Meses atrás, em uma recepção na minha casa, comecei a conversar com mulheres de meia idade, entre elas algumas que eu mal conhecia. Depois de apresentações breves, a conversa rapidamente se voltou para um tópico que se tornou comum entre mulheres da minha idade: a menopausa. Desta vez, porém, ignoramos as ondas de calor e pulamos diretamente para o sexo.
No entanto, foi apenas quando um convidado do sexo masculino se aproximou e perguntou sobre o que estávamos conversando que o foco se tornou mais nítido.
— Hum, vaginas ressecadas — disse uma amiga.
Ele não se afastou.
Cerca de metade das mulheres na menopausa sofre de ressecamento vaginal e intercurso doloroso. No entanto, menos da metade delas procura ajuda. Segundo os médicos, para muitas, o desconforto chega de maneira tão insidiosa que não ligam o problema às mudanças hormonais da menopausa.
Quando o estrogênio cai durante a menopausa, o revestimento vaginal se afina. Além das células vaginais, o estrogênio influencia as células que revestem a uretra, a bexiga e a vulva, explica a doutora Stacy Lindau, professora de obstetrícia e ginecologia da Universidade de Chicago e diretora do WomanLab, site que fala de questões sobre saúde sexual feminina.
— Quando o estrogênio está fazendo o seu trabalho, ele melhora o fluxo sanguíneo e mantém a elasticidade da vagina — diz ela.
As mudanças hormonais também alteram os tipos de bactérias "boas" que residem no revestimento vaginal, modificando o nível de acidez. O resultado é um ambiente interno mais seco e mais rígido. E, ao contrário das ondas de calor, que desaparecem em alguns anos para cerca de 80% das mulheres, a secura vaginal tende a piorar.
Apesar de os médicos poderem avaliar a aparência do revestimento vaginal e medir o fluxo sanguíneo e a acidez, os resultados dos testes às vezes não refletem os sintomas. Algumas pacientes que parecem ter uma vagina que causaria dor não sentem qualquer desconforto, enquanto outras apresentam exames saudáveis, mas relatam sofrimento.
— Devemos nos interessar apenas pelos sintomas — afirma Caroline Mitchell, diretora do programa de distúrbios vulvovaginais do Hospital Geral de Massachusetts (EUA). — A boa notícia é que muitas coisas podem ajudar e, para a maioria das pessoas, a situação vai melhorar.
Ela acrescentou que, infelizmente, nem todas conseguem 100% de alívio.
As opções de tratamento incluem lubrificantes, aplicados logo antes da relação sexual, para reduzir a sensação de areia na vagina; hidratantes, usados cerca de três vezes por semana para manter a vagina úmida; e estrogênio, que envolve o revestimento da parede vaginal. O estrogênio é fornecido em doses sistêmicas — tomado como uma pílula oral, um adesivo ou um gel. Ou formulado como uma dose que fica principalmente na vagina — como um comprimido vaginal, um creme ou um anel.
Recentemente, a Administração de Alimentos e Medicamentos aprovou o Intrarosa, um supositório vaginal que contém DHEA, desidroepiandrosterona, um hormônio que é convertido em estrogênio dentro das células e que pode diminuir a dor, segundo a doutora Mary Jane Minkin, obstetra e ginecologista da Universidade Yale.
Um estudo recente de 12 semanas publicado no periódico Jama Internal Medicine com 302 mulheres na pós-menopausa descobriu que o estrogênio (na forma do comprimido vaginal Vagifem) proporcionou alívio de maneira tão eficaz quanto um hidratante vaginal (Replens), um comprimido placebo ou um gel.
— O estrogênio não é uma espécie de milagre para todas, embora para algumas, acho que seja ótimo — afirma Mitchell, que liderou o estudo.
Sobre os tratamentos testados, Lindau diz:
— A questão não é que eles não fizeram nada, e sim que todos tiveram algum resultado.
Certas terapias alternativas são populares, mas não há provas de que funcionem. Comer iogurte rico em probióticos, por exemplo, é um remédio comum, mas não altera a flora vaginal.
— Parece uma boa ideia, mas as bactérias não são as mesmas da vagina, então isso não vai ajudar — explica Mitchell.
Existem sites que vendem duchas de maconha ou canabinoides tópicos, o ingrediente ativo da maconha, que alegam lubrificar a vagina. Mas nenhum estudo mostra que eles realmente alteram o microbioma vaginal ou são eficazes, embora altas doses possam entrar na corrente sanguínea e proporcionar algum relaxamento, de acordo com Mitchell.
A terapia a laser MonaLisa Touch está sendo oferecida como uma maneira sem hormônios de reverter o ressecamento vaginal, mas não há estudos de longo termo randomizados que provem sua eficácia para essa finalidade.
— Não analisamos nem aprovamos esses dispositivos para o uso nesse tipo de procedimento – afirmou em uma declaração o doutor Scott Gottlieb, comissário da FDA.
Lindau acrescenta que o intercurso doloroso nem sempre é resultado de alterações hormonais. Algumas mulheres estão secas apenas porque usam muito sabão.
— Essa atividade hiper-higiênica (muita lavagem e limpeza). Não há uma boa razão para usar sabonetes, certamente não na vagina ou na vulva — diz ela.
Outras mulheres podem sentir dor apenas na abertura da vagina, capaz de ser aliviada com uma pomada de lidocaína, um creme anestesiante. O intercurso doloroso também pode ser causado por espasmos na abertura da vagina ou por crescimentos anormais.
Uma mulher de 78 anos ficou surpresa ao descobrir que a relação sexual melhorou muito após sua recente cirurgia de substituição do quadril. O que ela achava que eram problemas vaginais era, na verdade, um desconforto causado pela dor no quadril.
Problemas sexuais também podem surgir, é claro, de questões no relacionamento.
— Não quero que a reação automática seja que todas as queixas vaginais precisam ser tratadas com estrogênio, embora o baixo nível de estrogênio seja uma causa comum de comichão e secura — diz Lindau.
Ela sugere que as mulheres experimentem as terapias existentes – e deem a cada uma delas uma boa chance.
Com certeza, não faz muito tempo que as mulheres quebraram o tabu da menopausa e começaram a compartilhar experiências sobre as ondas de calor junto com os prós e contras da terapia hormonal. Agora que as mulheres na menopausa estão mais dispostas a falar sobre a secura vaginal, começaram a procurar ajuda — mas muitas vezes não tão rapidamente. Então, o que começa como uma questão hormonal também pode se transformar em um problema de relacionamento.
— As mulheres foram levadas a acreditar que, se fossem mais gentis com seus parceiros ou um pouco menos ansiosas, a secura vaginal desapareceria — explica Lindau. — Mas, com mais frequência, são as mudanças físicas da menopausa que estão causando esses problemas, e elas são tratáveis.
Por Dra. Randi Hutter Epstein