A história que mudou a vida da americana Katie Stubblefield, de 22 anos, começou no dia 18 de março de 2014, mas foi apenas quatro anos depois que ela ficou conhecida no mundo inteiro, ao estampar a capa da edição de setembro da revista National Geographic.
Após mudar de cidade, enfrentar problemas de saúde e terminar um relacionamento, Katie decidiu tirar a própria vida com um tiro de rifle no rosto. O disparo não causou o efeito esperado, mas a deixou com a face completamente desfigurada. A testa, o nariz, a boca e parte da mandíbula e do maxilar foram danificados. Os olhos permaneceram, mas os nervos ópticos foram gravemente afetados.
Em maio de 2017, quando Katie tinha apenas 21 anos, ela se tornou a mulher mais jovem nos Estados Unidos a passar por um transplante facial. A cirurgia aconteceu na Clínica Cleveland, nos Estados Unidos, e já é considerada um sucesso da medicina de ponta.
A espera para receber um novo rosto não foi fácil para Katie, três anos se passaram até que um doador compatível fosse encontrado. Após ser internada por diversas vezes durante este período, a jovem finalmente encontrou a doadora de seu novo rosto, uma mulher de 31 anos chamada Andrea Schneider, que morreu após uma overdose de drogas dias antes da operação de Katie.
Foi a vó de Andrea quem tomou a decisão de doar o rosto de sua neta para Katie. Ela também doou coração, pulmões e fígado, o que ajudou a salvar outras vidas pelo país.
A fim de estudar a cirurgia e em um esforço de melhorar o tratamento para militares feridos em batalha que voltam ao país com ferimentos semelhantes, o Departamento de Defesa dos EUA resolveu financiar por meio do Instituto de Medicina Regenerativa das Forças Armadas o transplante de Katie. Dessa forma, ela se tornou uma espécie de experimento para o tratamento de lesões faciais causadas por disparos de arma de fogo.
Mas esse não foi o fim das visitas constantes da jovem ao hospital. Mesmo após a cirurgia, ela ainda teve de passar por diversas operações corretivas, como reposicionamento dos olhos e implantação de um dispositivo para alongamento ósseo, além de encarar meses de reabilitação.
Atualmente, Katie ainda faz uso de medicações que reduzem o risco de rejeição do transplante, e assim será pelo resto de sua vida. Ela também faz sessões com fonoaudiólogo e aulas de braile.
Primeiro de transplante de rosto realizado no mundo
Em 2005, a francesa Isabelle Dinoire foi a primeira pessoa no mundo a receber um transplante de rosto. A cirurgia trouxe grandes esperanças para a medicina, que conseguiria ajudar vítimas de acidentes de trânsito, queimaduras e pessoas baleadas.
Isabelle morreu aos 49 anos, em 2016, de câncer. De acordo com o jornal francês Le Figaro, o corpo dela rejeitou o transplante em 2015 e "ela perdeu em parte o uso dos lábios". As drogas imunossupressoras que ela precisava tomar diariamente teria deixado seu organismo vulnerável à doença.
Apesar do entusiasmo inicial, o risco de rejeição dos tecidos vindos de doadores falecidos continua sendo muito alto. Por isso, os transplantes faciais ainda são um grande desafio para a medicina.