O aguaceiro que pressiona a infraestrutura da área central de Porto Alegre também afeta a zona norte da Capital. Famílias do bairro Sarandi enfrentam alagamentos que invadem casas e ruas da região, cortada pela Avenida Assis Brasil.
Na madrugada desta sexta-feira (3), o Arroio Sarandi transbordou na região da Rua Francisco de Medeiros, segundo moradores. Pessoas com água até a cintura, carregando eletrodomésticos, roupas e alimentos, e animais dividiam o espaço onde antes da cheia havia uma via. A água invadiu a rua, parte do terrenos das casas e até uma pequena passarela usada pelos moradores para cruzar o arroio. Apenas o corrimão de ferro servia de referência para o local da passagem de pedestres.
Morando na região há 47 anos, o aposentado Antonio Domingos de Quadros, 68, afirma que nunca viu avanço da água com tanta intensidade e velocidade em todo o tempo que vive no bairro:
— Essa é a maior cheia. Já deu várias aqui, mas essa é a maior. É muito triste ver isso acontecer e ver as pessoas não conseguindo salvar as coisas. Não tem muito o que fazer. Vamos lutar pela vida.
Alguns moradores fizeram um abrigo improvisado em uma praça às margens do arroio. O escorregador, antes usado por crianças para brincar, foi utilizado como apoio para amarrar uma lona que protegia uma barraca, mulheres, crianças e cachorros. No local, além de roupas e outros itens domésticos, um pão recém-assado, retirado às pressas de uma das casas, também estava abrigado da chuva que ameaçava voltar a qualquer momento.
— Não tem muita previsão de sair. Vamos ficar cuidando como vai ficar a água. Vamos tentar ir para a casa de familiares — relatou a moradora Maria Aparecida, 49 anos, que estava embaixo do abrigo improvisado.
O movimento nesse ponto do bairro Sarandi era intenso ao logo da manhã. Carros entravam e saíam com pessoas e objetos. Algumas caem no choro logo após cruzar a água. Familiares se abraçavam e tentavam achar força para confortar os mais abalados.
4º Distrito
Na manhã desta sexta-feira, parte do 4º Distrito estava deserta. No bairro Floresta, boa parte das empresas estava fechada na região da Rua Voluntários da Pátria, recortada por trechos secos e com água sobre a rodovia entre o Centro e a Avenida Brasil. Uma das empresas com as portas cerradas estava com sacos de areia em frente ao portão, à espera da água que pode invadir a região nas próximas horas, caso a previsão da prefeitura se confirme.
Na comporta número 12, próxima à região da Avenida Sertório, uma equipe da prefeitura trabalhava para tentar evitar o colapso da estrutura que faz parte do sistema de proteção contra enchentes da cidade. Uma retroescavadeira e um trator colocavam pedras e terra para tentar calçar o portão na tentativa de evitar o tombamento da estrutura.