Enquanto permanecem as análises e testes para avaliar o tamanho dos estragos no Salgado Filho, o Rio Grande do Sul, apesar da malha aérea emergencial colocada em prática desde o dia 10 de maio, após a enchente, se torna um Estado isolado, sem poder contar com o seu principal aeroporto.
Com as expectativas alimentadas por uma reunião entre representantes do governo e da concessionária Fraport, nesta terça-feira (18), o impasse entre o poder concedente e a concessionária depende de acerto financeiro que permita agilizar as obras necessárias à retomada das operações em Porto Alegre.
Um levantamento da Secretaria Estadual do Turismo (Setur) dá novos números ao problema. Segundo o relatório, entre 3 de maio (data do alagamento do Salgado Filho e da interrupção das operações) e 30 de novembro estavam programados 18,5 mil voos, com capacidade para 3 milhões de assentos. O mesmo estudo aponta que 451 mil pessoas que viajariam para o Estado não têm passagem garantida.
Além disso, de janeiro a abril, conforme igual base de dados, do Estado partiram conexões com sete países, em 657 voos semanais comandados por sete companhias aéreas diferentes. Ao todo, foram mais de 1,7 milhão de assentos programados.
Na comparação com esse desempenho, o crescimento foi de 15% na capacidade de assentos internacionais. Entretanto, com o fechamento do Salgado Filho, os voos semanais previstos para junho caíram de 444 mil assentos, em 2023, para pouco mais de 70 mil em 2024 – uma redução de 84% na oferta que afeta em cheio às companhias aéreas e o setor turístico no Estado.
Realocação dos Assentos
De acordo com o material da Setur, a realocação de capacidade de assentos para outros aeroportos da região Sul entre 20 de maio e 30 de junho será da seguinte maneira
- Canoas: 25,6 mil assentos
- Florianópolis: 33,7 mil novos assentos
- Caxias do Sul: 8 mil
- Passo Fundo: 4 mil
- Jaguaruna (perto de Criciúma, em SC): 2 mil assentos.
Absorção da demanda
No que se refere à média semanal, a atual disponibilidade de voos na chamada malha emergencial é de 116 semanais em sete aeroportos gaúchos e dois de Santa Catarina. Autorização concedida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deverá ampliar a oferta para 151 voos semanais nos próximos dias.
Trocando em miúdos, o que está disponibilizado, em sete dias sequer atinge 65% do que era a média de operações no Salgado Filho, ou seja, 180 voos a cada 24 horas, segundo assinala o Anuário 2023 do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
Com base no estudo da Secretaria do Turismo, apenas 14% dessa capacidade semanal foi absorvida pelos aeroportos de Rio Grande do Sul, Florianópolis e Jaguaruna. O cálculo do material indica que os 73 mil assentos realocados dentre os 524 mil assentos do Salgado Filho equivalem a 14%.
Com isso, aproximadamente 73 mil novos assentos foram realocados para os aeroportos de Canoas, Caxias do Sul, Passo Fundo, Jaguaruna e Florianópolis para mitigar a perda de cerca de 500 mil assentos do aeroporto Salgado Filho. Os assentos remanescentes (86%) não foram realocados pelas companhias aéreas, segundo os dados disponíveis no momento.
Efeitos para o turismo
Da ocupação hoteleira em Porto Alegre antes da enchente, em média, 60% dos hóspedes chegavam à Capital via aérea. Na Serra, esse índice sobe para 70%, apontam os dados do Sindicato de Hospedagem e Alimentação (Sindha).
Sem o aeroporto em fluxo normal, os hoteleiros preveem médias de ocupação muito baixas, uma vez que 37 hotéis tiveram que fechar as portas porque ficaram alagados e mais de 20 ainda não sabem quando voltarão a atuar.