O reciclador Antônio Roberto Bombaxini, 57 anos, teve um momento de alegria nos últimos dias em meio às perdas materiais e à tristeza de ver a enchente de maio destruir sua casa de madeira na Ilha das Flores, no bairro Arquipélago, em Porto Alegre. Após matéria de Zero Hora mostrar seu drama – as águas levaram sua prótese dentária, o que dificultava sua vida na hora das refeições e o impedia de sorrir –, o flagelado foi procurado por uma clínica e está de dentadura nova.
— Terei de fazer enxerto na boca. É só para não ficar sem dentes no momento — afirma seu Antônio, exibindo gratidão por alguém ter estendido a mão para atenuar um pouco de sua dura realidade.
Nesta quarta-feira (10), a reportagem voltou ao acampamento às margens da BR-116, pouco antes da ponte sobre o Rio Jacuí em direção ao sul do Estado, onde seu Antônio vive, de forma precária, desde 3 de maio. Sua pequena barraca de lona preta estava bastante avariada em função da chuva. O sofá verde que costuma sentar enquanto espera doações de marmitas parecia uma grande esponja de tão encharcado pela chuva das últimas horas.
Desta vez, ele mostrou sua casa, que teve o banheiro levado pela inundação. O assoalho ficou com grandes buracos em vários pontos, por onde é possível se ver a água no solo abaixo alagado. Por ali também entram ratos e existe o risco de se pisar em falso.
Na entrada da residência, se veem peças de sucata que ele reciclava, consertava e ganhava a vida. No telhado, impacta a visão de uma geladeira branca deixada após as águas baixarem. Trata-se de uma triste lembrança da maior cheia da história do RS.
— Se tivesse alguém que pudesse me ajudar financeiramente, porque terei de fazer aos pouquinhos (a reconstrução da casa). O meu problema é o lugar para morar — compartilha, agasalhado com touca de lã, moletom com capuz, calças e galochas pretas com detalhes em amarelo.
Bombaxini permaneceu um tempo em um abrigo no bairro Partenon. Porém, não gostou da experiência, onde precisava ir dormir às 22 horas. Decidiu montar acampamento às margens da estrada junto dos vizinhos, que considera como parentes.
Ali tudo é precário. Os veículos passam perto das barracas, há barulho e animais soltos como galinhas e cães. Todos aguardam a hora de retornar para casa enquanto a chuva e o frio representam o inimigo deste momento. O flagelo deles já dura quase 70 dias.
Após ver a matéria em Zero Hora, a dentista Aline Ferreira Ravison, da Oral Unic de Guaíba, decidiu ajudar o morador da Ilha das Flores a recuperar o sorriso e a capacidade de mastigar.
— Senti que eu precisava fazer alguma coisa. Servir através do nosso trabalho é uma coisa que dá uma satisfação. Não tem preço para isso — reflete a profissional, dizendo que protagonizar o ato de solidariedade foi uma experiência emocionante.
Segundo a profissional, serão necessários alguns meses ainda de tratamento gratuito até o procedimento ser encerrado de forma definitiva.
— O seu Antônio está com as próteses já. Colocamos alguns implantes, mas ele não tem muita estrutura óssea adequada para fazer uma prótese fixa mais rápido — conclui a dentista.
Casal de vizinhos também recebe próteses novas
O casal de vizinhos Luiz Carlos, 61, e Tereza Silva de Araújo, 55, também ganhou próteses. Os dois, que vivem com seis filhos na Ilha das Flores, seguem como o amigo no acampamento improvisado à espera do momento de voltar para o lar. A Oral Center Implantes, de Porto Alegre, foi quem os procurou para auxiliar com os dentes.
— Perdi tudo na minha casa. Só salvamos uma geladeira e um freezer — conta Tereza, que também atua como recicladora, pesca e cria porcos para ganhar algum dinheiro.
O marido Luiz Carlos cita que a água chegou aos quatro metros de altura na residência da família.
— Aqui (acampamento) tudo é crítico. Desde ir ao banheiro até o medo constante de a enchente voltar e alagar tudo de novo — diz.
O dentista Daniel Esteves Cauduro afirma que foram implantadas próteses fixas no casal.
— Foi bem emocionante ver a comoção deles no final — menciona, acrescentando: — Ninguém pode ajudar todo mundo, mas todo mundo pode ajudar alguém.
Nesta quarta-feira, a reportagem viu uma equipe da Defesa Civil chegando em um veículo ao acampamento naquele trecho para ver a situação das pessoas.
Como auxiliar
Quem puder auxiliar seu Antônio e o casal de vizinhos pode fazer qualquer doação pelo PIX, que está em nome do parente Eduardo Silva de Araújo. A chave é 60028790057.