Um turista que circulasse pelo bairro Azenha em Porto Alegre e, ao se aproximar da boêmia Cidade Baixa, cruzasse a praça que fica no entroncamento das avenidas Erico Veríssimo e Venâncio Aires, talvez não conseguisse saber que espaço era aquele. Isso porque a placa que deveria identificar a Praça Garibaldi, instalada na esquina com a Rua José do Patrocínio, perto de uma estação de aluguel de bicicletas, está oxidada e ilegível.
Mas este não é o único sinal de deterioração da área que abriga patrimônios históricos de Porto Alegre.
As principais demandas percebidas pela reportagem nesta segunda-feira (11) e relatadas por usuários são a recuperação do piso de pedras portuguesas, que tem falhas e partes soltas, a maior presença das forças de segurança e mais elementos de paisagismo, como flores, que tornariam o espaço mais agradável.
Patrimônio histórico
No centro da praça fica o monumento em homenagem ao casal de heróis combatentes da Guerra dos Farrapos (1835-1845), Anita e Giuseppe Garibaldi.
Esculpida em mármore de Carrara pelo artista Filadelfo Simi, a obra foi oferecida a Porto Alegre pela colônia italiana no país em 1913.
A escultura, assim como o piso de pedras portuguesas, é inventariada pelo Patrimônio Histórico de Porto Alegre.
É visível a necessidade de limpeza do monumento, e dois bojos da iluminação que o circunda estão quebrados.
Pamela Morrison conhece em detalhes os problemas da Praça Garibaldi. Ela é a responsável pela Feira Me Gusta, que há 10 anos ocorre uma vez por mês no espaço. A feirante já testemunhou acidentes com visitantes.
— O piso da praça, com certeza, é bonito, mas é todo irregular. Tem vários buracos e já aconteceu de pessoas caírem ao longo da feira — compartilha.
A feirante ainda relata excesso de lixo e a presença de moradores de rua no local. Além disso, percebe que falta manutenção ao monumento e não há poste de energia elétrica disponível para solicitar eletricidade durante a feira. Ela também aponta problemas de escoamento de água.
— Sempre que chove, alaga em frente ao monumento e em outras partes. É uma praça que fica alagada.
O freteiro Cleber Tiago, 37 anos, trabalha em um dos caminhões sempre estacionados no entorno da praça.
— Hoje em dia, isso aqui está jogado às traças — diz, mostrando trechos onde um cadeirante teria dificuldades para transitar, dada a irregularidade do solo.
O estudante de Marketing Bernardo Porto, 19, costuma passar pela praça quando se dirige para o endereço onde realiza um curso na região. O jovem diz que poderia haver elementos de paisagismo.
— Tem muita areia no chão — observa.
Procurada pela reportagem, a prefeitura de Porto Alegre afirmou que vai contratar, ainda no primeiro semestre de 2025, um projeto de recuperação da praça. Segundo a administração municipal, por "possuir características históricas, o espaço demanda intervenções específicas para ser revitalizado" (leia a íntegra da manifestação abaixo).
Por meio do programa Prefeito da Praça, criado pela prefeitura em 2021, pessoas da comunidade podem se responsabilizar, voluntariamente, por espaços públicos. No caso da Praça Garibaldi, o prefeito, há dois anos, é Vinícius Ávila. Ele reconhece que esta "não é uma praça convidativa", mas destaca algumas melhorias recentes, como a troca de bancos e das lixeiras, além da iluminação total.
— Conseguimos iluminar toda a praça, trocar bancos e lixeiras. Só que a praça têm pedras portuguesas e o monumento (inventariado). Já solicitei limpeza, mas sempre depende de uma terceira secretaria para levar adiante — explica o voluntário.
Questionado sobre um galho quebrado, que pendia apoiado na copa de uma árvore nesta segunda-feira, oferecendo risco aos transeuntes, Ávila respondeu que a remoção já foi solicitada.
O prefeito da Praça Garibaldi avalia a adoção do espaço, com apoio de parceiros, como uma possível saída para que ela receba melhorias. Zero Hora abordou a Secretaria Municipal de Parcerias sobre esta hipótese e recebeu o retorno de que "a praça não tem processo vigente de adoção e está disponível" para isso, caso haja interessados.
Nesta segunda-feira (11), funcionários da Cooperativa de Trabalho, Produção e Comercialização dos Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre (Cootravipa), contratada pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), faziam a roçada na praça.
Sensação de insegurança
A aposentada Elizabeth Pedroso, 74, revela ter receio de passar em alguns horários pela praça. O motivo são os usuários de drogas, que ela relata que circulam pelo local.
