Em meio a um burburinho de motores, marteladas e orientações destinadas a 140 operários, ganha forma na zona norte de Porto Alegre o centro de acolhimento provisório destinado a receber cerca de 800 pessoas que perderam suas casas na enchente de maio. Das duas tendas principais previstas para abrigar camas individuais e alojamentos familiares, uma já estava montada na manhã desta terça-feira (25), e a outra exibia a estrutura metálica onde depois será instalada a mesma lona branca utilizada em hospitais de campanha durante a crise sanitária da covid-19. A previsão do governo estadual é de que o complexo fique pronto até 10 de julho.
Chamado oficialmente de Centro Humanitário de Acolhimento, o espaço localizado no Centro Vida, na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, é um dos três atualmente em construção no Estado por meio de parceria entre o Piratini, as prefeituras e a iniciativa privada — um na Capital e dois em Canoas. Se for necessário, poderão ser erguidos mais dois em Porto Alegre, totalizando cinco centros.
— Vamos avaliar se será preciso chegar aos cinco centros, erguendo outros dois na Capital, ou se apenas esse será suficiente — afirma o vice-governador Gabriel Souza, que realizou uma vistoria no local na manhã de terça ao lado do secretário municipal de Obras e Infraestrutura, André Flores.
Conforme Souza, atualmente há cerca de 1,7 mil desabrigados na Capital e outros 1,5 mil em Canoas, mas os números vêm caindo ao longo das últimas semanas. Parte desse contingente consegue voltar para casa ou se beneficia de alguma política habitacional como aluguel social. Os remanescentes que forem selecionados para se transferir de abrigos improvisados para o Centro Vida contarão com um espaço de 8.950 metros quadrados (um campo de futebol inteiro mais cerca de um terço).
As duas tendas principais, com divisórias internas ainda em fase de instalação, serão conectadas por outra mais estreita, centralizada, onde haverá um espaço de acolhimento inicial, com áreas de assistência psicológica e legal, um ambiente de convivência e uma área voltada para crianças. Conforme a planta baixa, o setor infantil terá 73 metros quadrados com um "cantinho da leitura", mesas e cadeiras, brinquedos como escorregadores e jogos. O mobiliário e os brinquedos foram doados pela iniciativa privada.
Em outros pontos, haverá zonas multiuso, banheiros com chuveiro, lavanderia e um espaço de conectividade com computadores ligados à internet, entre outras utilidades. Estão previstos dormitórios separados para homens e para mulheres desacompanhados, para mulheres com filhos e unidades familiares. Pessoas que se identificam como "não-binárias" (com identidades de gênero que não são estritamente masculinas ou femininas) contarão com um chamado "alojamento neutro" com 48 vagas.
O centro de acolhimento terá vigilância da Brigada Militar e será gerido pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), órgão vinculado à ONU com experiência internacional na administração de espaços voltados a pessoas em situação vulnerável.
— É importante que as pessoas que venham para cá entendam que se trata de algo temporário, e que não percam a esperança. Para isso será importante oferecer cuidados com a saúde mental, possibilidade de capacitação e ações de assistência social — afirma a coordenadora de emergência da OIM, Maria Ramos, que esteve no local acompanhada da especialista em gestão e coordenação de abrigos da OIM/Brasil, Ellene Carla Baettker.
A construção das unidades de acolhimento é custeada em parceria do poder público com o sistema Fecomércio-RS, Sesc e Senac. A empresa contratada para a montagem dos abrigos, a DMDL, ergueu 14 hospitais de campanha voltados a atender pacientes de covid-19 durante a pandemia em vários locais do Brasil.