A reaproximação entre o governo do Estado e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) deve render projetos em áreas como atenção ao idoso, economia criativa e atendimento à infância. Atuante nas principais unidades da federação, a Unesco estava distante do Rio Grande do Sul havia uma década. Duas semanas atrás, a convite do governador Eduardo Leite, a representante da entidade no Brasil, Marlova Noleto, esteve em Porto Alegre para retomar a parceria. Em dois dias de reuniões, esteve com o governador e com secretários estaduais. Novos encontros, com a equipe técnica da agência, vão ocorrer em Brasília.
A ideia é que a Unesco colabore na elaboração de projetos educacionais, culturais, de saúde e de direitos humanos. Segundo Marlova, o governo do Estado definirá suas prioridades, e a instituição da ONU fornecerá apoio técnico, usando como referência iniciativas de excelência em que está envolvida mundo afora.
— Os projetos serão formulados em parceria, aproveitando a expertise da Unesco e a expertise local. É com muita alegria que acolhemos o desejo do governador de trabalhar conosco e que colocamos todo nosso conhecimento à disposição do Rio Grande do Sul — disse Marlova.
A diretora da Unesco antecipou algumas das ideias que foram colocadas na mesa. Na área da saúde, por exemplo, a agência deve ajudar a consolidar uma proposta de atendimento ao idoso apresentada pela secretária estadual Arita Bergmann.
— Ela quer trabalhar um conceito inspirado nos jardins de infância. Seriam espaços onde os idosos teriam atendimento, com acesso a esporte, lazer e cultura. Vamos ver modelos similares que existam e buscar projetos de excelência para dar forma a essa concepção da secretária Arita — explicou Marlova.
Outra possibilidade é trazer ao Rio Grande do Sul uma versão do projeto de promoção de cultura de paz no trânsito, implantado no Distrito Federal com suporte da Unesco. A iniciativa envolve capacitação de agentes públicos e apoio na formação dos condutores.
— O assunto foi discutido, e o governador Eduardo Leite mostrou interesse — revela Marlova.
A Unesco pode ainda, segundo sua representante no Brasil, ajudar o governo do Estado a obter financiamentos para alguns projetos. Mas ela destaca que o importante é tirar o máximo dos recursos disponíveis:
— Existem projetos inovadores que podem fazer diferença e transformar a realidade. Nem sempre é uma questão de mais recursos. Muitas vezes, é uma questão de, com os mesmos recursos, alavancar esses projetos que fazem a diferença. Isso significa, muitas vezes, fazer choque de gestão, avaliação diagnóstica precisa, estudos e pesquisas que demonstrem o que precisa ser feito, encontrar pessoas com expertise. A Unesco quer usar o conhecimento que tem para contribuir nessa transformação.
Leite determinou que a Secretaria de Planejamento centralize os projetos que serão tocados em parceria com a Unesco.
— Vamos determinar quais são as prioridades do governo e as levaremos até vocês, que têm o conhecimento técnico especializado, para conseguirmos, juntos, recursos via cooperação internacional — disse o governador à equipe de Marlova.
As propostas
Marlova Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil, apontou quatro projetos que devem ser desenvolvidos em parceria com o governo gaúcho:
Jardim da terceira idade
A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, apresentou a ideia de inspirar-se nos jardins de infância para criar espaços de atendimento à população idosa. Segundo Marlova, poderiam ser oferecidas atividades esportivas, culturais e de lazer nessas estruturas. Ainda não se sabe em que tipo de estabelecimento seriam oferecidos os serviços. A Unesco vai buscar exemplos internacionais de excelência que ajudem a dar subsídios para formatar o projeto.
Primeira Infância Melhor (PIM)
O PIM existe no Estado desde 2003 e, na sua origem, teve apoio da Unesco. Atende gestantes e crianças em situação de vulnerabilidade social, por meio de visitas domiciliares semanais. O objetivo, segundo Marlova, é que a Unesco possa ajudar a aprimorar o programa por meio de projetos para a capacitação dos visitadores.
Economia criativa
A Unesco tem apostado em projetos de geração de renda a partir do patrimônio cultural e histórico das comunidades. Segundo Marlova, é possível investir em artesanato, revitalização de centros históricos, rede hoteleira, circuitos gastronômicos e promoção de visitas turísticas para dinamizar a economia. No Rio Grande do Sul, ela cita as Missões como uma região que necessita de uma revitalização nessa linha.
— A ideia é descobrir como a cultura pode ajudar a revitalizar a economia local — diz.
Paz no trânsito
A Unesco se disponibiliza a trazer para o Rio Grande do Sul um projeto para promoção de uma cultura de paz no trânsito desenhado em parceria com o governo do Distrito Federal. Segundo Marlova, trata-se de um projeto único por capacitar tanto agentes de trânsito como motoristas, que recebem formação a partir do processo de habilitação para dirigir. Nesse projeto, a Unesco contribui com cursos de capacitação e materiais didáticos.