Porto Alegre é uma cidade emoldurada por elevações e variações de terreno, com cerca de 65% de seu território (496,684 km²) composto por morros. São cenários nos quais há mais de 100 quilômetros em extensão de trilhas, que levam a variedade de fauna e flora, em um ambiente que mescla o bioma Pampa com resquícios de Mata Atlântica.
Com diferentes níveis de desafio e variadas formas de acesso, estes caminhos revelam um novo olhar sobre a capital gaúcha, onde o silêncio e a presença da natureza tornam ainda mais exuberante o pôr do sol reconhecido como uma das mais belas imagens do Rio Grande do Sul. Para marcar o aniversário de 252 anos da Capital, celebrado nesta terça-feira (26), conheça três destes destinos e dicas para planejar sua aventura.
Morro Santana
Nosso Everest (montanha mais alta do planeta, com 8.848 metros) é bem mais modesto. Tem pouco mais que um décimo da elevação do Pico da Neblina, maior montanha do Brasil (2.993 m). Entretanto, do Morro Santana, também conhecido como morro da "pedreira", podemos ter a vista mais próxima do espaço em Porto Alegre. Um marco, edificado em pedra e tijolos, localizado em meio a quilômetros de trilhas e estradas rudimentares, delimita o ponto onde a Capital atinge seu extremo, com 311 metros acima do nível do mar.
Porto Alegre está posicionada a 10 metros de altitude. Na mesma face oposta ao arquipélago do Guaíba, na passagem entre as zonas leste e norte da cidade, descansa o colosso de rocha granítica. Sua encosta tem uma enorme cicatriz, que pode ser avistada por olhares projetados a partir de diversos bairros e até de municípios metropolitanos.
— É difícil acreditar que foi a mão do homem que fez isso — afirma o guia de turismo Arthur Teixeira, 35 anos.
Tuxo da Trip, como é conhecido entre os praticantes de trilhas e escaladas, observa a cratera e tenta definir um tamanho para ela. Não consegue. O cânion artificial hoje tem pinheiros e arbustos crescidos em sua encosta. Não transparece mais a imagem da exploração mineral.
A vista de cima para a pedreira desativada é um dos pontos mais emocionantes após a subida do Morro Santana. Dá uma impactante noção sobre a capacidade humana de transformar o ambiente. Para chegar a estes lugares representativos para a história recente da Capital, o desafio físico possui nível intermediário, aponta o guia de turismo.
— Para alguém que está com o preparo físico em dia, eu diria que é fácil. Costumo dizer que, na trilha, não precisamos dar nosso melhor, mas não devemos dar o nosso pior — compartilha Teixeira.
A entrada pode ocorrer pelo bairro homônimo ao morro e por outros pontos. Não há acesso comercial. Embora seja uma área privada, conforme a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, não existe um impedimento para a visitação, tampouco valores são cobrados para o acesso.
A subida a partir desta base já começa sob inclinação acentuada e percorre neste tipo de terreno por cerca de 20 minutos. O chão é um misto de touceiras de capim entre pedras e farelo de rocha e areia.
— É melhor pisar sobre as pedras que estão bem fixadas ou sobre as raízes da vegetação para não escorregar — indica o guia.
A caminhada lomba acima absorve bastante energia. A respiração intensifica. Uma parada para reidratar vai bem. Falar e subir vão se tornando ações incompatíveis. Tênis aderentes e resistentes são fundamentais.
Contudo, em meia hora de esforço viável, numa trilha que não deve ser recomendada para crianças com menos de 10 anos e pessoas com restrições de força e mobilidade, chega-se ao planalto do Morro Santana.
Símbolo da degradação tem nascente cristalina
A partir do platô, há uma variedade de estradas e trilhas que levam a diferentes caminhos e vistas. O Santana é um dos mais extensos na cidade. Além das paradas essenciais no marco dos 311 metros e na cratera da pedreira, existe uma visita imperdível. A cascata que se forma no alto do morro é uma das nascentes que abastecem o Arroio Dilúvio.
Até este ponto, para o qual a presença de um guia facilita muito, são quase cinco quilômetros de trilha em cenários de campina e floresta, proporcionando uma percepção da grande variedade de formas e cores, pelas plantas e árvores que a compõem. Ouve-se vozes de pássaros e pequenos primatas.
A água da nascente é cristalina. Não dialoga em imagem e odor com o Dilúvio. Difícil mesmo de acreditar que são o mesmo elemento na origem. O som das corredeiras, entre pedras e raízes desnudas, é um calmante contra a pressão dos hábitos urbanos.
Durante o auge do verão, explica o guia, a queda d'água se resume a uma coluna clara e gélida. Nos períodos de chuva menos escassa, o véu de água se estende como um lençol transparente e congelante pela parede de rochas. Apesar da temperatura aparentemente pouco convidativa, a experiência do banho na cascata é imperdível.
A volta tem os mesmos 4,8 quilômetros de extensão. A ambição, que havia exigido impulso da musculatura posterior dos membros inferiores, vira resistência e pedirá que os músculos anteriores funcionem como um freio para o corpo. Mas o cansaço já foi recompensado. Resta a resistência.
São cerca de quatro horas de percurso para visitar três atrativos sensacionais e contemplar a vista mais elevada da cidade. A trilha do Morro Santana testará foco e irá sugerir um entendimento sobre propósito e limites. Conquistar o Everest de Porto Alegre é um aprendizado.
SERVIÇO
Morro Santana (311 metros)
- Acessos diversos por vias nos bairros como Morro Santana e Partenon.
- Propriedade privada, sem cobrança de ingresso, sem infraestrutura e sem descritivo de área.
- Tem bom sinal de telecomunicação em quase todos os pontos de trilha.
- Horário solar é recomendável, pois há trechos de mata fechada e baixíssima luminosidade, sendo imprescindível o uso de lanternas à noite para uma trilha segura.
- Nível da trilha é intermediário, com alguns trechos de caminhada leve e outros intensos, como a partida e o retorno à base, há percursos variáveis com 10 quilômetros de extensão para ir e voltar da cascata, em tempo estimado de quatro horas, incluindo paradas para hidratação, alimentação, fotos e contemplação da paisagem.
- Importante vestir roupa leve e calçado esportivo, utilizar chapéu e proteção solar, carregar ao menos um litro de água e alimento leve para reposição da energia.