O principal ponto de ligação entre Porto Alegre e Cachoeirinha segue interrompido em razão da força da água do Rio Gravataí. O limite entre os municípios, no encontro entre as avenidas Assis Brasil, na Capital, e General Flores da Cunha está tomado pela água. O local, que antes abrigava duas pistas separadas por um canteiro central, parece os tradicionais açudes que marcam a paisagem de localidades do Interior.
Quem tenta acessar a cidade pelo local tem que pegar a freeway e usar a Rua Papa João 23 como alternativa. Agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) orientam os motoristas no local.
Algumas pessoas que se arriscam a passar pela área a pé ou de bicicleta, logo que a água bate na altura da canela ou dos joelhos, acabam desistindo em seguida.
Paulo Roberto Daineze, 48 anos, carregava sua bicicleta no local por volta das 7h, tentando acesso ao município de Cachoeirinha para trabalhar. Chegou até certo ponto do acúmulo de água e voltou:
— Tentei entrar, mas quando cheguei ali no meio e a correnteza tá forte. Daí nem me arisquei. Não vale a pena. Depois, ligo pra firma e vejo o que vou fazer.
Daineze trabalha em Cachoeirinha há cerca de nove anos. Disse que nunca viu situação parecida. Para ele, isso é um dos símbolos da intensidade do temporal que assola o Estado nesta semana.
Poucos minutos depois, pelos menos mais quatro pessoas tentaram cruzar o local de bicicleta. Duas se arriscaram e atravessaram o banhado, buscando pontos de água mais baixa.
Por volta das 8h, o trânsito se intensificava no local, com pessoas circulando entre Porto Alegre, Litoral Norte e Região Metropolitana. Alguns motociclistas tentavam furar o bloqueio, mas davam meia volta em seguida ao deparar com o “rio”, que aumentou sua extensão sobre onde antes era uma travessia urbana.
Nível dos rios
Porto Alegre e Região Metropolitana devem ser afetados pela elevação dos rios mesmo que a chuva pare nas próximas horas. A previsão é de especialistas consultados pela reportagem na quinta-feira (2). O cenário é esperado por conta do aumento do nível dos cursos d'água em todo o Estado, o que ocorre desde o início da semana e já deixa 31 mortos, 60 desparecidos e mais de 15 mil fora de casa.
O volume de um rio sobe quando há grande quantidade de chuva em um curto espaço de tempo ou precipitação constante durante dias. Há, porém, demora para que a elevação no nível da água se manifeste em pontos mais afastados, segundo Franco Buffon, gerente de hidrologia e gestão territorial do Serviço Geológico do Brasil (SGB).
— Alguns rios, como o Gravataí e o dos Sinos, têm uma resposta hidrológica mais lenta, então leva um pouco mais de tempo para que tudo que caiu de chuva reflita no nível (do Guaíba). A chuva mais distante, lá no Rio Jacuí, por exemplo, demora ainda mais para chegar. Portanto, a chuva de quinta e sexta-feira nesses rios vai demorar dois ou três dias para chegar a Porto Alegre, dependendo das condições — comenta.