
Com a perspectiva de interrupção das operações do Salgado Filho até dezembro e em meio a queda de braços entre o governo federal e a concessionária Fraport, que pede verbas da União para reparar os estragos causados pela enchente, a ampliação da chamada malha aérea emergencial do Estado se torna ainda mais desafiadora e necessária.
Desde o dia 10 de maio, os seis aeroportos ativos para voos comerciais no Estado tiveram ampliação da oferta. De 7 mil assentos disponíveis por semana, saltou para 17 mil, um aumento de 10 mil passageiros, sem contabilizar os acréscimos de movimentação nas cidades catarinenses de Florianópolis e Criciúma. Ambas também servem para o embarque e o desembarque de quem precisa de deslocamento no Rio Grande do Sul.
Considerada a alternativa mais viável, a Base Aérea de Canoas atualmente conta com 35 voos semanais. Junto a Caxias do Sul, responde por 51,7% da atual disponibilidade aérea do Estado. Nos próximos dias, passará a ter 49, mas poderia suportar até 70 pousos e decolagens em igual período. É o que afirma a presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Jurema Monteiro.
A ampliação, conforme assinala a executiva, depende de melhorias na área de movimentação dos passageiros. A estrutura montada no Park Shopping Canoas, em tempo recorde, não sustentaria sozinha esse aumento de demanda, observa Jurema.
Por outro lado, uma nota técnica publicado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no domingo (9), autoriza a inserção de dois slots (horários de chegada e partida de voos) nesta semana e outros três slots na próxima semana, quando se atingirá um total de 10 frequências diárias ou as 70 semanais mencionadas pela presidente da Abear. Mas não há informações sobre sobre as providências tomadas para as melhorias nas áreas de circulação de passageiros.
Outra possibilidade, comenta a presidente da Abear, seria viabilizar novas operações em aeroportos que atualmente estão inativos para a aviação comercial no RS. Segundo ela, a entidade e as companhias aéreas chegaram a prospectar alguns aeroportos do Estado mas, em todos os casos, a intenção esbarrou na inviabilidade de promover os ajustes necessários para atingir critérios mínimos de segurança operacional.
A própria CEO da Fraport, Andreea Pal, admite ter avaliado a disponibilidade de Torres, local considerado privilegiado em razão das condições da estrada de acesso à Capital. Por outro lado, o tamanho do investimento demandado em pista e infraestrutura fizeram com que a ideia fosse descartada.
Sem previsão de inclusão de aeroportos na malha aérea emergencial
A malha aérea disponível atualmente no Estado, enquanto o Salgado Filho permanece fechado, contabiliza, em média, 116 voos semanais. Com a ampliação em Canoas para 70 voos semanais, chegaria a 151. O volume seria ainda bastante abaixo da média diária fixada em 180 voos (216 nos dias de maior movimento) pelo anuário 2023 do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
Por isso, o órgão garante que "providências são adotadas no sentido de ampliar gradativamente o número de voos naquele aeródromo". Ainda de acordo com o texto, não há definições sobre a inclusão de novos aeroportos na chamada malha aérea emergencial do RS.
O que diz a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)
- Em nota, a a Anac afirma que, paralelamente ao cálculo do reequilíbrio para recomposição das perdas à concessionária do Salgado Filho , o governo federal está trabalhando para garantir um ambiente adequado à reconstrução do Salgado Filho dentro do menor prazo possível, a fim de viabilizar a retomada das operações aéreas no aeroporto.
- Como exemplo, a agência cita o esforço colaborativo entre órgãos federais civis e militares, concessionária Fraport e empresas aéreas para criar alternativas com vistas à retomada do transporte aéreo no RS e os esforços estão concentrados na oferta de voos para fazer frente ao fechamento temporário do Salgado Filho.
- Em conjunto com as companhias aéreas e administradores aeroportuários do Rio Grande do Sul, o governo federal segue criando alternativas para ampliar a oferta de voos, incluindo estudos para permitir a realização de voos domésticos noturnos e a internacionalização de aeródromos no Estado.
As opções
Base Aérea de Canoas
- Após a ampliação da quantidade de voos de cinco para 10, ocorrida nessa semana, o coordenador do Curso de Ciências Aeronáuticas da Escola Politécnica da PUCRS, Lucas Fogaça vê pouca margem para ganho de escala no local.
- Isso acontece, segundo ele, porque a pista da Base Aérea é “mais limitante do que a de Porto Alegre” antes do evento climático, o que acaba por restringir o tamanho e o peso das aeronaves que conseguem operar com capacidade total.
- Além disso, ele lembra que há menos disponibilidade de pátio e infraestrutura para atendimento a passageiros, fatores necessários para manter os níveis de segurança operacional nos padrões requeridos.
- Outro elemento a ser considerado é a concomitância de operações militares que também precisam ocorrer. É o caso do transporte de suprimentos, peças e pessoal, que mantém a estrutura de segurança de voo e operacionalidade do nosso sistema de aviação civil.
Caxias do Sul e Florianópolis
- Ambos os aeroportos têm capacidade limitada. Florianópolis realizou, em média, 137 voos diários, e Caxias do Sul, 13 voos diários em 2023, segundo o anuário do Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Com a operação da malha aérea emergencial, o aeroporto de Santa Catarina recebeu incremento de 21 voos. A cidade da Serra Gaúcha opera atualmente com 25.
- De acordo com o coordenador do Curso de Ciências Aeronáuticas da Escola Politécnica da PUCRS, Lucas Fogaça, provavelmente ficarão longe de conseguir suprir a totalidade de voos que eram executados em Porto Alegre antes do evento climático.
- “É um paliativo para não deixar a Capital desassistida por completo, mas não dará conta da demanda normal” em hipótese alguma, sacramenta o especialista.