Uma semana depois do anúncio de que o Aeroporto Salgado Filho voltará a funcionar parcialmente em outubro, há algo estranho no ar — e não são aviões de carreira. Os ensaios técnicos indicaram que parte da pista precisará ser refeita, porque a sub-base (aquela abaixo da camada de asfalto) foi afetada pelo alagamento. A Fraport garante que já começou fazer as intervenções necessárias, mas quem olha pelo lado de fora não vê máquinas pesadas atuando na pista.
A explicação da empresa é que as intervenções são pontuais e que, na comparação com as obras que ampliaram a pista para os 3.200 metros, não se verá esse tipo de movimentação e maquinário. Na definição da empresa, as intervenções são "cirúrgicas".
Fotos tiradas pela empresa na tarde desta segunda-feira (22) mostram que parte do asfalto foi raspado e, em alguns trechos, foi retirada a segunda camada do pavimento. A base, segundo os laudos técnicos, não foi afetada. De acordo com a assessoria da Fraport, o processo é feito em etapas, por trecho e camadas, o que explicaria a percepção externa de que o ritmo é mais lento do que gostariam os interessados na retomada dos voos.
A pergunta que fica é: será que se o problema fosse no aeroporto de Frankfurt o tempo de início das obras seria o mesmo? OK, o aeroporto de Frankfurt não ficaria submerso por um mês por falta de bombas de drenagem, como ocorreu em Porto Alegre, mas a demora angustia não só quem precisa viajar, mas quem acompanha os prejuízos sofridos pelo Estado com o aeroporto fechado. A ampliação do número de voos em Canoas atenua, mas está longe de resolver os problemas.
Por mais que seja um clichê e que a comparação pareça absurda, não dá para ignorar a velocidade com que o Japão reconstrói seu sistema de transporte depois de um terremoto ou que a China executa uma obra viária a partir do zero. A pista do Salgado Filho não precisará ser 100% refeita. A ampliação feita pela própria Fraport está intacta, mas o pedaço que precisa ser demolido e reconstruído é crucial para a retomada, mesmo que parcial dos voos.
O ministro da Reconstrução, Paulo Pimenta, ainda não está alarmado. À coluna, Pimenta disse que o governo não recebeu qualquer tipo de pressão da empresa e que, por ora, não há motivo para preocupação.