Novembro já se consolidou como o mês de campanhas de conscientização sobre a saúde do homem. Vindo na sequência do Outubro Rosa, que alerta sobre o câncer de mama, o Novembro Azul foca na prevenção e no combate ao câncer de próstata. Esse tumor é o segundo que mais mata no Brasil, ficando atrás apenas do câncer de pulmão. Levantamento do Instituto Nacional do Câncer indica 61.200 novos casos da doença em 2017 no Brasil, ou 167 por dia. No Rio Grande do Sul, a estimativa é de 6 mil.
O programador de computador aposentado Sérgio Tadeu da Silva, de 62 anos, descobriu o câncer de próstata numa consulta na Santa Casa de Porto Alegre. Ao fazer o exame de toque, veio o alerta de um possível tumor. Há um ano, fez a retirada do órgão.
— Hoje eu estou bem, estou legal. Estou fazendo o acompanhamento do PSA (o Antígeno Prostático Específico é medido através de exame de sangue). Venho fazendo o acompanhamento de três em três meses — conta.
— Sou um exemplo vivo de que, a partir do momento em que tu já tem uma certa idade, tu te coloca no grupo de risco. Fui atrás, fiz a consulta, fiz o exame de toque. Acredito que no meu caso foi detectado cedo. O médico me deixou claro que, naquele momento, estava me dando uma solução praticamente definitiva. Ele disse: tu tira e a chance de tu nunca mais ter problema algum é grande.
Olívio Lopes dos Reis, 80 anos, também é paciente da Santa Casa de Porto Alegre. Assim como Sérgio, fez cirurgia ao ser diagnosticado com câncer. Ele faz questão de dar conselho aos que estão em dúvida sobre os exames preventivos:
— Com certeza, mando ir no médico.
Após a retirada da próstata, o câncer de seu Olívio foi combatido.
— Vivo muito bem, graças a Deus.
Beno Igor, 73, descobriu o câncer de próstata há 10 anos. Fazia consultas de rotina desde os 45 anos, no Hospital Moinhos de Vento. Entre um PSA e outro, uma alteração foi detectada. Feita a biópsia, soube que estava com câncer.
— Fiz cirurgia. Fiquei cerca de 30 dias em casa e depois continuei fazendo o PSA.
Beno diz que os exames preventivos e o diagnóstico precoce foram os principais fatores para ele ainda estar vivo e com saúde:
— Se eu passasse um ano sem fazer os exames, talvez o câncer estivesse mais avançado.
Dez anos depois, o comerciante pode dizer que está curado.
Ademir Poza, 69 anos, já venceu o câncer em dois órgãos. O primeiro, em 2000, quando foi diagnosticado com tumor malígno num dos rins. Retirou o órgão doente. Dois anos depois, soube que estava com câncer na próstata. Também fez a chamada prostectomia radical. Mas foi surpreendido em 2013, com alteração no PSA:
— O médico me disse: vamos começar te fazendo injeção de hormônio. Em 2014, ele disse que era bom fazer radioterapia. Fiz 35 sessões. Mas seguiu oscilando o PSA.
O representante comercial aposentado precisou de mais 20 sessões de radioterapia e está na torcida para que tenha afastado de vez o câncer.
— Lutei, lutei. Bola para frente, nunca olhei para trás. Tive apoio da minha família, sempre faço o meu check-up. Sempre disse que não ia morrer por causa do câncer.
Ademir é mais um que não entende o preconceito com o exame de toque, tão fundamental para detectar a doença:
— Gente, não precisa ter medo desse troço. O exame é indolor, o toque é indolor. Nem meu pai tinha preconceito. Ele, com 70 anos, fez também.
Márcio Matos Ruphental, de 56 anos, tinha um histórico de câncer na família. Por saber disso, sempre teve um cuidado ampliado com a saúde. A alimentação e a rotina de exercícios são sempre regrados. Os exames também são sempre frequentes. Há oito anos, o PSA acendeu uma luz de alerta. Em 2013, após fazer um biópsia, teve a confirmação do que tanto tentava evitar. Antes de qualquer decisão sobre tratamento, dividiu a notícia com a família.
