Encontrar peixes mortos no laguinho do Parque Germânia, em Porto Alegre, tornou-se mais frequente nas últimas semanas e trouxe preocupação aos usuários da área pública adotada por uma associação. Nesta terça-feira (26), o problema persistia e chamava a atenção de quem visitava o local.
— É uma visão inesperada — pontuou a esteticista Luiza Guimarães, 35 anos.
Ela conta que frequenta o parque há cerca de uma década. Nos últimos anos, a moradora do Jardim Europa passeia quase diariamente pelo lugar com a filha Izabella, de seis anos. Entre outras atividades, as duas costumam parar diante do laguinho para observar os animais.
— Com criança, em uma forma de vida urbana, é muito válido estar em um local onde ela pode ter contato com elementos da natureza — define a mãe.
A imagem dos peixes mortos é impactante aos olhos de quem visita o laguinho. Alguns deles têm as órbitas fundas pela ausência do globo ocular, ilustrando um cenário diferente do habitual. Exalam odor incompatível com a ambientação aprazível do Germânia.
— Costumo vir bem cedo pela manhã. Ver esse lago coalhado de peixes mortos é uma cena horrorosa — descreve a contadora Jussara Fernandes, 70 anos.
Na tarde desta terça, a imagem não era tão significativa. Por duas vezes, equipes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), tinham passado por ali e recolhido parte dos peixes mortos.
Mesmo assim, por volta das 17h, flutuavam próximas da superfície pelo menos cinco tilápias de um palmo e meio de comprimento. Uma delas tinha somente metade do corpo preservado. Outros animais, como tartarugas e carpas, atacavam a carcaça em busca de nacos de alimento.
Sobre outra carcaça, que jazia com o ventre aberto e voltado para o alto, moscas assentavam e forravam-lhe a pele de pintas escuras.
Superpopulação e calor extremo
Conforme o presidente da Associação dos Amigos do Jardim Europa (AAJE), entidade comunitária adotante do Parque Germânia, o problema está em vias de ser solucionado. Rui Back explica que o fenômeno atinge exclusivamente tilápias.
— Fomos investigar e descobrimos que são animais mais sensíveis ao calor extremo. Como a temperatura alta se manifestou com força e frequência nos últimos dias, tivemos este efeito sobre a fauna do lago — afirma.
Back diz ainda que os animais inadvertidamente abandonados no local — nenhum deles é natural do habitat — formaram uma superpopulação no ambiente onde não existem predadores naturais.
— Por esta razão, examinamos também a condição de oxigênio da água, pois entendemos que, embora não sejam nativos, formam um cenário de vida interessante para o paisagismo e os frequentadores do parque — comenta.
O presidente da AAJE indica que uma licitação para remoção da superpopulação está sendo elaborada pela Smamus, e parte do conjunto de animais será realocada. A associação, segundo Back, solicitou suporte técnico e financeiro à administração pública pois a providência, ao custo aproximado de R$ 40 mil, extrapolava a capacidade econômica da AAJE.
— Estamos estudando também a colocação de algum predador que possa contribuir no controle populacional do habitat. Mas a viabilidade desta estratégia será apontada pela Secretaria de Meio Ambiente — pondera.
A Smamus, por sua vez, confirmou a elaboração de processo licitatório para adequação da fauna ao espaço disponível no lago, com expectativa de providências efetivas nas próximas semanas. O suporte técnico será mantido até o desfecho do caso.