O caso do idoso de 88 anos que saiu de carro de Passo Fundo, no Norte, e foi encontrado cerca de 12 horas depois, nesta terça-feira (13), em São Borja, na Fronteira Oeste, a mais de 400 quilômetros de distância, reacendeu o alerta sobre os efeitos do Alzheimer. A dificuldade em se localizar no tempo e no espaço, o esquecimento de tarefas cotidianas e as falhas frequentes de memória são sintomas comuns da primeira fase da doença.
O Alzheimer ocorre quando os neurônios e as conexões entre eles (sinapses) começam a morrer progressivamente até afetar a cognição do indivíduo. A causa da doença ainda não foi identificada, mas a ciência já notou que há um acúmulo, na região, de duas proteínas – a beta-amiloide e a tau.
A hipótese é de que o sistema nervoso central processa as duas substâncias de forma errada a ponto de gerar "restos" que se acumulam até afetar o funcionamento das células cerebrais e de suas conexões.
No cérebro, a primeira região afetada é o hipocampo, responsável pela localização espacial e pela linguagem. É por isso que, entre os sintomas comuns, além dos problemas para se orientar espacialmente, está a dificuldade em encontrar palavras em diálogos do dia a dia.
De acordo com o neurogeriatra e professor de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Matheus Roriz, o fato de o idoso sair para caminhar e se perder não significa necessariamente que ele não sabe o local de casa – pode indicar que ele apenas não recorda como chegar ou sair de lá.
— Se a pessoa sai caminhando automaticamente, chega um momento em que ela não reconhece o local em que se encontra. Assim, tem problemas para criar uma estratégia de retorno ao local de origem — explica.
É o que pode ter acontecido com o idoso que saiu com seu veículo de Passo Fundo. Para Roriz, é importante que familiares criem estratégias a fim de saber onde o idoso pode estar.
— Hoje, muitos objetos considerados comuns possuem sensores de localização que poderiam ajudar, incluindo veículo, celular, relógio e até sapato. Na impossibilidade dessas alternativas, é bom que a pessoa tenha uma pulseira com nome, endereço ou cartões com telefones na roupa — indica.
Para evitar que a pessoa com Alzheimer se perca, evite deixar as chaves de casa sempre no mesmo lugar – o indivíduo perceberá e irá pegá-las na hora de sair. Vale também ter mais de uma porta de entrada para dificultar a saída do idoso, usar mais de um cadeado e instalar um alarme para alertar o cuidador.
Conforme a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), cerca de 1,2 milhão de brasileiros têm a doença, quase o equivalente à população de Porto Alegre, de 1,4 milhão. Caso você encontre uma pessoa que pareça perdida, tente conversar assuntos cotidianos e questione como ela está e se precisa de ajuda. Caso o indivíduo não entre na conversa e mesmo assim você perceba algo errado, insista em perguntas corriqueiras. Questione nome, idade e ano em que nasceu. Outra opção é indagar sobre o tempo presente:
— Uma das perguntas que podem ajudar a identificar a doença é questionar o mês em que estamos. Salvo que seja 31 ou 1º do mês seguinte, pessoas sem Alzheimer sabem pelo menos o mês. Dia e ano podem causar confusões em pessoas idosas saudáveis — ressalta.