O Palácio Piratini é como uma galeria de arte, instalada dentro de um museu de história onde funciona a sede de um governo. Essa é a percepção que se constrói sobre os sentidos de quem participa da visitação guiada ao prédio público que completará 103 anos em 17 de maio.
Recentemente restaurado em parte de suas instalações, o Piratini mantém entre seu acervo obras de arte como o conjunto de 18 afrescos do pintor italiano Aldo Locatelli que eternizam com grande beleza a lenda do Negrinho do Pastoreio, uma das mais representativas narrativas do folclore gaúcho.
A atividade tem duas opções de roteiro. Uma é realizada em dias de semana e percorre ambientes da Ala Governamental. Outra que é promovida aos finais de semana e abrange também espaços da Ala Residencial. As próximas visitas guiadas de final de semana estão previstas para os dia 27 e 28 de abril. Abertura das inscrições deve ocorrer ao meio-dia de 22 de abril pelo site palaciopiratini.rs.gov.br.
Neste domingo (24), quatro grupos participaram de visitas. O agendamento para a sessão de fim de semana, que teve outros quatro grupos participantes no sábado, fechou as vagas em poucos minutos após sua abertura.
A atividade começa pelo saguão na entrada principal do prédio, chamado de Vestíbulo Principal e situado diante das escadarias que conduzem ao segundo pavimento, passando pelos bustos dos ex-governadores Júlio de Castilhos, idealizador da construção do palácio; Carlos Barbosa, que deu a partida às obras, e Getúlio Vargas, que foi o primeiro governante residente no endereço.
No alto, a primeira parada ocorre no Salão Negrinho do Pastoreio, ambiente onde são realizados atos solenes, como as cerimônias para transmissão do cargo de governador. O espaço é o mais amplo e imponente da edificação. Tem grandes aberturas envidraçadas, com sacadas e vista para a Praça da Matriz. Nele, estão os murais de Aldo Locatelli.
— O artista pintou as imagens diretamente nas paredes, sobre andaimes, entre os anos de 1951 e 1955. Ele utilizou duas técnicas principais. Alguns painéis são coloridos, como aquele no qual o menino reza ajoelhado para Nossa Senhora. Outros, que possuem atmosfera mais dramática, como a surra de relho e o abandono do menino ferido sobre um formigueiro, estão desenhados em tons de luz e sombra — descreve a guia do passeio, Patrícia Bicoski, integrante do Departamento de Conservação e Memória do Palácio Piratini.
Os visitantes são convidados a registrar fotografias e recebem alguns minutos para contemplar as obras de arte, circulando livremente pelo salão. Posar para uma selfie, tendo como cenário afrescos de Locatelli e a luminária principal da majestosa dependência, foi a forma de marcar uma lembrança do evento pelo bancário Daniel Pinheiro da Silva, 40 anos, sua esposa Raquel, 39, e a pequena Helena, oito anos, filha do casal.
— Eu estive aqui em uma visita escolar há uns 30 anos. É muito legal voltar tanto tempo depois e ter uma visão diferente. A lembrança da infância ficou marcada, foi importante, mas hoje consigo valorizar a beleza da arquitetura, entendo o contexto histórico, visualizo com mais significados a representação da lenda do Negrinho do Pastoreio — descreve o visitante.
O passeio prossegue por outros ambientes, como o Salão Alberto Pasqualini, onde também há obras de Locatelli. Uma delas é o mural Formação do Rio Grande do Sul, que ilustra representações da colonização portuguesa, da atividade rural, de costumes campeiros e do povo originário indígena.
Uma das figuras simboliza o guerreiro guarani Sepé Tiaraju e está desenhada com traços característicos da escola renascentista. Assemelha-se ao afresco A Criação de Adão, pintado por Michelangelo Buonarroti no teto da Capela Sistina, no Vaticano.
Depois do Alberto Pasqualini, a atividade vai até a antessala do Gabinete do Governador, com mais pinturas do artista italiano, e culmina no próprio Gabinete, onde um telefone antigo toca. A voz é de um artista que se identifica como Borges de Medeiros e dá boas-vindas aos visitantes, surpreendendo e provocando sorrisos entre os integrantes da atividade.
Ala residencial
O bônus da visitação em finais de semana é o passeio pela Ala Residencial. Evidentemente, a visita fica restrita a espaços de recepção para atividades sociais e profissionais do governante, o que não reduz em nada a experiência de imaginar como seria morar em um palácio.
O setor do prédio mantém a mesma imponência exibida na primeira etapa do passeio, porém, ao invés do contato com as magníficas obras de arte, a sensação de nobreza do lugar se estabelece pela sofisticação da arquitetura e do mobiliário.
As dependências visitadas são os salões dos Banquetes, dos Espelhos e Oval (ou Oratório). Em todos os ambientes, há riqueza de conteúdo histórico e representatividade acerca do requinte da moradia, onde vive o atual governador do Estado, Eduardo Leite. Destaca-se, no Salão dos Espelhos, um belíssimo piano Grotrian Steinweg, de 1932.
A visita termina no pátio, diante da escultura A Primavera, entalhada em pedra pelo artista Paul Landowski, criador do Cristo Redentor da cidade do Rio de Janeiro, um dos símbolos do Brasil sob os olhares da comunidade internacional.
Agendamentos
As inscrições para visitação ao Palácio Piratini devem ser realizadas pelo site palaciopiratini.rs.gov.br. Para o agendamento de grupos escolares, as instituições devem encaminhar seus pedidos pelo e-mail palacio-piratini@gg.rs gov.br.
O Piratini está localizado na Praça Marechal Deodoro, a Praça da Matriz, no Centro Histórico de Porto Alegre.