Coordenador do projeto Fumo Zero, da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), o pneumologista Luiz Carlos Corrêa da Silva tem se debruçado nos últimos dias sobre o tema da doença pulmonar entre usuários de cigarro eletrônico — nos Estados Unidos, seis mortes são investigadas por doença pulmonar grave associada a seu uso. Na entrevista a seguir, o médico da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre fala sobre a enfermidade e sobre os riscos dos e-cigarros:
O que já se sabe sobre a doença que está afetando usuários de cigarros eletrônicos?
As vítimas são pessoas jovens, de 15 a 35 anos, que tinham em comum o fato de fumarem cigarro eletrônico. Foram constatadas lesões destrutivas pulmonares, alterações que levam o tecido pulmonar a inflamação e falta de funcionamento, que em alguns casos chegam a insuficiência respiratória. No caso de pessoas que estão hospitalizadas, em ventilação assistida, observa-se que não está havendo recuperação, alguns depois de dois meses. Ainda é uma coisa que está para ser desvendada. Há muitas interrogações.
É uma doença nova?
É uma doença nova ou pelo menos uma caracterização nova de uma coisa que ainda não se sabe o que é. Certamente não é microbiológico, não é infecção, porque todas as observações feitas não mostraram nenhum germe. Pelas descrições, é uma degeneração e destruição de tecido pulmonar. É com certeza uma enfermidade grave.
Há ocorrência no Brasil?
Em nosso meio não temos nenhum caso. Aqui também se usa cigarro eletrônico, mas nos Estados Unidos é muito mais frequente, até porque lá está liberada a comercialização. Aqui é proibido. Talvez a dificuldade de acesso explique a diferença.
O que se suspeita é que a doença seja causada por alguma das substâncias que as pessoas adicionam à nicotina para a vaporização. A nicotina não seria a causadora?
É quase certo que não seja a nicotina. Podem ser gorduras que são colocadas no que é vaporizado, para estabilização e para dar aroma e sabor, já que foi encontrado uma substância com gordura nos brônquios e nos pulmões de pacientes e também em material de observação experimental.
Essa gordura poderia vir do acetato de vitamina E?
A vitamina E, quando entra no sistema de vaporização, carrega gordura junto. Porque a vitamina E é lipossolúvel, tem que ter ácidos graxos junto. A pessoa inala essa gordura e pode ter uma resposta inflamatória do tecido pulmonar, pode causar a destruição. Mas isso ainda são informações muito iniciais em termos de observação técnica e científica.
Também se falou no THC. Seriam casos de pessoas que utilizam os cigarros eletrônicos para consumo de maconha?
Exatamente. Talvez não seja diretamente o THC puro, mas se houver outras substâncias misturadas, a gente não sabe a resposta no pulmão.
Além dessa situação vivida atualmente nos Estados Unidos, o que se sabe sobre os riscos oferecidos pelos cigarros eletrônicos?
Para a formação do vapor que é inalado pelo fumante, tem de haver presença de várias substâncias cancerígenas. Não existe nenhuma prova de que esse tipo de produto seja seguro. A indústria defende duas coisas: que o cigarro eletrônico causa menos danos que o cigarro e que poderia ajudar fumantes a largar os cigarros convencionais. Nenhuma das duas está comprovada. A única diferença é que o cigarro eletrônico não tem tabaco, mas tem outras coisas ali que são ruins ou até piores. E mantém o individuo dependente da nicotina.