Porto Alegre conta com 122 abrigos e pouco mais de 8,9 mil abrigados neste sábado (1°). A informação é do coordenador da Central de Abrigos e secretário municipal de Inovação, Luiz Carlos Pinto. Uma série de fatores contribui para o fechamento desses espaços, que já chegaram a ser 173 durante o auge da maior enchente da história do RS.
— Agora que as águas baixaram, muitas famílias voltaram para casa. Apesar de os abrigos terem muita qualidade, a condição do abrigado é coletiva e limitada. Passado um mês, as pessoas vão para a casa dos parentes e até se unem para alugar imóveis — explica o coordenador.
Outros fatores se somam ao cenário de desmobilização. Os voluntários dos abrigos cansam e vão escasseando, as doações diminuem e os próprios locais precisam encerrar a função de abrigo para recuperar sua atribuição original. Além disso, os abrigados começam a ter algum fôlego financeiro e podem buscar opções mais privativas.
— Estamos pensando em fazer abrigos emergenciais de média duração. A ideia é criar um espaço para cerca de 500 pessoas que usaríamos na medida do necessário — antecipa Luiz Carlos Pinto, citando o Centro Vida como primeira opção.
Se a iniciativa se concretizar, a prefeitura deverá passar recursos para abrigos que aceitem ficar abertos por mais tempo. Neste momento, Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), igrejas, escolas e clubes sociais centralizam a função de abrigos, mas os fechamentos ocorrem diariamente.
Este foi o caso do abrigo do Colégio Mãe de Deus, no bairro Tristeza, que foi entregue no fim de semana passado. As 130 pessoas e 35 pets abrigados estavam no ginásio em função da cheia, mas a instituição solicitou o espaço para que os alunos pudessem voltar às aulas.
— As pessoas voltaram para suas casas e de parentes, e foram realocadas para outros abrigos de acolhimento — diz o coordenador do ex-abrigo, Juliano Garcia.
Mas a mobilização dos voluntários do ex-abrigo continua. Neste sábado, 15 pessoas iriam em quatro carros visitar ex-abrigados em Eldorado do Sul, para ajudar, levar mantimentos e agasalhos. Garcia assegura que o auxílio será mantido.
— Continuaremos com este trabalho, sem prazo de validade — resume.
Agora que as águas baixaram, muitas famílias voltaram para casa. Apesar de os abrigos terem muita qualidade, a condição do abrigado é coletiva e limitada. Passado um mês, as pessoas vão para a casa dos parentes e até se unem para alugar imóveis
LUIZ CARLOS PINTO
COORDENADOR DA CENTRAL DE ABRIGOS
O abrigo das igrejas Brasa Zona Norte e Brasa Church, localizado no bairro Sarandi, na zona norte da Capital, ainda conta com cerca de 270 pessoas acolhidas. O objetivo é manter os flagelados pelo tempo que for necessário.
— Vamos ficar até o fim com eles. Não vamos embora — afirma o pastor da Igreja Brasa Zona Norte, Ricardo Glavam.
De acordo com o pastor, empresários vinculados à igreja do país inteiro têm ajudado com doações.
— Temos conexão com todo o Brasil. Os empresários membros da igreja se voluntariaram e ofertaram tudo. Todo serviço médico é ofertado pela igreja — detalha, acrescentando:
— O RS está de joelhos. O Estado está quebrado. O nosso grande desafio é falar para o Brasil continuar nos ajudando.
Por sua vez, o espaço montado pela Associação Aliadas, junto com outros parceiros, está encerrando as atividades no Square Garden, no bairro Santa Cecília. A área cedida pela empresa Melnick chegou a acolher 82 pessoas, sendo que sua capacidade máxima era 90. O lugar recebia apenas mulheres e crianças, e tinha até berçário.
O RS está de joelhos. O Estado está quebrado. O nosso grande desafio é falar para o Brasil continuar nos ajudando
RICARDO GLAVAM
Pastor da Igreja Brasa Zona Norte
Na quinta-feira (30), 36 mulheres foram encaminhadas para a Casa Violeta, que funciona em um prédio na Rua Cabral, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre. A abertura deste espaço foi iniciativa do médico pediatra e marido do governador Eduardo Leite, Thalis Bolzan, além da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), com a gestão da Me Too Brasil e do Instituto Survivor.
Neste sábado, outras 20 mulheres deixarão o Square Garden para voltar para suas residências. As portas serão fechadas em definitivo na segunda-feira (3).
— Antecipamos a entrega porque se trata de um espaço privado e sempre teve caráter emergencial. Doamos itens como roupas, produtos de higiene e cestas básicas para mais de 5 mil CPFs e entidades — menciona a presidente da Associação e coordenadora do abrigo, Ali Klemt.
Como o Square Garden recebeu inúmeras doações, agora os itens serão repassados para outros abrigos. Donativos para recém-nascidos também serão encaminhados para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre.