A estação mais quente do ano chegou no dia 21 de dezembro, às 14h28min, e os cuidados com a pele passaram a ter atenção especial. A cautela, no entanto, não deveria ocorrer somente no verão, mas sim ao longo dos 365 dias do ano, segundo médicos. O Rio Grande do Sul é o Estado com a maior incidência do câncer de pele, tipo melanoma, que é o mais agressivo. A última estimativa do Instituto Nacional de Câncer indica 7,54 casos desse tipo de tumor para cada 100 mil habitantes.
A dona de casa Eliziane Vieira de Oliveira Pinheiro, de 38 anos, tinha uma pinta que a incomodava esteticamente perto da axila esquerda. Passado algum tempo, esse sinal passou a crescer e a coçar. Foi então que decidiu procurar um dermatologista.
— A dermatologista tirou a pinta e pediu autorização para mandar para biópsia. Foi quando veio o resultado de melanoma maligno. Foi um choque, porque tu imagina várias coisas quando se trata de câncer.
Com um filho pequeno e um especial, não teve dúvida: decidiu lutar contra a doença. Eliziane fez cirurgia de retirada do tumor no Hospital Mãe de Deus. Também tomou durante um período medicamento para evitar o avanço da doença. Com a pele muito clara, já tem em mente o que provocou o câncer.
— Eu era agricultora, então no horário de sol intenso, eu estava trabalhando. Eu estou sempre na rua, então pego muito sol. E sempre sem protetor solar. Não tinha o hábito.
O funcionário aposentado do Banco Central Júlio Cesar Felippe, de 73 anos, começou a luta contra o câncer de pele há 10 anos.
— Eu fui numa dermatologista para solicitar uns cremes para proteger do sol. Ela me examinou, me deu umas receitas. Aí eu disse que havia me saído um sinal no peito. Ela pegou todas as minhas receitas de cremes e me mandou num cirurgião para retirar o sinal.
Após a retirada do sinal, Júlio foi encaminhado para o setor de oncologia do Hospital Mãe de Deus. Diante da gravidade, foi retirada uma parte maior do local onde estava o sinal. Passados cinco anos, numa consulta de rotina após exames, Júlio ficou sabendo que o câncer havia se espalhado para o abdômen, próximo à coluna e numa costela. Após ser incluído na pesquisa de um medicamento americano, o aposentado ficou sabendo que a droga havia combatido os tumores. Mas a luta não parou por aí. Em 2015, ao fazer mais um exame de rotina, apareceu um linfoma na região torácica.
— Comecei a fazer quimioterapia de 20 em 20 dias. E depois comecei a fazer de três em três meses uma manutenção da quimio, que terminou em 9 de dezembro de 2017. Portanto, 10 anos de luta.
Júlio admite que praticamente não usou proteção solar durante a juventude.
— Eu tive uma juventude como todo gaúcho. Em janeiro e fevereiro, praia e sem proteção.
Raul Bonamigo, de 76 anos, ficou sabendo que estava com câncer de pele, tipo melanoma, em agosto deste ano. A dermatologista que o examinava no Hospital Moinhos de Vento encontrou sinais suspeitos no rosto e nas costas.
— Eu tinha a lesão no rosto e ela queria me examinar todo. Mas eu não queria tirar a camisa. Foi quando ela achou outro sinal. Após exames, foi constatado o sinal.
O empresário fez cirurgia e retirou os tumores. É mais um que admite que ficava muito exposto ao sol, sem proteção.
— Eu ia muito no sol nas minhas pescarias, na praia e em horários ruins. Eu não usava protetor. Eu nunca dei bola para isso.
A funcionária pública estadual Regina Beatriz Marca, de 57 anos, vem lutando contra o câncer de pele desde 2003. O primeiro melanoma apareceu no couro cabeludo.
— Eu tinha um pontinho no couro cabeludo e eu levei para a médica aqui de Passo Fundo mesmo. Feita a biópsia, foi constatado que era câncer e foi feita uma cirurgia na época.
Regina retirou outros sinais menores do rosto, mas sem gravidade. Já em 2010, foi detectado outro tumor, desta vez no rosto.
— Como eu fiquei com muito medo, porque era no rosto, eu fui a Porto Alegre. Foi feita, então, mais uma cirurgia. Depois dessa, foi feita mais uma no pescoço e mais uma no seio esquerdo. Foram três cirurgias neste ano.
Além dessas, Regina ainda retirou outros tumores no nariz e perto de um dos olhos. Ela se protegia do sol, mas acredita não ter sido o suficiente.
— Eu tenho a pele muito clara. Eu não tomei muito sol durante a minha vida, mas para minha pele foi muito. E há mais tempo, com certeza, não tive a devida proteção. Os horários também não eram os recomendados e eu estou com essas consequências, há 20 anos me tratando com dermatologista.
Em 2016, a secretária Jaqueline Coelho de Souza, de 56 anos, se vestia em frente ao espelho quando estranhou a modificação de um sinal que tinha próximo à mama direita.
— Um sinal que eu sempre tive, mas que estava alterado. Em cima dele, tinha uma bolha preta. Então eu fui para a internet e pelas fotos que vi, parecia ser um melanoma.
Foi então que Jaqueline procurou o setor de dermatologia da Santa Casa de Porto Alegre. Feita biópsia, foi confirmado o seu maior temor: se tratava de um melanoma. A cirurgia foi a indicação.
— Num primeiro momento, ele (o médico) já abriu bastante e eu levei cinco pontos. Aí eles ampliaram e fizeram uma cirurgia de 16 centímetros. O tumor era do tamanho de uma bola de pingue-pongue.
Assim como Eliziane, Júlio, Raul e Regina, Jaqueline admite que não fez a proteção devida da pele ao longo da vida.
— Quando a gente é mais nova, a gente não tem essa noção de ter os cuidados que temos hoje, de usar sempre protetor solar.
Quais os tipos de câncer de pele
O cirurgião oncologista e coordenador do Núcleo de Melanoma do Hospital Santa Rita, da Santa Casa de Porto Alegre, Felice Riccardi, explica que os principais tipos de câncer de pele são os carcinomas e os melanomas.
- Os carcinomas, que também são chamados de não melanomas, são muito incidentes. A incidência brasileira é de cerca de 175 mil casos novos por ano. E os melanomas têm uma incidência de seis mil casos por ano no Brasil.
O médico alerta sobre os riscos do melanoma.
— O melanoma é um câncer que tem uma taxa de letalidade de 1.200 brasileiros por ano. Já o carcinoma tem taxa de letalidade muito baixa. O problema dele é muito mais naquele local acometido e não de criar raízes, metástases para outros órgãos.
Prevenção
A dermatologista do Hospital Moinhos de Vento e especialista em sinas e tumores de pele Suzana Hampe lembra que a prevenção começa desde a infância, com os pais cuidando os horários de exposição ao sol dos filhos.
— Nós temos que ter a educação de cuidar os horários. Porque das 10h às 16h nós temos um sol mais intenso e mais rico em raios ultravioleta B, nesta época do ano. E é um raio bastante cancerígeno.
Sobre o uso de protetor solar, Suzana orienta:
— Usar filtros solares de acordo com o tom da pele. Peles mais claras e horários com sol mais forte, filtros solares mais altos. Além disso, chapéu, óculos com filtro solar e até roupas mais prolongadas são importantes.
Diagnóstico precoce
Suzana Hampe explica que diagnosticar precocemente um câncer facilita o tratamento e até evita a morte.
— O paciente precisa se autoexaminar, conhecer a sua pele, conhecer os seus sinais. Pode fotografar em casa, colocar num computador e de tempos em tempos, fazer uma comparação e olhar toda a pele. Também ir ao dermatologista com frequência.
Tratamentos
O dermatologista do Hospital Mãe de Deus e diretor da Sociedade Brasileira de Dermatologia - Seção Rio Grande do Sul Fabiano Siviero Pacheco explica que diante de uma suspeita de câncer, é feita a retirada de um pedaço da pele para realização de uma biópsia, exame que vai confirmar ou descartar a existência do tumor.
— Em geral, os cânceres não melanomas têm sua solução no momento em que nós removemos a lesão com uma cirurgia. Na maior parte dos casos, o paciente é considerado curado. Já o melanoma é um caso especial. Ele muitas vezes precisa de tratamentos complementares. Com estágios mais avançados, já existem medicações para tratamento oncológico buscando a melhora do paciente, buscando prolongar o seu tempo de vida.
Fatores de proteção solar
Segundo Pacheco, a recomendação para toda a população é o uso de protetores a partir do fator 30, sempre quando houver exposição ao sol, em qualquer época do ano. Também destaca a necessidade de reaplicação ao longo do dia.
— Temos protetores mais altos, acima do 30, usados em ocasiões específicas, mas nunca recomendamos abaixo do 30.
Sobre bronzeamento artificial, o dermatologista afirma que é ainda mais agressivo do que a exposição ao sol, além de proibido no Brasil.
Outros problemas ocasionados pelo sol excessivo
Além do câncer, a dermatologista Suzana Hampe lembra que a exposição ao sol sem a devida proteção pode ocasionar outros problemas na pele.
— Ela pode ter o envelhecimento precoce, mas também o aparecimento de manchas e pré-câncer de pele.
Lições
O câncer de pele mais agressivo fez com que Eliziane, Júlio, Raul, Regina e Jaqueline mudassem radicalmente o estilo de vida.
— Estou tentando me organizar para não sair muito ao sol nos horários de risco — afirma Eliziane.
— Eu sempre uso protetor. As pessoas não deveriam se expor ao sol nunca sem protetor — destaca Júlio.
— Hoje, eu aprendi que tem que ter muito cuidado com o sol, porque é muito perigoso. Eu sei o que eu passei e foi uma coisa muito séria — alerta Raul.
— Eu passei a usar protetor solar direto. Até sob a fluorescente (lâmpada). E hoje não me exponho ao sol — conta Regina.