Entardece no Parque Germânia. O cheiro forte que emana do lago atrai o faro curioso da husky siberiana de quatro anos chamada Mel. No encalço da pet, a passos decididos, percorre o barraco gramado a engenheira florestal Daniela Bate, 43 anos. Ela quer impedir Mel de comer a carne de um dos peixes mortos, cuja carcaça havia sido retirada da superfície de água por uma ave e deixada sobre a calçada.
— Ela comeu? — pergunta a chilena que trocou Los Angeles, "não da Califórnia, mas do sul do Chile", por Porto Alegre, para trabalhar e viver.
Fica aliviada ao ouvir que sua amiga de pelagem acinzentada cheirou, mas não provou a iguaria sinistra, sem olhos e pútrida.
— Gosto de Porto Alegre. É uma cidade muito arborizada — descreve.
Perto dela, a menina de três anos expressa compaixão pelos animais mortos, com encantadora ingenuidade.
— Pobre peixinho, pobre peixinho — diz Jade, sob a vista risonha do pai.
Matheus Souza, 31 anos, conta que a família deixou o bairro Humaitá após a enchente e se estabeleceu no Jardim Europa, onde encontrou no Germânia um espaço de lazer e contato com a paisagem natural.
Eles passeiam com Gamora, uma amistosa canina sem raça definida, cujo grande porte se contrapõe à docilidade.
— A gente vinha e trazia ração. Jogava grãos na água para ver os peixes em movimento. Agora, evito — afirma o gerente de loja, enquanto afasta a pequenina do cenário que espera não fixar-se na memória dela.
Problema havia ocorrido no verão
As cenas que preocupam frequentadores do parque não são novidade. A mortandade de peixes já havia ocorrido de forma mais intensa em março deste ano, quando a administração do Germânia identificou a formação de uma superpopulação de tilápias no habitat.
O agrupamento de espécimes desproporcional ao espaço, de acordo com Rui Back, presidente da Associação dos Amigos do Jardim Europa (AAJE), entidade comunitária adotante do local, ocorre pelo abandono desordenado e não autorizado de peixes no lago, possivelmente por usuários que desistem de criá-los em aquários e creem que o lugar poderia ser um abrigo adequado.
Somado ao calor daquele mês, assim como ocorre neste começo de novembro, faltam condições ambientais favoráveis e os bichos começam a morrer.
— A quantidade de tilápias é bem menor do que no passado. Mas a razão é a mesma: variação brusca da temperatura da água e a pouca produção do oxigênio. Estamos em contato com a prefeitura para a realização da limpeza do lago — explica o administrador do Germânia.
Back diz acreditar que a imagem a qual tem causado desconforto aos frequentadores será modificada, voltando ao estado de normalidade nos próximos dias.