Treinos realizados anos atrás podem continuar influenciando e melhorando a saúde hoje. Foi o que concluiu um novo estudo fascinante sobre a vida atual e a saúde das pessoas que participaram de uma investigação sobre exercícios há uma década.
As descobertas sugerem que os benefícios do exercício podem ser mais persistentes do que muitos de nós imaginamos, mesmo se a intensidade com que é realizado hoje não for a mesma de antes. Os impactos, contudo, também dependem dos tipos e quantidades de atividades praticadas.
Na medicina, consequências prolongadas de experimentos à saúde, conhecidas como efeitos de legado, são comuns e geralmente notáveis. Participantes de estudos passados sobre a diabetes, por exemplo, que controlavam a glicemia rigorosamente com dieta, remédios e outros métodos, anos depois costumam ter uma saúde cardíaca melhor do que diabéticos que não participaram do estudo, mesmo considerando o aumento do nível de açúcar no sangue dos voluntários nesse ínterim.
Mas ainda não se sabe se estudos sobre práticas esportivas também produzem esses efeitos de legado, apesar da importância do assunto. Sabemos por outras áreas do conhecimento e por experiências pessoais desanimadoras que perdemos muita da nossa forma e benefícios associados à saúde se paramos ou reduzimos a quantidade de exercícios ao longo dos anos.
Mas será que todos aqueles ganhos desaparecem ou os exercícios nos afetam de uma maneira que perdura?
Foi isso que cientistas da Universidade Duke decidiram averiguar nessa nova análise publicada na revista "Frontiers in Physiology". A maioria dos pesquisadores esteve envolvida em um experimento de grande escala sobre exercícios, uma década atrás, chamado STRRIDE (sigla em inglês para estudos que buscam reduzir o risco de intervenções por meio de exercícios definidos).
Nesse experimento, realizado entre 1998 e 2003, centenas de voluntários, entre 40 e 60 anos, acima do peso e sedentários, foram divididos entre um grupo de controle, que permaneceu inativo, e um grupo que começou a se exercitar.
Os exercícios eram tanto moderados, como uma caminhada, como mais vigorosos, como uma corrida leve, e os participantes precisavam praticá-los até terem perdido, pelo menos, centenas de calorias por treino. Os voluntários completaram três sessões de treino toda semana durante oito meses, enquanto os estudiosos rastreavam mudanças no desempenho aeróbico, na pressão sanguínea, na sensibilidade à insulina e na circunferência da cintura. No geral, esses marcadores melhoraram apenas entre aqueles do grupo dos que se exercitaram, e não do de controle.
Os cientistas então se despediram e não entraram mais em contato com os participantes até quase uma década depois, quando procuraram os voluntários que ainda moravam perto de Duke e perguntaram se estariam dispostos a participar de um reencontro investigativo. Mais de 100 representantes de ambos os grupos concordaram.
Esses homens e mulheres voltaram ao laboratório para novos testes de aptidão aeróbica e saúde metabólica. Também responderam a questionários sobre sua atual situação médica, os medicamentos que tomavam e com que frequência se exercitavam por semana.
Em seguida, os pesquisadores passaram a comparar resultados e encontraram diferenças reveladoras. A maior parte dos homens e mulheres no grupo de controle, que não se exercitou há dez anos, agora apresentou uma cintura maior, enquanto os praticantes de atividades mostraram pouca ou nenhuma expansão da circunferência em comparação à situação de dez anos atrás.
Os indivíduos do grupo de controle também estavam em condições físicas piores. A maioria tinha perdido aproximadamente dez por cento da capacidade aeróbica, tipo de declínio típico observado após os 40 anos, quando a maioria de nós perde um por cento do preparo físico anualmente.
Entretanto, esses homens e mulheres que se exercitaram vigorosamente por oito meses durante o estudo STRRIDE mantiveram substancialmente mais aptidão física. A capacidade aeróbica deles, em média, caiu apenas cerca de cinco por cento, em comparação a quando ingressaram no estudo, e os poucos que relataram ainda se exercitar ao menos quatro vezes por semana estavam mais em forma agora do que há dez anos.
Interessante foi observar que os voluntários do STRRIDE que se exercitaram com caminhadas – uma forma moderada de exercício – pareceram não ter os mesmos benefícios físicos duradouros obtidos por aqueles que se exercitaram mais intensamente. A maioria perdeu 10 por cento da capacidade aeróbica na última década, assim como os do grupo de controle.
Por outro lado, eles mostraram melhorias persistentes e surpreendentes na saúde metabólica, ainda maiores do que as vistas entre indivíduos cujos exercícios foram mais vigorosos. Os caminhantes de dez anos atrás ainda apresentavam pressão sanguínea e sensibilidade à insulina mais saudáveis do que as observadas antes do início do estudo STRRIDE, mesmo que raramente se exercitassem agora. Eles também mostraram ter metabolismo mais saudável do que homens e mulheres que treinaram intensamente tantos anos antes.
Vistos em conjunto, os resultados sugerem que "o exercício é um modulador poderoso da saúde e alguns efeitos podem ser perduráveis", afirmou William Kraus, professor de medicina e cardiologia na Duke, responsável por supervisionar o novo estudo. No entanto, ele também disse que os efeitos podem ser diferentes, dependendo da intensidade do treino. Para desenvolver e manter a alta resistência, talvez tenhamos de suar e nos esforçar. Já para melhorar a saúde do nosso metabolismo, uma caminhada provavelmente dará conta do recado.
Claro, essa pesquisa não explica como o exercício altera o corpo de maneira duradoura. Em parte, podemos estar construindo uma reserva fisiológica, Kraus explicou. Aumentar a capacidade aeróbica ou a sensibilidade à insulina com exercício, mesmo que este diminua ao longo dos anos por inatividade e idade, será melhor para nós do que se nunca tivéssemos praticado uma atividade física.
Kraus também argumentou que exercícios, provavelmente, também deixam marcas perenes em genes e células que afetam a saúde. Com seus colegas, ele espera investigar tais temas em estudos futuros, para que possamos compreender melhor como exercícios realizados no passado podem ecoar pelo nosso corpo e se refletir no futuro.
Por Gretchen Reynolds