Os dias mais quentes do ano estão se aproximando e, por causa deles, a pele fica mais exposta. Então, é hora de levar a sério o cuidado com o estrato córneo, ou a camada mais externa da pele — maior órgão do corpo humano, que protege os tecidos internos vitais.
Durante muito tempo considerada biologicamente inerte, essa porção epidérmica hoje é conhecida pela estrutura bioquímica complexa, cuja inviolabilidade é essencial para uma pele saudável. É muito semelhante a uma casa de tijolos — sendo que esses, os corneócitos, são constituídos de fios organizados de queratina, capazes de armazenar grandes quantidades de água, integrados à "argamassa" constituída por ácidos graxos e outros lipídios.
De fato, 64% da pele são água, tornando o líquido ingrediente essencial para sua saúde. Se o estrato córneo ficar muito ressecado, surgem as coceiras, a descamação, as inflamações, resultando em uma aparência grosseira e pouco atraente. Para a grande maioria, tendo a pele seca ou oleosa, o uso rotineiro do hidratante protege o suprimento de água de que ela necessita.
Porém, com um número infinito de opções nas prateleiras, como o consumidor sabe escolher a versão mais eficaz e que não cause algum tipo de reação adversa? É melhor uma loção, um creme ou uma pomada? Um produto que se descreva como "recomendado por dermatologistas", "sem perfume", "não comedogênico", "orgânico", "natural", "clinicamente testado" ou "hipoalergênico"? Você faz sua escolha baseado na marca, preço, recomendação médica ou de amigos?
— São perguntas boas, mas difíceis de responder. Os hidratantes e as propriedades que supostamente têm, como todos os outros cosméticos e produtos de higiene pessoal, são regulados quase que informalmente. Na prática, dependem só da integridade dos fabricantes para serem comercializados como seguros e eficazes, e dos consumidores se manifestarem quando não são nem um, nem outro — admite o Shuai Xu, dermatologista afiliado à Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern.
Reações alérgicas são comuns
Uma das reclamações mais frequentes sobre os produtos para a pele é a sua capacidade inerente de funcionar como gatilho para algum tipo de reação alérgica, resultando em coceiras, vermelhidão e inflamação.
Xu e seus colegas recentemente avaliaram 174 hidratantes entre os mais vendidos dos Estados Unidos, de vários tipos, com preços que variavam entre US$0,10 a US$9,51 por 28 gramas, com atenção especial para a presença de ingredientes alergênicos.
A equipe concluiu que somente 12% dos hidratantes mais vendidos não contêm alérgenos — desses, os mais comuns são fragrâncias, parabenos e tocoferol. Mesmo entre os que se anunciam "sem perfume", 45% tinham pelo menos um ingrediente relacionado ao aroma. Xu explica:
— Se a empresa usa um elemento que seja conservante e esse for seu objetivo principal, mesmo que tenha características de fragrância, ela pode anunciar o produto como sendo "sem perfume". Além disso, mesmo sendo comercializado dessa forma, ele pode ocultar algum agente (uma fragrância que neutralize um odor), um elemento químico de reação cruzada que atue como fragrância ou contenha um componente botânico que seja alergênico.
Entre os 15 produtos que se diziam hipoalergênicos, 83% continham pelo menos um ingrediente da lista de alérgenos, e 24 produtos continham cinco ou mais. A conclusão mais interessante da equipe a esse respeito foi que os hidratantes livres de qualquer alérgeno, custando em média US$0,83 por 28 gramas, "não são estatisticamente mais caros do que os que contêm um ou mais".
Além disso, Jonathan I. Silverberg, diretor do Centro de Eczema e Clínica de Dermatite de Contato da Northwestern, explica:
— Na maioria das vezes, a rotulação do produto como hipoalergênico é bobagem. Se você o usar frequentemente ou por um longo tempo, pode acabar vulnerável a uma reação. Não é a questão de rótulo errado, mas sim de uma predisposição da pessoa, que pode ser alérgica a quase tudo, ou não.
O que começa com uma pequena coceira e/ou vermelhidão pode progredir para incluir agulhadas, ardor, inchaço e dor. A cada exposição, a reação vai ficando mais forte.
— Sendo assim, o consumidor consciente com tendência alérgica troca a marca de produto esporadicamente. E, se percebe que algum deles gera sintomas desagradáveis, suspende o uso — completa Silverberg.
Dicas da Academia Americana de Dermatologia para escolher o hidratante:
Para evitar riscos
O consumidor que queira evitar riscos escolha um que seja livre de aditivos, fragrâncias e perfumes, embora um novo estudo tenha mostrado que a tarefa é um verdadeiro desafio, mesmo para profissionais experimentados.
Preço não é garantia
A análise provou que preço não é garantia de segurança nem eficácia.
— Um produto que se anuncia "dermatologicamente recomendado" é mais caro, mas é uma informação que não significa nada. Estamos falando de cem dermatologistas? De dez? De um? — questiona o dermatologista Shuai Xu.
O hidratante mais caro verificado pela equipe de Xu continha o maior número de alérgenos: oito no total.
"Orgânico" ou "natural" também não
O consumidor consciente muitas vezes dá preferência ao anúncio do que é "orgânico" ou "natural", na esperança de evitar elementos sintéticos.
— Mas isso não é garantia de que não cause algum tipo de reação ou mesmo de que seja eficaz. Os óleos mais produtivos e livres de alérgenos são o de girassol, o de coco e a manteiga de karité — completa Xu.
Entretanto, para a grande maioria, as loções — que contêm mais água do que os cremes e pomadas — são eficientes e mais acessíveis, ou seja, evaporam rapidamente e não deixam aquela sensação oleosa que incomoda tanta gente.
Prefira os cremes
Os cremes contêm mais água que as pomadas e oferecem o que a equipe chama de "meio termo" para quem não suporta a consistência pesada e oleosa. "No fim das contas, o interesse e a continuidade do uso é mais importante que uma formulação específica ou veículo", indica o estudo.
Aplique depois do banho
O ideal é que o hidratante seja aplicado sobre a pele ainda úmida, minutos depois do banho, para prolongar o efeito. Também ajuda se a água estiver morna, e não muito quente.
Por Jane E. Brody