Após o recuo da água da enchente na região, ruas do bairro Belém Novo, no extremo-sul de Porto Alegre, estão com transbordamento de esgoto pluvial. A reportagem de GZH circulou pelas avenidas Beira Rio e Juca Batista, além das ruas Euclides Goulart e Inácio da Silva, e encontrou extravasamentos em oito pontos desses locais.
Além do transbordo de esgoto, há um forte cheiro em trechos das vias e em frente a estabelecimentos comerciais. A maioria fica na Juca Batista.
Roger Condotta, proprietário de uma oficina na região, afirma que o problema é antigo, tendo início em 2020, mas que virou diário há 45 dias. Diz ainda que ele e os vizinhos abriram dezenas de protocolos pedindo solução, mas que nunca foram atendidos.
— É um cheiro insuportável e até mesmo os clientes ficam incomodados. A gente até aconselha as pessoas, incluindo as crianças que vão para o colégio aqui perto, a não irem caminhando por aqui, já que não é água da chuva, mas do esgoto. Temos aqui os documentos e um problema que nunca foi solucionado — lamenta.
Para amenizar o impacto do mau cheiro e do volume de água pluvial acumulado na Avenida Juca Batista, próximo ao numeral 10.400, os pais de Condotta abriram um valo, ao lado da via. O nível apresentou recuo, mas o odor de esgoto persiste na região.
— Meus pais são aposentados e abriram esse valinho, o que ajuda quando o nível aumenta bastante. O problema é que esse cheiro insuportável continua e não temos pra onde correr — disse.
Circulando pelo bairro, a reportagem identificou o cenário considerado mais grave pelos moradores, ao lado da Praça Inácio Antônio da Silva. É nesta localidade onde se encontra a Escola Estadual Evarista Flores da Cunha. Na região, há um bueiro vertendo esgoto ao lado do muro do colégio, em um trecho próximo a salas de aula.
Segundo os moradores, a situação é agravada pelo não funcionamento da Estação de Bombeamento de Esgoto (EBE) de número 1, no bairro Belém Novo. Eles alegam que, em algumas localidades, o problema ocorre desde o fim do mês de abril.
Porém, em alguns trechos, segundo a advogada e moradora do bairro Michele Rodrigues, 43 anos, o problema persiste há anos. Protocolos foram elaborados e encaminhados ao município, e denúncias foram feitas ao Ministério Público (MP).
— Os moradores se uniram para encaminhar as denúncias e a prefeitura não tomou as medidas — afirmou.
Mãe de duas filhas, uma delas de 15 anos e estudante da Escola Evarista Flores da Cunha, a advogada aponta que as reclamações sobre os vazamentos também acontecem entre os estudantes. No local, GZH também encontrou um trecho do muro quebrado, em um ponto próximo ao esgoto pluvial.
— As crianças costumam a reclamar destes problemas, que são inadmissíveis. Não é possível que o governo não encontre alternativas para resolver esse extravasamento de esgoto. Infelizmente, a população não é ouvida como deveria — lamenta a advogada.
GZH questionou o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) sobre o funcionamento da estação, que alegou que a EBE 1 está parada desde o início da enchente. Segundo a autarquia, ainda não há previsão de normalização.