Na tarde desta segunda-feira (6), moradores dos bairros Menino Deus e Cidade Baixa receberam alertas para deixarem as suas casas por conta de alagamentos. Esse movimento ocorreu devido ao desligamento da casa de bombas de número 16, do Departamento Municipal de Aguá e Esgotos (Dmae), que fica próxima da Rótula das Cuias. A desativação temporária foi solicitada pela CEEE Equatorial, por medidas de segurança.
Agora, apenas quatro das 23 casas de bombas da cidade estão em operação, segundo informações do próprio Dmae — não há previsão de religamento das estações que estão inoperantes no momento e há possibilidade de desligamento das demais.
E o que isso significa? Segundo Fernando Fan, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, ainda mais água do Arroio Dilúvio pode invadir a cidade por meio de bueiros, fazendo um caminho inverso do convencional.
— Ao longo do Dilúvio, existem várias casas de bombas, assim como nos diques à beira do Guaíba. A água que se acumula dentro da cidade é bombeada para fora pelas casas de bombas. Se as casas de bombas desligam, podemos ter refluxo para dentro da cidade, pelo Dilúvio, que foi o que aconteceu na Cidade Baixa, por exemplo — detalha Fan.
O diretor-geral do Dmae, Mauricio Loss, afirma que nem toda a água que retorna para os bairros tem origem no refluxo, mas, também, pode ser represada pelo alto nível do Dilúvio, fazendo, assim, com que o conteúdo dos esgotos cloacais e pluviais não tenham vazão. Desta forma, não é feito o seu trajeto convencional — que é ir para o arroio e, por isso, comecem a vazar pelos bueiros.
— O que dificulta é que o nível do Dilúvio está extremamente elevado. Aquelas tubulações que seriam a descarga, da rede de drenagem, a partir do momento que fica submersa, com a força da água do Dilúvio, gera-se uma pressão tão grande sobre essa rede que a água que deveria escoar e chegar até o Dilúvio, não consegue — diz Loss ao concordar que, em algumas partes a água do arroio está conseguindo invadir a cidade pelo sistema.
Tanto Fan quanto Loss dizem que a possibilidade remota, caso as quatro últimas casas de bombas parem de funcionar, de que as partes mais baixas da cidade atinjam o mesmo nível da cota do Guaíba — que é a mesma do Dilúvio. Ou seja, alguns pontos da Capital poderiam estar com água na altura da superação da cota de inundação do lago, considerando, é claro, a topografia do local. Um mapa realizado pelos pesquisadores detalha tal possibilidade (veja abaixo).
Até o momento, as quatro casas de bombas restantes que seguem em operação são as de número 7 (que protege as regiões de Santa Maria Goretti e Vila Sesi), 11 (Hipódromo e Vila Hípica), 15 (Avenida Ipiranga, entre Getúlio Vargas e Erico Veríssimo) e 19 (Vila Planetário).
Entretanto, conforme a água for avançando pelas ruas, pode ser necessário o desligamento dos bairros onde elas estão e, assim, deixar a Capital completamente desprotegida — os sistemas ficam inoperantes ou pela inundação do local ou, então, por orientação da CEEE Equatorial. Assim, Loss não descarta outros desligamentos por segurança.
A alta das águas na cidade, porém, de acordo com Fan, da UFRGS, não deve influenciar a redução do Guaíba. Quando a altura do lago começar a diminuir, as ruas também devem começar a secar. Porém, o nível deve baixar lentamente e, somente entre os próximos sete e 10 dias, a cidade deverá alcançar os quatro metros na medição realizada no Cais Mauá, um metro acima do nível de transbordamento na região.