar sangue. Mas agora eles podem doar um rim. Eles têm uma doença que há 30 anos era uma sentença de morte. Hoje eles são tão saudáveis e que podem dar vida a outra pessoa.
DORRY SEGEV
Professora que liderou a equipe de pesquisa e removeu de Nina
Mas um estudo realizado em 2017 com 42.000 pessoas lideradas por pesquisadores da Hopkins mostrou que para alguns doadores saudáveis, o risco de desenvolver doenças renais graves não é muito maior do que para muitas pessoas HIV-negativas, especialmente aquelas que se envolvem em comportamentos como fumar.
— Pessoas com HIV hoje não podem doar sangue. Mas agora eles podem doar um rim _ disse Dorry Segev, professora de cirurgia da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, que liderou a equipe de pesquisa e removeu o rim esquerdo de Martinez. — Eles têm uma doença que há 30 anos era uma sentença de morte. Hoje eles são tão saudáveis e que podem dar vida a outra pessoa.