Perda de memória e morte de neurônios são alguns dos problemas associados ao uso indiscriminado do metilfenidato, mais conhecido pelo nome comercial de Ritalina. Por se tratar de um estimulante do sistema nervoso central, o fármaco é indicado para tratar casos de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Nos últimos anos, o uso exacerbado, tanto por diagnósticos equivocados quanto para fins de melhora do desempenho nos estudos ou no trabalho, tem acendido o alerta de pesquisadores e profissionais da saúde. Atualmente, o Brasil é o segundo país do mundo que mais consome o medicamento, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
Com o intuito de avaliar os possíveis efeitos da droga em pessoas saudáveis com o sistema nervoso central em desenvolvimento, pesquisadores do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizaram testes em cultura de células e animais de laboratório. O estudo fez parte da tese de doutorado de Felipe Schmitz, orientando da professora Angela Wyse, do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS.
Para obter os resultados, foram medidos parâmetros neuroquímicos e comportamentais em ratos que receberam a droga dos 15 dias de vida, o que equivaleria à idade de uma criança entre quatro e seis anos, até os 45 dias, o que corresponderia à adolescência.
— Tanto nos testes de memória espacial quanto no de reconhecimento de objetos, eles apresentaram déficit de memória. Isso sugere que o uso indeterminado do medicamento na fase de desenvolvimento pode acarretar em perda da memória em longo prazo — explicou a docente.
Esses dados provavelmente foram consequência de uma série de fatores: a droga reduziu o ATP, que é a moeda energética das nossas células e é fundamental para o cérebro exercer suas funções; matou neurônios e astrócitos, que são células que desempenham funções muito importantes, como a sustentação e nutrição dos neurônios; induziu inflamação e estresse oxidativo, diminuiu fatores de crescimento, além de alterar a sinalização celular e diminuir a mTor, que é uma proteína muito importante na regulação da síntese proteica, exercendo papel importante nos mecanismos da memória.
— Nosso objetivo não é medir a eficácia do medicamento para o transtorno, mas, sim, o efeito da droga em pessoas sem diagnóstico — disse Angela, acrescentando que novas pesquisas da universidade devem continuar elucidando os efeitos do metilfenidato no SNC e em outros sistemas como o muscular.
O trabalho com as culturas de células foi realizado nos Estados Unidos, durante o doutorado-sanduíche de Schmitz na Universidade de Nova York, sob a orientação do professor Moses V. Chao.