— Tem vezes que eu não passo por aqui — confessa.
Frequentador do espaço, o empreendedor Jesus Knevitz, 48, gostaria de mais presença policial.
— Não vejo muito policiamento ostensivo. Esses dias cheguei aqui com a minha filha e tinha uns caras fumando crack — relata.
A ausência das forças de segurança também é relatada pelo prefeito da praça, Vinícius Ávila:
— Não estão muito presentes.
O comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (9° BPM), tenente-coronel Fabio Schmitt, assegura que há policiamento no local e cita os baixos índices de criminalidade na praça (confira, mais abaixo, a nota oficial encaminhada pela corporação, em que há referência aos dados).
O comandante também menciona a existência de um ponto base junto ao cruzamento das avenidas Ipiranga e Erico Veríssimo, além de outro na Praça Isabel, a Católica.
— A gente não tem um ponto específico ali (Praça Garibaldi), mas por ser em um local de vias importantes, as viaturas e as motos da Brigada Militar passam direto por ali — assegura.
A Guarda Municipal, por sua vez, afirmou que a partir deste mês de novembro a Praça Garibaldi "entra no escopo de demandas do patrulhamento intenso diuturnamente" (veja nota mais abaixo).
O aposentado Erandir de Teixeira Martins, 85, mora no bairro Menino Deus e frequenta a Praça Garibaldi há mais de 50 anos. Para ele, a situação até melhorou recentemente:
— Essa praça já esteve pior. Era um antro de drogas.
O que diz a prefeitura
Questionada por Zero Hora sobre as ações e os planos de recuperação da Praça Garibaldi, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) encaminhou, por nota, o seguinte posicionamento:
A praça Garibaldi é uma das áreas verdes da cidade que ficou submersa na enchente de maio.
A limpeza já foi realizada e a praça voltou a ser utilizada pelos usuários, com iluminação e serviços de roçada e capina em dia.
Por possuir características históricas, o espaço demanda intervenções específicas para ser revitalizado. Projeto de recuperação será contratado ainda no primeiro semestre do próximo ano.
O que diz a Secretaria Municipal de Segurança
Em relação à presença de policiamento na Praça Garibaldi, a Secretaria Municipal de Segurança, por meio da Guarda Municipal, manifestou-se com o que segue abaixo:
"Desde o marco da enchente de maio atua no processo de retomada de atendimento de pontos específicos da capital, e a praça Garibaldi a partir de novembro entra no escopo de demandas do patrulhamento intenso diuturnamente, quando ocorrem as tentativas de roubo e furto aos munícipes do entorno."
O que diz a Brigada Militar
A Brigada Militar encaminhou nota oficial sobre a questão do policiamento na Praça Garibaldi. Confira abaixo a íntegra:
A Brigada Militar, por meio do 9º BPM, informa que, após receber questionamentos sobre o policiamento na Praça Garibaldi buscou informações, números e dados a respeito.
O 9º Batalhão de Polícia Militar atende toda extensão dos Bairros Azenha e Cidade Baixa, mantendo diversas modalidades de policiamento motorizado, além de operações embarcadas, com motocicletas e bicicletas, realizando o policiamento 24 horas por dia em 7 dias na semana, visando para garantir a segurança e o bem-estar da população que reside ou transita pela área central de Porto Alegre.
A Praça Garibaldi está inserida nesse contexto da prestação do serviço de policiamento, sendo que, cerca de 100 metros antes, há um ponto base de visibilidade (PB) da Brigada Militar, junto ao cruzamento das Avenidas Ipiranga com Érico Veríssimo e, cerca de 900 metros depois, há um ponto base (PB) na praça Isabel a Católica.
Em relação aos indicadores criminais, no ano de 2024 não foram registrados roubos a veículos, roubo de estabelecimento comercial e crimes violentos intencionais letais, no endereço da Praça Garibaldi. Em relação ao crime de roubo a pedestre, no mês de outubro houve 1 registro, enquanto em setembro o número de roubo a pedestres é zero, o que demonstra a eficácia das estratégias de policiamento ostensivo implementadas pela Brigada Militar na região.
A Brigada Militar reafirma seu compromisso com a segurança pública e solicita a colaboração da comunidade, incentivando a denúncia de atividades suspeitas ou ilícitas por meio do telefone 190. Reforça ainda a importância do registro de qualquer ocorrência, pois isso não só contribui para investigações competentes, como também é essencial para a análise criminal e o planejamento estratégico do emprego de recursos policiais na região.