Uma doença pulmonar grave e misteriosa, que provocou seis mortes e acometeu pelo menos 380 pessoas nos Estados Unidos, está chamando a atenção para os riscos do cigarro eletrônico. O dispositivo foi apontado como provável causa dos casos já confirmados.
No final da semana passada, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), órgão do governo americano, publicou um boletim especial sobre o "surto de doença pulmonar associada a e-cigarros", no qual pede que os usuários "considerem se abster" do produto e procurem um profissional de saúde imediatamente em caso de sintomas suspeitos. O governo dos Estados Unidos anunciou o plano de banir os sabores usados nos vaporizadores. A Associação Americana do Pulmão alertou que o produto não é seguro e pode causar estragos irreversíveis.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também emitiu um comunicado, lembrando que os dispositivos eletrônicos para fumar têm comercialização, importação e propaganda proibidas no Brasil. "A decisão da agência foi baseada na ausência de dados científicos sobre as alegações desses produtos", diz o informe.
Os casos começaram a vir a público no mês passado e espantaram pela severidade dos danos pulmonares. Os sintomas são tosse, falta de ar, dor no peito, náusea, vômito, diarreia, fadiga, febre e dor abdominal. Alguns pacientes precisaram de oxigênio suplementar e ventilação mecânica, conforme o The New England Journal of Medicine. No raio-X, o pulmão dos doentes apresenta características similares às de alguém com pneumonia viral ou síndrome respiratória aguda.
O CDC informou que em todos os casos foi confirmada a associação com o uso de cigarros eletrônicos, mas ainda são desconhecidos os mecanismos causadores. "A investigação não identificou nenhum produto específico de cigarro eletrônico, vaporizador ou substância ligado a todos os casos", publicou o órgão.
Existe a suspeita de que uma ou mais das diferentes misturas líquidas que têm sido usadas nos e-cigarros possam estar na origem da doença. Uma delas é o acetato de vitamina E, encontrado em 34 vaporizadores testados em Nova York. Em seu alerta, o CDC citou o THC e o canabidiol, substâncias presente na maconha e que teriam sido usados nos vaporizadores por pessoas que adoeceram. "A maioria dos pacientes relatou uma história de uso de produtos de cigarro eletrônico contendo THC", afirma o texto. "Muitos pacientes relataram usar THC e nicotina. Alguns relataram o uso de produtos de cigarro eletrônico contendo apenas nicotina."
Quem está pensando em comprar um desses produtos na rua ou fazer modificações em casa, usando algo que comprou de terceiros, deve pensar duas vezes.
MITCH ZELLER
Diretor do Centro de Produtos de Tabaco da FDA, agência de drogas e alimentos dos Estados Unidos
O CDC recomendou não comprar produtos com THC e outros canabioides nas ruas, bem como não modificar ou adicionar substâncias nos refis usados para fumar. Também orientou jovens e grávidas a não fazer uso dos cigarros eletrônicos.
— Quem está pensando em comprar um desses produtos na rua ou fazer modificações em casa, usando algo que comprou de terceiros, deve pensar duas vezes — aconselhou Mitch Zeller, diretor do Centro de Produtos de Tabaco da FDA, agência de drogas e alimentos dos Estados Unidos.
Enquanto os cigarros convencionais funcionam por combustão, nos eletrônicos ocorre a vaporização de um líquido, que geralmente contém nicotina, mas também pode ser aromatizado com outras substâncias. Na Europa e nos Estados Unidos, o novo produto foi apresentado como uma alternativa menos nociva ao cigarro tradicional, mas logo se verificou que não era só quem queria deixar de fumar que estava migrando para o produto. Milhões de pessoas, principalmente jovens que nunca haviam sido fumantes, passaram a usar os vaporizadores, iludidos por uma falsa sensação de segurança. Nos Estados Unidos, estima-se que 3,5 milhões de adolescentes sejam adeptos dos e-cigarros.
Antes do aparecimento do surto de doença pulmonar severa, vários estudos já apontavam para os perigos do cigarro eletrônico, como o aumento do risco de infarto agudo do miocárdio e de doenças respiratórias e pulmonares, a exemplo da asma. Além disso, há substâncias cancerígenas na composição.