— Conversei com a minha esposa e as minhas filhas. Apesar de elas serem crianças, eu acredito que todo mundo têm que participar.
Ruphental fez a retirada da próstata. Assim como Ademir, teve alteração no PSA mesmo após a cirurgia. Precisou fazer algumas sessões de radioterapia. Buscou encarar a doença com a maior naturalidade possível:
— Eu sou engenheiro. Eu encaro as coisas de forma muito prática e objetiva. A minha vida inteira eu tomei decisões. É aquela coisa, se furou o pneu do carro, não adianta ficar chorando. Vai lá e troca ou compra outro.
O que dizem os médicos
Professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e integrante do Serviço de Urologia Santa Casa, o médico urologista Ernani Luís Rhoden é um entusiasta do Novembro Azul:
— Chama a atenção do homem para aspectos relacionados à saúde em geral. Ou seja, uma avaliação clínica, cardiológica, clínica geral e especificamente relacionada à parte urológica, uma vez que as doenças do aparelho geniturinário começam a aparecer mais relevantes a partir dos 40, 50 anos de idade.
Apesar do aumento dos cuidados com a saúde pelo homem, Rhoden ressalta:
— O homem tem uma certa resistência à procurar os meios de saúde quando não sente nada ou quando não se encontra doente, diferentemente da mulher. A menina frequenta mais os médicos.
Para o urologista, no entanto, campanhas de conscientização, como o Novembro Azul, têm estimulado a prevenção.
— Eu acho que esse é um grande papel também da mídia, incentivando a avaliação preventiva das questões relacionadas à saúde masculina.
Sobre o câncer de próstata, Ernani Rhoden lembra que não há uma causa específica que provoca a doença:
— Existem alguns fatores que se sabe que estão relacionados, entre eles, a história familiar, principalmente na linhagem paterna quando tiveram câncer de próstata. E se sabe também que os afrodescendentes têm um risco mais elevado de ter câncer de próstata.
A realização de exames preventivos de rotina é recomendada a partir dos 45 anos, quando há histórico da doença na família e para os afrodescendentes, e 50 anos, nos demais casos. Anualmente, é recomendada a realziação dos exames de PSA, para verificar eventual alteração da próstata, e de toque, para sentir se realmente há um problema no órgão.
O médico oncologista Luiz Antônio Bruno, do Hospital do Câncer Mãe de Deus, tranquiliza os pacientes que têm medo dos exames:
— A qualquer sintomatologia da parte urinária, e esses sintomas começam, às vezes, já a partir dos 40 anos, o homem deve procurar um urologista para identificar qual a razão desse sintoma. A partir dos 50 anos, também é recomendável para o homem a realização do exame de PSA. É um exame de sangue, simples, sem nenhum risco e ele pode fazer um diagnóstico precoce da doença.
Com o diagnóstico precoce, é possível detectar tumores que, dependendo até da idade do paciente, não vão demandar tratamento.
LUIZ ANTÔNIO BRUNO
Médico
Em relação à importância do diagnóstico precoce, Bruno acrescenta:
— Hoje em dia, com o diagnóstico precoce, é possível detectar tumores que, dependendo até da idade do paciente, não vão demandar tratamento. Até pode ser suficiente o acompanhamento rigoroso com o seu médico urologista, repetição dos exames de biópsia e seguir a vida sem necessidade de tratamento.
Stephen Doral Stefani também é médico do Hospital do Câncer Mãe de Deus. O oncologista alerta que nem sempre o câncer de próstata causa sintomas:
— Daí a importância de pelo menos chamar a atenção das pessoas. Primeiro, para fazer a investigação com seus médicos, mesmo sem sintoma nenhum. E eventualmente considerar a possibilidade de fazer os testes, incluindo o mais comum que é o PSA.
Sobre os tratamentos, explica:
— Isso vai depender da idade do paciente, de comorbidades (outras doenças) e, eventualmente, da agressividade da lesão. Pode até não tratar a doença. Tem vários tumores de próstata que não demandam tratamento. O paciente vai conviver com o tumor muitos anos sem trazer risco para a sua vida.
Confira o áudio da reportagem: