As máquinas de escrever guardadas dentro da loja de seu Ebanez Flores, 84 anos, na Rua Espírito Santo 394, no centro de Porto Alegre, agora apresentam uma coloração marrom, reflexo da lama que secou após serem atingidas pela enchente na região da Avenida Loureiro da Silva. A água atingiu 80 centímetros, cobrindo prateleiras e entrando em gavetas, que guardam peças dos equipamentos e ainda estão com potes cheios do líquido embarrado.
Mesmo assim, há pequenas vitórias. A máquina mais antiga da casa, uma Ruf de 96 anos, molhou pouco e poderá ser aproveitada porque é mecânica, e não elétrica. Com a loja já recebendo clientes, inclusive alguns consertos de equipamentos que molharam em Canoas, Flores diz que é preciso seguir em frente e não vai desistir.
— Vamos lavando, limpando, desmontando e vamos tocar ficha, não podemos parar— salienta.
Equipamentos atingidos
Em uma das máquinas delas, o idoso mostra a peça de uma Remington 12, modelo de mais de 90 anos, que estava mergulhado dentro do pequeno pote de plástico.
— Foram 55 máquinas afetadas. Estou desmanchando e vendo o que vai dar para aproveitar de alumínio e cobre — conta o proprietário, que diz já ter tido mais de 600 máquinas de escrever em loja, mas que agora perdeu as contas.
Em cima do mesmo gaveteiro, uma caixa registradora Sweda, daquelas usadas no comércio, de mais de 80 anos, se salvou porque ficou em uma altura segura.
— Daqui para baixo está tudo podre, tudo perdido. Fitas lá, tudo perdido — mostra o comerciante, que estima cerca de R$ 70 mil em prejuízos, entre eles máquinas IBM avaliadas em R$ 1 mil.
Uma registradora centenária, que pertence a uma cliente de Porto Alegre, também está segura e passa por pintura na mesa interna do estabelecimento.
Seu Ebanez Flores trabalhou 24 anos realizando a manutenção das máquinas da Zero Hora. Os registros dos equipamentos que eram usados no jornal ainda estavam em papel e ficaram um pouco danificados pela água. Já a lista escrita à mão que ele tinha com os nomes dos clientes ficou totalmente estragada.
— Tava um terror isso aqui. É a nossa vida né — relembra Cipriano Vargas, 68 anos, o funcionário que há 40 anos trabalha junto na loja.
— Ele quase caiu duro quando chegou aqui — comenta seu Ebanez Flores.
O negócio, que começou na Rua Caldas Júnior e mudou de endereço na década de 1980, completará 52 anos de história em agosto, segundo Flores.