Um passeio pelo Centro Histórico de Porto Alegre que, para a maioria das pessoas, costuma ser acelerado durante a semana, foi de contemplação para cerca de 50 pessoas na manhã deste domingo (18). O grupo participou de mais uma edição da Caminhada do Patrimônio, percorrendo, durante quase três horas, as ruas da região para entender a história de alguns dos prédios históricos da Capital.
O evento foi promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU-RS) e faz parte da programação da 6ª edição do Dia Estadual do Patrimônio Cultural, organizado pela Secretaria Estadual da Cultura (Sedac).
O ponto de partida foi o Edifício Ely, na Rua da Conceição – hoje, mais conhecido como o prédio da Tumelero, e um dos que resistiu à construção da Elevada e do Viaduto da Conceição, na região onde, antigamente, existia uma Estação Férrea. A proximidade da estrutura com a edificação, inclusive, chamou a atenção de quem pôde olhar, com calma, para um local por onde passa frequentemente. A arquiteta Marina Guimarães, de 61 anos, levou a irmã, uma colega de trabalho e a família ao passeio.
– É bonito contemplar o patrimônio. Eu queria que eles relembrassem algumas coisas que já estou meio esquecida dos detalhes. É importante saber o que a gente tem e o que a gente tinha – observou Marina.
Entre as curiosidades, estão o estilo arquitetônico de cada edifício, o contexto em que foram construídos e como se relacionam com o entorno. A presença carregada de estátuas nos prédios, por exemplo, remete ao legado do positivismo na capital gaúcha, representando o setor do estabelecimento construído ali.
Promovendo a cidade
O evento é aberto e gratuito. Apesar da afinidade direta com os arquitetos, a caminhada também despertou interesse do público em geral.
– Nós temos aqui historiadores, museólogos, arquitetos e engenheiros. Um público diversificado. Outras pessoas que estão aqui gostam de arquitetura, de urbanismo e da cidade. O CAU não tem só o objetivo de fiscalizar a atividade profissional, mas também tem a obrigação de promover a arquitetura, o exercício do arquiteto e também o direito à preservação do patrimônio da cidade – pontuou um dos guias da caminhada, Lucas Volpatto, arquiteto e membro do Conselho Consultivo do Centro de Memória CAU-RS.
Famílias com crianças de colo, senhores de idade e grupos de jovens estavam entre os integrantes do passeio, que passou por ruas como a Coronel Vicente, Voluntários da Pátria, Borges de Medeiros e a Rua dos Andradas/Rua da Praia. A servidora pública Greice de Souza, de 37 anos, convidou a mãe e o marido para a acompanharem:
– Moro no Centro e muitas vezes a gente passa e não percebe o que tem de história em cada um desses prédios. Vi que estava acontecendo a Semana do Patrimônio e pensei que era a minha oportunidade de aprender o que tem em cada passo dessa cidade. Minha mãe ficou bem animada, inclusive. Ela perguntou: “será que a gente vai passar pelo prédio da Tumelero?” E era justamente o primeiro.
O ritmo desacelerado, a explicação dos arquitetos e os olhares para o alto das construções chamaram a atenção de moradores e pessoas que passeavam, por exemplo, na Praça da Alfândega. Quem estava nos tradicionais bancos do antigo Largo da Quitanda parou para ouvir atentamente a explicação sobre a história do Clube do Comércio, um dos poucos prédios que segue com a mesma função desde a fundação.
– A caminhada é inspirada em fazer o debate das pessoas em percurso urbano, ver os edifícios que fazem parte do acervo do CAU. São desenhos, fotos, recortes de jornais que comprovam a atuação profissional daquelas pessoas como arquitetos – explica o arquiteto Lucas Volpatto.
Um dos pontos altos do passeio é a Esquina Democrática, na Borges com a Andradas, em obras atualmente.
– A ideia era que a Borges de Medeiros mostrasse o que Porto Alegre poderia ser, com a concepção de edifícios altos e formados por galerias – destaca Volpatto.
Dezenove prédios fazem parte do roteiro
Entre os mais famosos: o Edifício Renner, a Galeria Chaves, a primeira da cidade, a Livraria do Globo, o Força e Luz, a Federação, onde hoje funciona o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, e, por último, o Hotel Majestic – hoje, Casa de Cultura Mário Quintana. Mas as curiosidades não ficam restritas a esses: construções que fazem parte da história, de alguma forma, também recebem a devida atenção no trajeto.
A lista completa está no site do CAU. Neste ano, a caminhada foi acompanhada de duas intérpretes de libras. A expectativa é que o evento se repita no próximo ano.