Em um cenário cercado de caixotes de madeira, barras, argolas suspensas, pesos e halteres, Maria Eduarda, 11 anos, exibe na estampa da camiseta diversos exercícios típicos do crossfit, enquanto recebe as orientações do instrutor. Sim, a modalidade também é para crianças.
Recém chegado a Porto Alegre, o Crossfit Kids é voltado para alunos dos três aos 17 anos, com turmas divididas por faixa etária. No lugar das cargas, entra o peso do próprio corpo, e os desafios de repetições são trocados por brincadeiras de bola e corrida "de estilo livre". Embora não pareça em nada com a ideia que se tem da modalidade – de competidores musculosos desafiando o próprio corpo –, a versão infantil traz a essência do esporte.
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– Para as crianças, exercícios como pular, agachar e correr são mais fáceis de aprender. Então, trabalhamos esses movimentos funcionais constantemente e ensinamos a técnica da modalidade. O que estamos fazendo é crossfit de uma forma divertida – explica Diego Felipe Gevaerd, instrutor certificado para dar aulas para o público infantil.
Durante 30 minutos, as crianças são desafiadas a fazer o agachamento do "Super-Homem" – ilustrado em um passo a passo no quadro –, brincar "da forma mais louca que conseguir" em intervalos de 20 segundos, cumprir um trajeto caminhando como ursos e patos e depois ainda se divertir jogando bolas para dentro de um quadrado formado por caixas enquanto o "monstro" que está lá dentro atira os objetos para fora.
Com atividades semelhantes às brincadeiras comuns entre as crianças, a aula tem como diferencial a atenção do instrutor a execução de cada movimento. Quando alguma situação pode diminuir a segurança da prática, os pequenos ouvem um "congela" para que parem e fiquem estáticos no lugar.
– Toda a atividade física pode trazer risco quando não é bem orientada. É preciso prezar pela qualidade técnica e do movimento – garante Gevaerd.
Cuidados importantes para praticar a modalidade
Além de diminuir as atividades que envolvam tablets e videogames, o Crossfit Kids ainda trabalha aspectos importantes de socialização. Ali, nenhuma limitação é desrespeitada: cada um faz aquilo que consegue da melhor e mais correta forma possível. Se houver alguma restrição de movimento, ela será respeitada e o exercício adaptado, afirma Gevaerd:
– A grande mágica é a adaptação. Caso a criança tenha paralisia ou dificuldade motora, a gente vai adaptar a brincadeira para que ela possa participar.
Como toda atividade física, o crossfit promove melhora no sistema cardiorrespiratório, dá resistência muscular, agilidade, coordenação motora, força e potência, fatores fundamentais para o desenvolvimento sadio das crianças.
O ortopedista pediátrico Nei Botter Montenegro, da Clínica de Especialidades do Hospital Israelita Albert Einstein, aprova a iniciativa e acredita que a prática de exercícios físicos na infância é fundamental para criar uma memória positiva na vida adulta:
– Qual é a intenção da criança fazer atividade física? É para que, quando ela se tornar adulta, tenha boas recordações e seja uma pessoa ativa.
Atividades que utilizam o peso do corpo são recomendações do especialista para o bom desenvolvimento muscular dos pequenos, mas é preciso ficar atento à qualquer reclamação de dor. Se as queixas forem frequentes, a orientação é procurar um médico. Vale a dica de anotar os locais que doem para auxiliar no trabalho do especialista depois.
Os pais também devem levar em consideração a rotina de exercícios da criança, que não deve ser exagerada. Conforme o médico, em geral, a falta de atividades é pior, mas o excesso pode ser tão maléfico quanto. Portanto, o ideal é consultar um pediatra antes de inscrever os pequenos em uma série de atividades.
Outro ponto destacado pelo médico é a questão da individualidade, que deve ser respeitada:
– Vejo a prática com bons olhos desde que respeitada individualidade das crianças. Algumas têm pouco alongamento, pouca força. O professor deve ter perspicácia para ajudá-las.