Um dos pioneiros na defesa do meio ambiente no país, José Lutzenberger (1926-2002) foi homenageado na 18ª Feira Literária de Viamão (Flivi), na Região Metropolitana.
O livro Lutz - A Visão e as Previsões de José Lutzenberger foi lançado em evento na manhã deste sábado (21), na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.
Na ocasião, houve apresentação de As Quatro Estações, de Vivaldi, pela Camerata Presto, de São Leopoldo. Além disso, no Dia da Árvore e na véspera da chegada da primavera, foi realizado um debate no local sobre as mudanças climáticas.
A jornalista Lúcia Brito foi a organizadora da seleção dos textos escritos por Lutz. O primeiro a aparecer na obra data de 1973.
— Separei textos que tivessem muita ressonância com o que ocorre agora. Desde os anos 1970, ele (José Lutzenberger) falava e avisava sobre o desmatamento e a poluição, e que o planeta poderia ter um ponto de não retorno. E nós estamos vendo o que está acontecendo. O Lutz não só falava dos perigos, mas apontava soluções — contextualiza Lúcia.
O livro Lutz - A Visão e as Previsões de José Lutzenberger, da Almalinda Sonhos Editoriais, conta com imagens do Parque Estadual de Itapuã produzidas pelo fotógrafo Daniel Marenco. A publicação teve financiamento da Lei de Incentivo à Cultura. A obra reúne ainda apresentação de Eduardo Bueno, o Peninha, e de Lilian Dreyer, biógrafa do ambientalista.
A concepção e produção-executiva do projeto ficou sob responsabilidade do antigo cronista político José Barrionuevo. A obra foi encomendada pela Flivi em função da tragédia climática que devastou o Rio Grande do Sul em maio.
— Ele (Lutzenberger) foi pioneiro em várias coisas no Brasil em termos de ambientalismo. A Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, fundada em 1971 por Lutz e outros ambientalistas) foi pioneira no país. Eu vim há 15 anos para Viamão e planto árvores. Estou construindo um jardim botânico e já plantei 5 mil espécies nativas na minha propriedade. Digo que sou o Sebastião Salgado (fotógrafo brasileiro) dos pobres, porque eu não tenho o dinheiro dele. Para ter uma ideia, tenho 450 pés de sete espécies de jabuticabeiras. O que eu faço hoje, como meu compromisso com o planeta, é cuidar do meu pedacinho. E plantar árvores é a solução. Não vejo outra solução: plantar e preservar o que temos de pé — compartilha Barrionuevo, dizendo que a diferença de Lutz para os demais ambientalistas é que ele apresentava soluções.
Para Barrionuevo, o livro é ainda a primeira grande reportagem sobre o Parque de Itapuã, que deve muito a sua existência como o conhecemos hoje graças à militância de Lutz por sua preservação.
— O livro é uma ode ao Lutz e à natureza — diz, mencionando que o inédito Inventário Ambiental do Parque Estadual de Itapuã deverá ser um dos próximos projetos a tentar viabilizar.
Uma das filhas de Lutz, Lilly Lutzenberger compareceu ao evento de lançamento do livro. Ficou feliz com a homenagem ao pai e ao Parque de Itapuã, mas também fez um alerta sobre a forma como a natureza tem sido tratada.
— Acho que o Lutz nunca foi tão atual como agora. É uma grande pena que não tenham dado ouvidos a ele quando ainda era tempo. Este livro é lindo e tem mensagens antigas que são perfeitamente atuais. As pessoas simplesmente precisam se conscientizar, não dá mais para ficar no negacionismo. Acabamos de sair de uma gigantesca e destrutiva enchente, que arrasou o Estado inteiro, e a seca, no Norte, e os incêndios estão incontrolados. Acho que isso não vai mudar se não fizermos uma coisa muito radical. Vamos ficar sem comida, porque a agricultura vai parar de funcionar. Sem água e matéria orgânica, não tem agricultura. O clima não precisa entrar em colapso total, apenas ficar desregulado a ponto de não se ter mais colheitas seguras — preocupa-se Lilly.
Para Eduardo Bueno, a ganância do homem está intimamente relacionada com o atual cenário das mudanças climáticas.
— Estou completamente convicto de que uma das pedras angulares do humano é a estupidez. Qualquer um, com um mínimo de sensibilidade, percebe que um ambiente florestado e habitado pela fauna, onde os riachos murmuram e são límpidos, sabe que é muito melhor do que um lugar podre e sujo. Só que alguns impuseram a coisa em direção a esse lugar degradado, por ganância, estupidez e imprevidência, e parece que isso não vai mudar — critica Peninha.
A secretária estadual da Cultura, Beatriz Araujo, enalteceu o legado de Lutz no evento.
— Tenho um trabalho que desenvolvi que foi o Jardim Lutzenberger (projeto executado na Casa de Cultura Mario Quintana). E o livro do Paulo Backes, que é Lutzenberger e a Paisagem. Trabalhei com a Lara Lutzenberger (outra filha do ambientalista) por alguns anos com peças de teatro, justamente para dar visibilidade para a obra e para a relevância do Lutzenberger para a questão do meio ambiente e da paisagem do Rio Grande do Sul — disse a titular da pasta, pouco após chegar na igreja.
A 18ª Feira Literária de Viamão (Flivi), que acontece de 20 até 29 de setembro, tem como patrono o escritor Alcy Cheuiche, que também prestigiou o lançamento e avaliou a importância de Lutz.
— Na última vez que estive na Alemanha lançando meus livros, o brasileiro que me perguntavam era sobre ele. Queriam saber o que o Lutzenberger estava fazendo. Um Prêmio Nobel alternativo, foi como um profeta de tudo isso — relata Cheuiche. — Tudo isso é obra do Lutzenberger. Somos discípulos e devotos dele — conclui.