Sozinho, o exercício provavelmente não é suficiente para alcançarmos e mantermos uma boa saúde. Também devemos tentar passar menos tempo sentados, segundo um novo artigo fascinante sobre os efeitos fisiológicos separados que os exercícios e as atividades leves, quase incidentais, como ficar de pé, podem ter em nossos corpos.
Por enquanto, sabemos que atividades físicas regulares são boas para nós. As diretrizes nacionais de exercícios dos Estados Unidos, baseadas em uma grande quantidade de evidências científicas, recomendam pelo menos 150 minutos de exercícios moderados por semana para aumentar nossa expectativa de vida e reduzir os riscos de termos uma variedade de doenças.
Na prática, isso significa quase 30 minutos diários de exercícios que devem ser rápidos o suficiente para elevar os batimentos cardíacos e nos deixar sem fôlego.
Fazer exercícios 30 minutos por dia, porém, nos deixa com muito tempo para outras atividades, a principal delas (além de dormir) tende a ser estar sentado. Um trabalhador de escritório típico pode facilmente passar mais de 10 ou 11 horas por dia em uma cadeira, segundo estudos de como gastamos nosso tempo.
Esses longos períodos que passamos sentados têm sido associados a vários problemas de saúde, incluindo o aumento do risco de diabetes, da obesidade e dos índices de colesterol. Ainda não temos certeza, no entanto, se uma única sessão de exercícios na maioria dos dias pode reduzir ou cancelar essa ameaça ou se também precisamos encontrar maneiras de passar menos tempo sentados.
Assim, para um novo estudo publicado em junho na Scientific Reports, os pesquisadores da Universidade de Maastricht, na Holanda, decidiram pedir a vários grupos de homens e mulheres que alterassem suas vidas temporariamente para ajudar a ciência. Alguns dos 61 adultos que os cientistas recrutaram estavam com o peso normal e com saúde, outros estavam acima do peso e outros ainda eram obesos e diabéticos. Nenhum deles se exercitava regularmente.
Os cientistas convidaram esses homens e mulheres para o laboratório de desempenho da universidade e testaram vários marcadores de saúde cardíaca e metabólica, incluindo a resistência à insulina e os níveis de colesterol. Então, os pesquisadores pediram para que cada voluntário completasse três sessões distintas de quatro dias de estilos de vida calculadamente exagerados.
Na primeira sessão de quatro dias, os homens e as mulheres tiveram que passar 14 horas por dia sentados, com intervalos apenas para ir ao banheiro. Durante a segunda das sessões de quatro dias, eles substituíram uma hora do tempo em que os voluntários passaram sentados por exercícios, pedalando uma bicicleta ergométrica em um ritmo moderado por uma hora. As outras 13 horas, eles passaram sentados.
Para a terceira sessão de quatro dias, ficaram sentados por cerca de oito horas por dia, mas passaram as outras cinco ou seis horas de seu tempo acordado em pé ou passeando em um ritmo leve. As calorias queimadas durante essas atividades, andar de bicicleta, ficar de pé e caminhar devagar, foram praticamente as mesmas. Após cada bloco de quatro dias, os cientistas repetiram os testes de saúde feitos no início e depois os compararam.
Os resultados variaram de maneira esclarecedora após cada sessão. Depois de passar quatro dias sentados, os homens e as mulheres apresentaram maior resistência à insulina e alterações indesejáveis nos níveis de colesterol. Eles também tinham marcadores sanguíneos que mostravam alterações prejudiciais em suas células endoteliais, que revestem os vasos sanguíneos, incluindo as artérias; quando essas células não são saudáveis, o risco de doença cardíaca aumenta.
Assim, os quatro dias sentados ininterruptamente pareciam estar minando a saúde metabólica e cardíaca dos voluntários, inclusive daqueles que não apresentavam sintomas de problemas metabólicos no início. No entanto, depois dos quatro dias que incluíram ciclismo moderado, os voluntários mostraram uma melhora na saúde das células endoteliais, quando comparados com o período das sessões em que ficaram o tempo todo sentados. Seus níveis de sensibilidade à insulina e o colesterol permaneceram inalterados.
Por outro lado, os níveis de insulina e colesterol ficaram melhores depois de quatro dias em pé ou andando por pelo menos cinco horas por dia, descobriram os cientistas. Mas a saúde das células endoteliais dos voluntários não se alterou. A atividade leve parece não ter afetado esse marcador de saúde cardíaca.
No geral, os resultados sugerem que os exercícios e o ato de ficar em pé têm efeitos distintos no corpo, segundo Bernard Duvivier, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Maastricht, que liderou o estudo. O exercício moderado parece melhorar a saúde endotelial e cardíaca, diz ele, provavelmente, em grande parte, ao aumentar o fluxo de sangue pelos vasos sanguíneos.
Ficar de pé, por outro lado, pode ter um impacto mais pronunciado e positivo no metabolismo, afirma, talvez por aumentar o número de contrações musculares que ocorrem durante o dia. Músculos ocupados queimam o açúcar do sangue para obter combustível, o que ajuda a manter os níveis de insulina estáveis e liberam substancias químicas que podem reduzir o colesterol ruim.
O estudo foi pequeno, com cada sessão durando apenas quatro dias. Mas mesmo assim, as descobertas são convincentes, afirma Duvivier, especialmente para aqueles que estão sempre sentados em frente a uma escrivaninha.
— As pessoas precisam entender que apenas fazer exercício moderadamente não é o suficiente e que também é preciso reduzir o tempo que passamos sentados — explica ele.
Por Gretchen Reynolds