Porto Alegre é uma cidade emoldurada por elevações e variações de terreno, com cerca de 65% de seu território (496,684 km²) composto por morros. São cenários nos quais há mais de 100 quilômetros em extensão de trilhas, que levam a variedade de fauna e flora, em um ambiente que mescla o bioma Pampa com resquícios de Mata Atlântica.
Com diferentes níveis de desafio e variadas formas de acesso, estes caminhos revelam um novo olhar sobre a capital gaúcha, onde o silêncio e a presença da natureza tornam ainda mais exuberante o pôr do sol reconhecido como uma das mais belas imagens do Rio Grande do Sul. Para marcar o aniversário de 252 anos da Capital, celebrado nesta terça-feira (26), conheça três destes destinos e dicas para planejar sua aventura.
Morro da Tapera
A 252 metros, um coração desenhado na rocha avisa que há aventura em Porto Alegre. É nesta representação romântica, desenhada em tinta vermelha e contorno na cor branca, que culmina a principal trilha do Morro da Tapera, na Zona Sul. A formação rochosa é chamada de "pedra do rei" e forma um miradouro edificado pela natureza.
— É o único morro onde temos uma vista praticamente em 360º para a cidade — descreve o guia de turismo de aventura Márcio Viana, 45 anos.
Para chegar ao local é preciso resistência e determinação. A trilha exige que os aventureiros tenham algum conhecimento ou preparo para encarar uma subida com inclinações que podem se aproximar dos 45º.
O terreno é estável, mas a base da trilha é formada por vias onde pneus de motocross demarcaram sulcos. Tais fendas, explica Viana, acentuaram-se ao longo do tempo pelo efeito da erosão provocada pela chuva. A primeira etapa da caminhada é um estímulo para a atenção visual, mas, é preciso atenção sobre onde pisar e calcular a força física a ser empregada em cada passada.
Esta parte da aventura, no entanto, dura cerca de 15 a 20 minutos e leva até um terreno mais aprazível, mas não menos desafiador, pela encosta do morro.
— Daqui não subiremos mais em linha reta, porque tem perigo de tombo. Vamos costeando pelas laterais — anuncia o guia.
A partir do aviso, a caminhada passa a ser por campo, onde o capinzal se fecha e produz atrito com as pernas. Isso provoca a dúvida sobre a necessidade do uso de calça no lugar da bermuda, mesmo no calor, para aumentar a sensação de proteção. Neste trecho, a trilha reproduz um tipo de fenda no solo similar ao primeiro, porém menos acentuadas.
Em seguida, o percurso atinge a encosta, ponto no qual o terreno elevado fica bastante evidente. A vegetação se torna mais densa e é possível perceber pela lateral direita um profundo declive do qual não se enxerga a base. O risco de queda é real, embora a trilha se demonstre segura para quem se mantém nela.
— Agora é muito importante observar onde estamos pisando. Se alguém estiver cansado é só pedir que podemos parar, descansar e tomar água — adverte Viana.
A dica do guia não é apenas um conselho a ser avaliado. Ouvir quem conhece as características do terreno é fundamental para o sucesso da expedição. Hidratação, respiração, movimento.
Os trechos abertos oferecem visual, mas continuam pedindo cuidados. Os espaços encobertos concedem conforto térmico e pedem um olhar mais atento aos obstáculos, como galhos baixos, raízes expostas, teias espichadas como pontes entre um vegetal e outro pelas aranhas da mata.
Com cerca de 40 minutos de marcha em ritmo compassado, mas não apressado, chega-se a um campo magnífico, ornamentado por alguns capões de mato e rochedos. A trilha atravessa tais formações, neste ponto já sem os degraus anteriores.
Adrenalina sobre a pedra do coração
É neste platô que se encontra a pedra do rei e seu coração de 252 batimentos. O mirante rende fotografias belíssimas. Subir na rocha, no entanto, poder trazer riscos e requer o auxílio de equipamentos ou guias profissionais, sobretudo para quem não está habituado a escaladas. Sobre a pedra do rei, o sentimento de conquista se apodera dos sentidos. Adrenalina. Emoção.
A visão percorre o horizonte. O olhar busca uma vista em 360º. Isso não acontece tão simplesmente. É preciso descer da rocha, caminhar alguns metros e ganhar campo de visão pela campina. A perspectiva de enxergar todos os setores de Porto Alegre é magnífica.
O silêncio no lugar é impressionante. É possível ouvir a própria respiração ao tomarmos imagem da paisagem em vídeo. Respiração e pulsação se elevam. A jornada de volta é reconfortante. A beleza do lugar, inebriante. A cadência prossegue exigente.
— O retorno é a parte mais importante. Não vamos nos distrair agora. É na volta que a cabeça está mais relaxada e a gente pode sofrer um acidente — alerta o guia.
SERVIÇO
Morro da Tapera (252 metros)
- Acesso pela Estrada Jorge Pereira Nunes, bairro Hípica
- Propriedade privada, sem cobrança de ingresso, sem infraestrutura e sem descritivo de área
- Tem bom sinal de celular e internet em quase todos os pontos de trilha
- Existem trechos de bosque fechado e baixa luminosidade, sendo imprescindível o uso de lanternas para uma trilha segura, sobretudo se o retorno ocorrer à noite
- Nível da trilha varia de leve a intermediário
- Percurso de até quatro quilômetros, em tempo estimado de 2h30min, incluindo paradas para hidratação, fotos e contemplação da paisagem
- Importante vestir roupa leve e calçado esportivo, utilizar chapéu e proteção solar, carregar ao menos um litro de água e algum alimento leve