Por décadas relegado ao papel de vilão da estética urbana de Porto Alegre, o Muro da Mauá fez jus à vocação original e protegeu a cidade de danos ainda maiores durante a enchente de maio. Para simbolizar a resistência da Capital à maior tragédia climática gaúcha, o consórcio Novo Muro da Mauá lança quinta-feira (25) a nova roupagem cultural do paredão, agora retratado como o Muro dos Pedidos.
Desenvolvido pela agência de publicidade House of Creativity, o conceito evoca um personagem icônico do folclore regional, o Negrinho do Pastoreio, e o cavalo Caramelo, animal que simbolizou a luta pela sobrevivência em meio ao aluvião que assolou o Estado. Ao reunir numa mesma imagem os dois personagens, a campanha busca amparo na lenda e na realidade para tornar a muralha um ponto de reflexão.
— Buscamos duas dimensões: a da esperança na reconstrução e também a da potência do muro, como símbolo da resistência na crise climática — diz o vice-presidente de Criação da House of Creativity, Gregório Leal.
A ideia central é resgatar a tradição oral segundo a qual o Negrinho do Pastoreio ajuda as pessoas a encontrar algum objeto perdido, desde que seja feito um apelo em seu nome por meio de oração e do acendimento de uma vela. Dessa forma, imagens do Negrinho montando Caramelo serão distribuídas ao longo de três telas expostas junto ao muro. Com 48 metros de extensão, as telas terão iluminação especial, simulando velas acesas.
Com a proposta, o consórcio pretende que as pessoas façam pedidos pessoais junto ao muro, nas proximidades da entrada do Cais Embarcadero. Quem preferir, pode rogar pela internet, no site www.murodospedidos.com.br, cujo conteúdo será exibido no local em telas de led.
O lançamento do Muro dos Pedidos será às 18h de quinta-feira, com cerimônia para convidados e autoridades. Haverá homenagens a integrantes das forças de segurança e atingidos pela enchente.
De acordo com Eduardo Ferreira, diretor da Sinergy Novas Mídias, sócia do consórcio, o planejamento inicial para a nova fase do muro era homenagear os 200 anos da imigração alemã no Brasil, porém a amplitude da enchente alterou os planos.
— Não havia como repaginar as telas com esse tema como se nada tivesse acontecido — resume Ferreira.