Se para alguns pais nove meses de preparo antes de o bebê nascer não são suficientes, imagine para alguém que tem apenas 19 dias? Foi o que aconteceu com Lana Maria Wigand e Arthur Felipe Wogram, ambos de 27 anos, moradores do Paraná. Eles descobriram que seriam pais dias antes de o filho vir ao mundo — o bebê nasceu no dia 23 de abril.
Em entrevista ao programa Encontro Com Fátima Bernardes, da Rede Globo, Lana afirmou que não teve sintomas típicos da gestação, como enjoos matinais, sensibilidade a cheiros e o crescimento da barriga. Outros fatores também contribuíram para que a moça sequer desconfiasse de uma gravidez, como a menstruação, que continuou normalmente, e o uso do anticoncepcional.
Após começar a sentir desconfortos abdominais, Lana decidiu ir ao hospital, onde foi encaminhada para uma ginecologista que a examinou e constatou a gravidez. Neste momento, o bebê já estava quase nascendo.
— Eu sentia dores e tomava remédios específicos para isso. Ele estava ocupando o espaço de outros órgãos, ficava cutucando. Depois eu fui descobrir que, como ele estava na minha costela, no canto, ele não cresceu para frente — explicou.
Como ocorre a gravidez silenciosa
Lana teve o que pode ser chamado de gravidez silenciosa. Ela ocorre quando a mulher não desconfia de que possa estar grávida e só descobre quando o bebê esta a dias de nascer, ou até mesmo só no momento do parto.
De acordo com uma publicação do British Journal of Medicine de 2002, a cada 2,5 mil gestações, uma será descoberta da forma como aconteceu com este casal. Segundo a ginecologista e obstetra especialista em medicina fetal Korine Camargo Ingracio, que trabalha no centro de diagnóstico médico Ecofetal, em Porto Alegre, algumas mulheres têm o ciclo menstrual bastante irregular, fazendo com que elas achem comum quando a menstruação não chega. Há, porém, os casos como os de Lana, em que a mulher continua sangrando normalmente, o que não significa que seja a menstruação.
Nos três primeiros meses de gravidez, o sangramento pode ser uma ameaça de aborto ou alguma causa de implantação, como a placenta estar se formando ou o saco gestacional estar se firmando no útero. Quando chega o segundo trimestre, o sangramento mais comum é o do colo do útero ou, nas pacientes que têm a placenta localizada perto dele, também pode haver sangramento durante toda a gestação. Chegando ao fim da gravidez, há possibilidade de sangramento pela posição da placenta ou por infecções vaginais, que são comuns de ocorrer por conta da baixa imunidade.
Engravidar enquanto se está fazendo o uso de anticoncepcional ou outros métodos contraceptivos também é possível, já que todos eles podem, eventualmente, falhar.
— Nenhum método anticoncepcional é 100%. A chance de falha da pílula é de 0,1%. Em números, a cada mil mulheres, uma vai engravidar. Quando não é tomada adequadamente, todos os dias e no mesmo horário, o risco de falhar é maior ainda — explica Korine.
Em relação ao não crescimento da barriga, há duas possibilidades: quandro o tronco da mãe é mais longo, fazendo com que o bebê cresça na transversal e o abdômen não fique tão grande, ou então quando a paciente está acima do peso, o que faz com que não se perceba que a barriga cresceu.
— Mas isso é bem raro. Acompanho gestantes todos os dias e, quando o parto está próximo, geralmente tem uma barriguinha, a menos que ela esteja tentando esconder de alguma maneira — diz a ginecologista.
Sendo assim, mesmo que não seja comum e cause dúvidas em muitas pessoas, a gravidez silenciosa pode ocorrer, combinando diversos fatores que colaboram para que a mulher pense que o que está acontecendo com seu corpo seja devido a outros fatores, e não uma gestação.