A ideia de revitalizar a Escadaria 14 de Outubro, em Guaíba, surgiu ao notar que a passagem de pedestres não estava sendo tão valorizada como merecia. Afinal, o espaço tem bastante história: próximo da escadaria, fica o Cipreste Farroupilha, a árvore que se tornou símbolo oficial de Guaíba. Conforme o folclore gaúcho, foi à sombra do Cipreste que, na véspera do dia 20 de setembro de 1835, líderes farroupilhas como Bento Gonçalves, Onofre Pires e Gomes Jardim traçaram os planos para a invasão de Porto Alegre, dando início à Revolução Farroupilha. No topo da escadaria, há o Museu do Gaúcho (entrada gratuita), que conta a história deste período histórico. Lá também fica a casa de Gomes Jardim, local que hoje é um patrimônio histórico e que está aberto para visitação.
A escadaria foi construída no lugar da Lomba do Inferno, uma rua íngreme que existia no local. A escadaria tem esse nome em homenagem à fundação da cidade, que ocorreu em 14 de outubro de 1926. Ela está localizada em frente ao Píer de Guaíba e oferece ampla visão para o lago.
Valorização
A diretora do Projeto Rua das Artes, Simone Schlottfeldt, explica que desde o princípio a iniciativa buscava apresentar, na arte da escadaria, fatos da Revolução Farroupilha. Ela, que atua como produtora cultural, foi convidada, assim como o produtor cultural Wagner Seelig, para desenvolver o projeto em parceria com a prefeitura da cidade ainda em 2022, através da Secretaria de Turismo, Desporto e Cultura de Guaíba.
O projeto foi aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) e conta com o patrocínio de empresas que estão na cidade. De acordo com Simone, essa seria a primeira escadaria do Brasil neste formato, que contém fatos históricos representados visualmente nos mosaicos:
— Existe a Escadaria Selarón, no Rio de Janeiro. Ela é um pouco maior em degraus. Mas, realmente, retratando fatos históricos no mosaico, que é um trabalho artístico incrível, a nossa escadaria é a única.
Ainda segundo a produtora cultural, a principal diferença entre a Escadaria Selarón e a 14 de Outubro é que a primeira possui mosaicos montados de maneira aleatória. Não se forma nenhuma figura, diferente do que ocorre nos painéis que compõem a escadaria em Guaíba.
Sete patamares de história
Em janeiro deste ano, os mosaicos começaram a ser produzidos. No fim de fevereiro, a instalação das peças na Escadaria 14 de Outubro teve início. A conclusão do trabalho, no entanto, ocorreu no início de abril, dias antes da inauguração. A escadaria contém sete patamares e, ao todo, 132 degraus.
Os painéis que deram origem ao mosaico possuem 3 metros e são feitos com cerâmicas pequenas e coloridas. De acordo com o artista visual Leo Rodrigues Filho, responsável pela produção e instalação das peças, a técnica possui grande durabilidade e resistência, mesmo com a ação do tempo. Leo lembra que até hoje se encontram murais do período Romano em perfeito estado, mesmo após 2 mil anos. Além da escadaria, também foi construído um mural de 21 metros no topo da escada.
Esse projeto, porém, não foi o primeiro trabalho do tipo realizado por Leo. Ele já organizou e executou, com artistas convidados, em Bagé, o Projeto Arte e Memória na Rua. Na ação, foram feitos murais em prédios públicos, em parceria com a prefeitura local. Segundo ele, o trabalho em Guaíba foi um desafio, pelas dimensões e pelo ineditismo, que valeu a pena.
— O objetivo de dedicar essa obra aos moradores de Guaíba e visitantes é valorizar a identidade do lugar, sendo patrimônio deste povo zeloso dos valores gaúchos. O que garante a preservação desta obra — destaca o artista.
Evento de entregas terá shows
Para comemorar a entrega da Escadaria 14 de Outubro, a prefeitura organizou um evento nesta sexta-feira (5) com o show do Mano Lima, às 19h, solenidade de inauguração do projeto, às 20h30min e show de encerramento do Gaúcho da Fronteira às 21h.