A Secretaria Estadual de Saúde (SES) quer entender os motivos de um fenômeno que tem chamado a atenção de especialistas na área da saúde: a queda nos índices de vacinação entre crianças e o surgimento de movimentos antivacina. Por isso, a pasta contratou um instituto que fará uma pesquisa junto a pais de cidades gaúchas. O objetivo é entender os motivos que fazem com que pais deixem de vacinar os filhos.
A pesquisa quantitativa e qualitativa deve começar a ser feita em setembro, e a previsão é de que os resultados estejam disponíveis até o fim do ano. As entrevistas vão funcionar em moldes semelhantes aos de uma pesquisa eleitoral: os entrevistadores farão abordagem nas casas, nas ruas e em locais públicos para tentar identificar pais que tenham deixado de levar os filhos para imunização de alguma das doses do calendário básico de vacinação, oferecidas gratuitamente nos postos de saúde.
Entre os motivos possíveis, o governo do Estado identifica que notícias falsas, horário restrito de postos de saúde, motivos religiosos e medo dos efeitos colaterais podem estar fazendo com que os índices de vacinação caiam. Além disso, a análise tenta identificar se há pessoas orientadas por profissionais de saúde a não levarem os filhos para imunização.
A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica da SES, Tani Ranieri, explica que a menor circulação de doenças está diretamente relacionada à vacinação. O número de vacinas disponíveis no sistema público subiu de seis, na década de 80, para 21, que são oferecidas atualmente. O movimento contrário, de redução na imunização, pode ter sérias consequências:
— Em todo o Brasil, há uma queda nas coberturas vacinais do calendário infantil. Não existe uma vacina em especial, mas é um movimento. O que mais nos choca é perder aquilo que a gente tinha de mais precioso, que é a garantia de cobertura vacinal das crianças. Estamos vendo o ressurgimento de doenças que estavam em caráter de eliminação, e o caso do sarampo é o exemplo mais em evidência. Esta doença é altamente contagiosa e efetiva — alerta Tani.
As entrevistas serão feitas em todas as regiões do Estado, em aproximadamente 15 municípios. As cidades escolhidas foram as com percentuais mais baixos de imunização para a vacina pentavalente (que protege contra difteria, tétano, coqueluche, meningite e hepatite B). Como os detalhes do questionário e da logística ainda não foram definidos, a SES preferiu não informar o nome do instituto contratado.
Outro ponto que será analisado na pesquisa é a classe social dos pais que deixam de vacinar os filhos e a diferença de motivos para o problema em cada classe. A partir daí, serão traçadas estratégias para recuperar os índices de imunização:
— Sabendo as razões e como as pessoas se comportam, poderemos construir um plano e as nossas políticas públicas. Poderemos trabalhar as próximas campanhas para tentar trazer as pessoas de volta — diz Tani Ranieri.
Queda nos índices
A pesquisa que está sendo preparada vai focar nas vacinas oferecidas no calendário básico de vacinação infantil e também na vacina da gripe, ofertada anualmente em campanhas. Dados do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações, ligado ao Ministério da Saúde, mostram redução na proteção contra diferentes doenças.
Chama a atenção a diminuição do percentual de aplicação da vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo. Apesar de o vírus ter voltado a circular no Estado em 2018, o índice caiu nos últimos anos. Com a febre amarela, ocorreu o contrário: o percentual cresceu, já que, recentemente, passou a haver indicação de vacinação para o Rio Grande do Sul.