A Polícia Civil concluiu nesta terça-feira (14) o inquérito do acidente que deixou duas adolescentes, de 16 e 17 anos, feridas após caírem de um brinquedo do Park Tupã, em 6 de outubro. Cinco pessoas foram indiciadas pelos crimes de lesão corporal grave com dolo eventual e por fazerem afirmações falsas ou enganosas no laudo técnico do brinquedo.
O inquérito conduzido pelo delegado Vinicius Nahan, da 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, indiciou pelo acidente dois dos sócios do Park Tupã, dois responsáveis técnicos pelo brinquedo “Orbiter”, que vira de cabeça para baixo, além do operador do equipamento.
Os sócios e o operador do brinquedo foram indiciados por lesão corporal grave, com dolo eventual. Os nomes não foram divulgados pela Polícia Civil, mas a reportagem de Zero Hora apurou que se tratam de Alvimar Rufino do Nascimento Júnior e André Martins dos Santos, sócios do Park Tupã, além do operador Heddy Hilton dos Santos Godoy.
Em caso de uma futura condenação, eles podem ser sentenciados a penas de um a cinco anos de prisão.
— Os sócios foram indiciados em razão deles serem responsáveis pela segurança dos brinquedos que são ofertados ao público. No momento em que há modificação e acarreta o acidente, eles assumem o risco de que o brinquedo possa causar algum malefício aos usuários — disse o delegado.
Já os responsáveis técnicos indiciados pelo acidente são Claudenilson Pereira Coelho e Luiz Felipe Marin de Oliveira. Eles teriam feito afirmações falsas ou enganosas no laudo técnico do brinquedo. Em caso de condenação no futuro, eles podem ser sentenciados a penas que variam de três meses a um ano, com pagamento de multa.
— Os dois técnicos responsáveis pelo brinquedo atestaram que o equipamento estava em perfeitas condições de uso, sendo que não estava, já que apresentava essa falha de segurança. Os livros obrigatórios do parque sobre essa modificação não foram apresentados à investigação —aponta Nahan.
A investigação, conduzida pela 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, ouviu 12 pessoas, incluindo vítimas, testemunhas e os indiciados. Durante o período de três meses, foram analisadas fotos, vídeos e uma perícia técnica do Instituto Geral de Perícias (IGP) realizada no brinquedo.
Mais de três meses após o acidente, a adolescente de 17 anos ainda se recupera das fraturas sofridas nas pernas e na coluna. Logo depois do ocorrido, em outubro, a vítima realizou duas cirurgias e ainda apresenta dificuldades para se locomover.
Conforme o delegado Nahan, além do abalo emocional, a jovem ainda precisará fazer exames complementares um ano após o acidente para verificar se parte das lesões serão permanentes.
A reportagem de Zero Hora procurou as defesas dos sócios do Park Tupã, Alvimar Rufino do Nascimento Júnior e André Martins dos Santos, além do responsável técnico Luiz Felipe Marin de Oliveira, que informaram que só irão se manifestar após terem acesso aos autos do processo.
No decorrer da investigação, o operador do brinquedo, Heddy Hilton dos Santos Godoy, e o responsável técnico, Claudenilson Pereira Coelho não apresentaram advogados. Zero Hora tenta localizá-los para obter um posicionamento sobre o caso. O espaço está aberto para respostas.
Com a conclusão do inquérito, agora o relatório será remetido ao Ministério Público (MP), que pode ou oferecer denúncia sobre o acidente.
Laudo do IGP aponta falha humana no acidente
O laudo do IGP apontou que houve falha humana, não indicando falha mecânica do brinquedo do Park Tupã. Segundo o delegado Nahan, o sistema da válvula pneumática das travas dos assentos foi modificado, não sendo o original do equipamento. A alteração permitia que a estrutura entrasse em funcionamento sem estar totalmente travada.
A perícia também identificou que o brinquedo sofreu outras alterações nas configurações originais sem a devida aprovação ou supervisão técnica exigida pelas normas da ABNT. Entre elas, além das travas, está a desativação de um dispositivo chamado de “Sensor de Fim de Curso”, que tem como objetivo comunicar à cabine de comando se as travas estão abertas ou fechadas.
A desativação do sistema permitia que o brinquedo funcionasse mesmo com as travas abertas. O laudo de inspeção fornecido pelo parque também não citou as alterações realizadas no equipamento.
— A válvula pneumática modificada permitia com que o brinquedo fosse acionado sem estar totalmente travado. A modificação poderia ter sido feita com uma válvula que não permitisse esse acionamento. Isso causou a falha operacional do funcionário do parque que estava no brinquedo. Ele deveria verificar individualmente cada assento — aponta o delegado.
Em setembro de 2023, o Park Tupã havia anunciado o fim de suas atividades na capital gaúcha, em razão da morte do fundador, Hugo Aloísio Mayer. Em agosto de 2024, a operação do parque de diversões foi retomada, sob nova direção. Contudo, 12 dias após o acidente, o Park Tupã voltou a anunciar o encerramento das atividades.
Vídeo de 15 dias antes
Duas semanas antes do acidente, um visitante do Park Tupã registrou uma situação semelhante no mesmo brinquedo. Nas imagens (assista abaixo), é possível ver uma jovem de cabeça para baixo com a trava de segurança aberta.
O namorado, que estava do lado de fora, percebeu e acionou os funcionários, que desligaram o brinquedo para que a jovem pudesse descer. Ela não se feriu.