Assim como milhares de pessoas, os animais também são vítimas da cheia histórica do Rio Grande do Sul. Com cidades alagadas, não é algo incomum cruzar com alguns deles assustados, correndo por estradas ou nadando por rios para sobreviver.
Os búfalos, por exemplo, são conhecidos por serem excelentes nadadores. Conseguem percorrer grandes distâncias, conduzidos pelas correntezas da água. Mas depois alguém precisa resgatá-los.
É nesta parte da história que aparece o trabalho de resgate da veterinária Desireé Möller, 36 anos. Presidente da Associação Gaúcha de Criadores de Búfalos (Ascribu), ela estima que até 40 búfalos já tenham sido resgatados em Porto Alegre por ela e outros voluntários.
— Teve um caso de uma búfula que nadou 140 quilômetros desde Venâncio Aires e que resgatamos na Ilha da Pintada na cheia do Vale do Taquari no ano passado — cita a veterinária, que cria 50 desses animais em sua propriedade de 200 hectares em Itapuã, em Viamão, na Região Metropolitana.
O país conta com cerca de 3 milhões de búfalos, enquanto o Rio Grande do Sul tem 50 mil cabeças. A criação visa especialmente o abate para o consumo da carne e para a produção do leite e de queijo.
— O búfalo nada muito bem e boia melhor do que outros animais. Temos encontrado eles em Canoas, na Usina do Gasômetro, no aeroporto Salgado Filho, no Beira-Rio e em frente ao BarraShoppingSul, onde fica a escolinha do Grêmio — enumera a veterinária.
Como os animais possuem uma capacidade pulmonar maior, conseguem armazenar mais oxigênio. Também são criados em áreas alagadiças e até mergulham a cabeça para pastar. A água não é algo estranho para esses animais. Segundo ela relata, os búfalos são encontrados exaustos após a luta pela sobrevivência. Precisam ser laçados e transportados por caminhão para serem devolvidos aos seus proprietários.
— A maioria dos búfalos que param em Porto Alegre vem da Ilha do Lage (perto do Rio Jacuí) — diz Desireé, que lida com esses animais há seis anos.
Após os resgates, eles passam por outras situações de estresse. Uma delas é a curiosidade das pessoas que se aproximam com seus pets para tirar fotos com o celular.
— Teve um búfalo resgatado de barco que chegou ao Gasômetro e saiu correndo. Chegou em terra firme e teve um monte de gente gritando. É estressante para eles — afirma, dizendo que os animais salvos pesam em média entre 450 e 550 quilos.
A veterinária ainda não encontrou nenhum búfalo morto. Também não houve registros de animais machucados.
— Ainda não chegamos nesta fase (de encontrar búfalos mortos). O rio está muito alto ainda — observa.
Nem tudo é um mar de rosas durante os resgates. Ela fala sobre um caso que ficou sabendo por meio de outras pessoas.
— Teve o resgate de uma búfula em frente a uma igreja em Guaíba. O pessoal colocou num reboque, levou para o CTG (Centro de Tradições Gaúchas) e carneou. Não é legal. Carnear o animal que é de alguém é o mesmo que saquear uma loja — revela a veterinária, mencionando que ninguém pode alegar que foi por fome, já que o Estado tem recebido donativos e alimentos.
A resgatista compartilha a sensação de participar de um resgate de um búfalo em meio à cheia no RS.
— Um lado é o fato de você salvar um animal. O outro é devolver para alguém o pouquinho do tanto que ela perdeu — reflete.
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), veterinários e políticos que conhecem o trabalho dela são quem costumam chamá-la para os resgates. E Desireé comenta sobre o que é mais importante nessas horas.
— Quando for passar a informação, tem que ter data, horário e local. No começo, me passavam animais que já tinham sido resgatados — explica.
Como ajudar
Quem ver algum búfalo perdido pode acionar a veterinária pelo WhatsApp (51) 98416-1893, ou ainda pelo Instagram (@bufalo_ascribu e @desimoller).