Os sete militares que divulgaram no domingo (26) informação falsa de que um dique havia rompido em Canoas, na Região Metropolitana, foram afastados pelo Exército. O alerta acabou motivando a evacuação de algumas ruas do bairro Mathias Velho, um dos mais atingidos pelas enchentes que assolam o Rio Grande do Sul.
Eles percorreram ruas em duas viaturas com megafones, pedindo que população deixasse as residências. Os afastados são um oficial, um sargento e cinco soldados. Conforme o Exército, os militares faziam parte da 14ª Brigada de Infantaria Motorizada, unidade subordinada à 5ª Divisão de Exército, e integram a Operação Taquari 2, de apoio às ações de ajuda humanitária em Canoas.
Eles respondem por uma contravenção disciplinar prevista no artigo 7 do Código Penal Militar: disseminar boato ou notícia tendenciosa. A punição é o afastamento das funções e possível retardamento em promoções de carreira. Eles estão sendo ouvidos e alegam que receberam informações de outros servidores públicos.
Ao longo da noite de domingo (26), moradores foram orientados pelos militares a evacuar imediatamente o bairro por conta do suposto rompimento do dique, mas a estrutura não rompeu. Vídeos e relatos sobre o alerta circularam nas redes sociais, assustando moradores e tirando pessoas de casa. As imagens mostram um certo despreparo na ação dos militares. Uma das viaturas transita com faróis apagados, em plena noite.
A própria prefeitura de Canoas desmentiu a informação e o Exército admitiu que errou.
"Militares que atuavam no Bairro Mathias Velho, souberam, sem confirmação, que um dique havia se rompido e imediatamente passaram a comunicar erradamente aos moradores da necessidade de evacuação das áreas consideradas em risco. O Exército Brasileiro esclarece que tal situação decorreu de um grave erro de procedimento", disse, em nota, o Exército, que pediu "sinceras desculpas pelo ocorrido".
O Comando Militar do Sul, órgão que controla as unidades do Exército nos três Estados do Sul do país, esclarece que o afastamento é para apurar o que levou os militares que estavam na região tomar essa iniciativa súbita, sem consultar o escalão superior sobre a veracidade da informação de rompimento do dique. Após isso, elucidado o assunto, poderão ou não voltar para suas funções na operação Taquari 2, sem problemas.
As enchentes já deixaram 169 mortos e 56 desaparecidos, segundo boletim desta segunda-feira (27) da Defesa Civil. Outras quatro pessoas morreram de leptospirose, após contato com água contaminada – há 1.256 casos suspeitos da doença no Estado.
Uma investigação foi instaurada para apurar de onde chegou a informação falsa e por qual razão os militares fizeram a divulgação sem que ela fosse verificada.
Leia na íntegra a nota do Exército:
"A 14ª Brigada de Infantaria Motorizada, Grande Unidade subordinada à 5ª Divisão de Exército, informa que, na noite de domingo, 26 de maio de 2024, por volta das 18 horas, foi notificada de um incidente envolvendo tropas que integram a Operação Taquari 2 em apoio às ações de ajuda humanitária no município de Canoas. Militares que atuavam no Bairro Mathias Velho, souberam, sem confirmação, que um dique havia se rompido e imediatamente passaram a comunicar erradamente aos moradores da necessidade de evacuação das áreas consideradas em risco. O Exército Brasileiro esclarece que tal situação decorreu de um grave erro de procedimento. Medidas administrativas foram adotadas para apurar rigorosamente os fatos. Os militares diretamente envolvidos foram afastados de suas atividades durante o processo de investigação. A 14ª Brigada de Infantaria Motorizada reitera seu compromisso com a população afetada pela catástrofe ambiental, em especial com os moradores de Canoas-RS e manifesta sua solidariedade a todos os moradores que foram erroneamente informados e pede sinceras desculpas pelo ocorrido".