O Hospital Casa de Saúde, de Santa Maria, se vê frente a uma preocupante situação: a possibilidade de suspensão dos atendimentos nos serviços de maternidade, que atendem usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) de mais de 30 municípios do centro do Estado, devido à delicada situação financeira da instituição.
A direção do hospital – que é de propriedade do município, mas tem a gestão feita por meio de um convênio com a Associação Franciscana de Assistência à Saúde (Sefas) – afirma que faltam recursos para contratar mais pediatras para o setor de maternidade. Hoje, o hospital tem apenas um pediatra que atua em regime de sobreaviso.
— Precisaria ter uma equipe de plantão presencial de pediatras, que estamos nos estruturando para ter. Esse plantão teria que ser formado por sete a oito pediatras e não temos dinheiro suficiente para isso. (Hoje), há o risco real de a gestante ter o bebê e não ter o médico (pediatra) aqui —destaca Rogério Carvalho, administrador do Casa de Saúde.
Carvalho diz que o Estado faz repasses mensais de R$ 65 mil para custear os serviços de maternidade. O que, conforme ele, não paga nem a metade dos custos para realizar os atendimentos. Seriam necessários mais R$ 170 mil para custear os serviços na integralidade, segundo o administrador. Diante do cenário, para bancar os atendimentos, o Casa de Saúde tem aumentado o endividamento próprio, que já chega a R$ 5 milhões e é referente a financiamentos bancários.
— O repasse que recebemos não paga nem o plantão obstétrico. Sem falar no restante da equipe. O Estado sabe da situação (financeira do Casa) e estamos há mais de ano conversando e, infelizmente, não temos como conversar mais. É algo que ou nós resolvemos, ou teremos que deixar de prestar o serviço — alerta Carvalho.
Estrutura
A maternidade do hospital tem 18 leitos e, quando atua com todos os profissionais, chega a atender de 70% a 80% da capacidade. A preocupação, de acordo com Carvalho, é que, sem recursos financeiros e sem a contratação de mais profissionais, o Casa de Saúde siga sem conseguir dar toda retaguarda necessária para atendimento de baixo risco. Assim, o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) - outra referência, por meio do SUS, em obstetrícia - seguirá superlotado, na avaliação do administrador da Casa de Saúde.
Histórico
Em novembro do ano passado, a maternidade do Hospital Casa de Saúde fechou por quatro meses, após os médicos obstetras suspenderem os serviços, já que estavam com os salários atrasados. À época, o hospital alegou que não fazia o pagamento porque o governo do Estado não estava realizando os repasses à instituição em tempo hábil.
Universitário superlotado
Há quase um mês, o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) enfrenta superlotação no Centro Obstétrico e na UTI Neonatal. Desde o dia 28 de setembro, a instituição atende apenas gestantes de alto risco e tem a UTI Neonatal fechada. Na manhã desta sexta-feira (19), o Centro Obstétrico tem 20 gestantes internadas, 10 a mais do que a quantidade de leitos. Além disso, o setor conta com um recém-nascido no local, já que a UTI Neonatal - também superlotada - tem dois pacientes a mais internados e não tem condições de receber mais bebês.
— As mulheres chegam aqui porque não tem para onde ir. Peregrinam em diferentes hospitais, não são atendidas e acabam batendo na porta já na fase de nascimento e não temos como deixar elas abandonadas. É um ciclo vicioso que não interrompemos nunca, porque o responsável por isso não toma uma atitude, parece que não tem zelo nenhum pelos cuidados das gestantes — destacou a gerente de atenção à Saúde do Husm, Soeli Guerra, em uma crítica ao governo do Estado.
De acordo com Soeli, o Husm tem tentado buscar alternativas junto ao Estado e não obtém retorno. A situação, conforme ela, é crítica e preocupante, já que pode trazer riscos, como maior número de infecções aos pacientes:
— Ele (Estado) simplesmente não responde aos nossos comunicados, nossos pedidos de socorro. O que fazemos é informar no sistema e suspender a recepção de pacientes.
O Husm – que é administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e recebe recursos da União – é referência para 45 municípios das regiões central e fronteira-oeste. Soeli reitera que, na última quinta-feira (18), um novo comunicado foi emitido pela instituição reforçando as medidas já adotadas.
Sem dinheiro
Questionado por GaúchaZH sobre a situação dos dois hospitais, o titular da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), Roberto Schorn, disse que há tratativas na tentativa de resolver o problema e que ainda não há solução, já que o maior entrave, conforme ele, é a questão financeira:
— Estamos em tratativas com os hospitais. O problema acaba sempre em dinheiro. Os hospitais querem mais dinheiro, e o Estado não tem para bancar. Já pedi audiência em Porto Alegre para pedir ajuda.
A reportagem também questionou a Secretaria Estadual de Saúde (SES) sobre possíveis alternativas e incrementos nos repasses ao hospital. A assessoria de imprensa da SES se limitou a encaminhar o seguinte texto:
"Dentro do Plano de Regionalização do Parto, o Hospital Universitário de Santa Maria, além dos partos de risco habitual, deve atender todos os casos de alto risco. No caso da Casa de Saúde o hospital é referência para partos de risco habitual. Quanto à UTI, os casos são cadastrados na Central Estadual de Regulação, que recebe as solicitações e busca leitos em outros hospitais onde houver disponibilidade."