Poucos são os pais que matriculam os filhos para fazer esporte com a expectativa de que eles se machuquem; entretanto, é exatamente o que acontece, e com frequência. Às vezes, são lesões que podem deixar os jovens atletas de molho por vários meses, ou até a temporada inteira, e comprometer até o futuro. E seus efeitos também podem se prolongar até a idade adulta.
— A contusão é considerada uma parte inevitável do esporte, mas, como qualquer outra, oferece toda a possibilidade de ser prevenida — segundo Terry A. Adirim, especialista em medicina esportiva que hoje trabalha no setor de saúde do Departamento de Defesa dos EUA, e Tina L. Cheng, diretora de Pediatria da Faculdade de Medicina Johns Hopkins.
De acordo com o artigo escrito por ambas para a publicação especializada Sports Medicine, a redução dos riscos de lesão exige que se leve em consideração as diferenças físicas e fisiológicas entre as crianças e os adultos, distinção essa que pode tornar os mais novos mais vulneráveis. As crianças têm uma área de superfície mais ampla e a cabeça maior em relação ao tamanho do corpo; suas cartilagens, em processo de crescimento, estão mais suscetíveis ao estresse; à maioria ainda falta "as habilidades motoras complexas necessárias para a prática de certos esportes, que só se desenvolvem após a puberdade".
Em um guia de segurança para jovens atletas, a Academia Norte-Americana de Cirurgiões Ortopédicos observa que "os ossos, músculos, tendões e ligamentos das crianças ainda estão em processo de expansão", o que as torna mais suscetíveis aos ferimentos. As placas de crescimento, ou cartilagens na extremidade dos ossos longos onde ocorre o desenvolvimento ósseo, são especialmente suscetíveis a ferimentos que podem interromper esse processo.
"A entorse de tornozelo que pode causar uma distensão em um adulto, no jovem atleta pode resultar em uma fratura séria da placa de crescimento", enfatiza a organização. Além disso, a criança não tem o mesmo nível de coordenação, força e energia de um adulto.
Muitos pais querem que os filhos se beneficiem da participação esportiva, pois além de facilitar a socialização com jovens da mesma idade e melhorar a autoestima, ela estimula, de forma geral, a saúde e a densidade óssea da criança, sem contar a redução do risco de sobrepeso, diabete, doenças cardiovasculares, depressão, comportamento inconsequente e da gravidez adolescente, como observa Cynthia Bella, ortopedista pediátrica da Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, e uma das autoras de um editorial sobre prevenção de lesões esportivas em jovens para o British Journal of Sports Medicine.
Assim, o objetivo deve ser tomar quaisquer medidas necessárias para que se evitem as lesões atléticas, ou pelo menos minimizar sua gravidade, e manter a garotada na ativa. Em primeiro lugar e acima de tudo, os pais e treinadores devem criar um clima de competição saudável, com ênfase na cooperação, autoconfiança e diversão pura e simples, e não apenas na vitória. A criança tem que saber como lidar com a derrota também.
Em segundo, todos os jovens atletas devem estar na melhor condição física para a prática do esporte de sua escolha, o que significa começar com o exame médico que pode revelar problemas em potencial, e então seguir um programa de condicionamento com acompanhamento que requer a realização de exercícios apropriados.
Toda criança deve conhecer as regras do jogo e obedecê-las, sempre usando equipamento de proteção; os jogos devem começar com um aquecimento para evitar danos aos tecidos "frios". O descanso adequado anterior à prática é sempre importante – jogador cansado não pensa com clareza nem joga bem –, assim como é essencial a hidratação adequada durante toda a partida.
Vale também mencionar a importância da boa nutrição; crianças com deficiência de vitamina D, por exemplo, têm pelo menos 3,5 vezes mais probabilidades que as normais de sofrerem fraturas que exijam cirurgia reparadora, como apontou Pooya Hosseinzadeh, ortopedista pediátrica da Universidade Washington de St. Louis, em encontro recente da categoria. Em seu estudo com cem jovens que sofreram fratura no antebraço em consequência de baixo impacto (como a queda de uma altura igual ou superior à do próprio atleta), 49% eram deficientes em vitamina D, e metade exigiu cirurgia.
Em entrevista, a médica disse:
— Hoje em dia as crianças não ficam mais tão expostas ao sol, não consomem frutos do mar em quantidades adequadas, nem leite fortificado, que são as principais fontes de vitamina D. Quando o nível do mineral está baixo, a absorção do cálcio fica comprometida e o corpo "rouba" o mineral dos ossos para manter um nível sanguíneo apropriado. O resultado é que a ossatura fica mais fraca e se quebra com mais facilidade.
Elizabeth Matzkin, cirurgiã ortopédica e diretora de Medicina Esportiva Feminina do Brigham & Women's Hospital de Boston, também enfatizou a importância de comer bem.
—A energia que entra deve ser adequada para o volume de energia gasta. Do contrário, a saúde dos ossos pode sofrer e o resultado são lesões consequentes do estresse. Você só consegue criar um 'banco ósseo' até os 25 anos de idade; ninguém vai querer as crianças começando a vida adulta em desvantagem.
Talvez as lesões mais comuns entre os jovens atletas sejam as consequentes de excesso de uso, que causam um estresse desnecessário em determinadas partes do corpo, como os tecidos do cotovelo de um jogador de beisebol da Pequena Liga, por exemplo. Elas são resultado do uso contínuo dos mesmos grupos de músculos e do mesmo estresse aplicado a uma parte específica do corpo, resultando em desequilíbrios musculares e tempo inadequado para a recuperação. Exemplos comuns são a canelite e a tendinite aquileana.
Para evitá-las, Elizabeth recomenda a diversificação.
— Praticar vários esportes, jogando em diferentes posições para não repetir sempre os mesmos movimentos infinitamente.
Não só ela como outros especialistas recomendam que crianças com menos de 16 anos não pratiquem uma única modalidade mais horas por semana do que o número de sua idade em anos. As que praticam o mesmo esporte em mais de uma equipe em determinada temporada correm mais riscos de sofrer uma lesão. O mesmo vale para aquelas que jogam e treinam a mesma modalidade o ano todo, sem tempo para permitir que os tecidos superestressados se recuperem e sem outras atividades com diferentes partes do corpo.
—A prática de diferentes esportes ajuda a garotada a desenvolver uma boa biodinâmica, o que reduz os riscos de lesão — afirma Elizabeth.
E os especialistas alertam: a criança jamais deve ser estimulada a jogar sofrendo dor, da mesma forma que esta, sendo persistente, não pode ser ignorada.
"Em caso de dor forte ou resultante de excessos, a criança que desenvolve algum tipo de sintoma persistente ou que afete seu desempenho atlético tem que ser examinada por um médico. Ela jamais deve poder praticar sentindo qualquer desconforto".
O diagnóstico preciso da dor de um jovem atleta pode exigir especialidade ortopédica, pois se for causada pela lesão de um movimento repetitivo pode se refletir em outro lugar além do local ferido. A dor no joelho, por exemplo, pode ser consequência de uma contusão no quadril.
Por Jane E. Brody