Com vista para o Guaíba, no 18º andar do Centro Administrativo Fernando Ferrari, Simone Stülp recebeu a reportagem em seu gabinete, que fica ao lado de uma sala adesivada com a marca do South Summit. Em entrevista, ela abordou as principais ações que o governo do Estado tem feito para manter e atrair empresas no RS, além do olhar para a educação e a formação de estudantes e professores para a inovação.
Qual é a importância de um evento do porte do South Summit Brazil para o nosso Estado, especialmente com a vinda de fundos estrangeiros?
Toda essa história começa em 2020/2021, no primeiro ciclo do governador Eduardo Leite, quando se decide buscar um marco para o que nós chamamos de construção de um ecossistema gaúcho de inovação de classe global. Nós queremos que o Rio Grande do Sul seja reconhecido em âmbito global. E, portanto, precisamos estar conectados a tudo que diz respeito a esta dinâmica dos ambientes mais inteligentes, da inovação tocando o desenvolvimento da sociedade. A gente sempre fala que a inovação é “meio” para que a gente busque qualidade de vida. Nós tínhamos uma série de estratégias no Estado, que continuam sendo trabalhadas até hoje. Uma delas é vinculada ao programa InovaRS, que trabalha a dinâmica dos ecossistemas regionais de inovação, que são as oito regiões que nós temos no Estado. Mas faltava o que a gente chama de cereja do bolo. Qual é a cereja do bolo? Nos colocarmos como um ponto no mapa dos grandes eventos mundiais, dos grandes ecossistemas globais de inovação. Também pela perspectiva de atrair pessoas que ainda não discutem o tema da inovação, ainda não participam deste jogo. E um grande evento tem este papel também de trabalhar de uma forma um pouco diversa a cultura da inovação.
Quais ações o governo tem feito, para além dos dias do evento, para que esses ecossistemas e ações se tornem perenes e em todas as regiões do Estado?
Uma das ações é vinculada ao programa InovaRS, com todos os atores que são relevantes no Estado do Rio Grande do Sul, com algo que para mim é pedra fundamental de tudo isso: respeitar as características e as especificidades de cada uma das regiões. Precisamos pensar na inovação como sendo o motor e o impulsionador deste desenvolvimento do Estado, não somente da Região Metropolitana. E o InovaRS tem isso de formar grupos e líderes que estejam dispostos a vestir esta causa e trabalhar em prol do desenvolvimento das regiões, por meio da inovação. No ano passado, tivemos um resultado maravilhoso. Estivemos de julho a novembro nas oito diferentes regiões, e o mais interessante é que nós não vamos sozinhos, nós vamos junto com outros parceiros. A gente tem, cada vez mais, trabalhado com dados, em resultados que já colhemos e já produzimos. Algo muito interessante que tem nascido a partir do South Summit Brazil são os nossos eventos tradicionais, as nossas feiras que ocorrem no interior do Estado. Hoje, quase todas elas têm um palco voltado para inovação, uma arena digital, uma arena agrodigital, com diferentes nomes. Tudo isso está efervescente e é um resultado do próprio South Summit.
Qual trabalho é feito para a manutenção desses CNPJs aqui no Estado?
É mapear todos os riscos e oportunidades e criar programas focados para cada uma das fases que a startup irá passar. Desde o início — quando muitas vezes se tem uma boa ideia mas ainda não se tem um negócio — existe um papel que precisa ser feito e precisa ser fomentado, a etapa de aceleração do negócio. Depois, vem a manutenção, no sentido de "cresci, agora quero ganhar o mundo, mas eu quero ficar aqui". A primeira questão que eu diria é que este tema esteja na pauta, porque se a gente olhar um pouquinho para trás, até bem pouco tempo, isso nem estava sobre a mesa. E eu acredito que nós precisamos incluir as pessoas que talvez estejam nesses locais periféricos, discutindo junto para compor que tipo de estratégia nós vamos desenvolver. Também acho, portanto, que é fundamental a gente sempre dizer que a construção da inovação precisa ser coletiva, colaborativa. E aí eu poderia colocar um terceiro elemento que é testar possibilidades, que é um pouco também do jogo da inovação: fazer pilotos de projetos e avaliar se está funcionando, porque não existe solução mágica.
Quais ações o governo do Estado tem colocado em prática entre as duas secretarias (Inovação e Educação) para preparar os jovens para o mundo do empreendedorismo e da inovação? É preciso investir na educação de base?
A gente não resolve focando somente na Educação Superior, mas ela é um elemento fundamental nesse processo. Nós estamos trabalhando dentro da lógica de um programa, que é o Educar para Inovar, que trabalha na questão das escolas de Ensino Fundamental e Médio. Para que esses temas que estamos discutindo aqui — a lógica do South Summit, a importância da inovação como uma estratégia de desenvolvimento, os ecossistemas de inovação, as janelas que o empreendedorismo nos traz, as oportunidades de termos uma formação mais criativa — possam preparar os cidadãos do futuro. A gente precisa olhar para as nossas crianças e para os nossos jovens. Dentro do Educar para Inovar a gente tem trilhas de formação e de conhecimento estabelecidas. A gente trabalha, principalmente, na formação dos professores, porque essa também é uma questão muito importante. Eu sou professora há muitos anos, em nível de Educação Superior, mas acredito que não basta uma matéria ou uma disciplina que trate sobre inovação e empreendedorismo nas escolas. Eu acredito em muito mais, já que são temas transversais. Defendo que isso esteja presente em todas as disciplinas, em todas as matérias que os alunos terão contato. A gente tem trabalhado, também, em um outro programa que eu sou completamente apaixonada, que é o Professor do Amanhã, que é, justamente, um processo de formação em nível superior na área das licenciaturas. Para que possamos, já na formação deste novo professor, inserir esses elementos que estamos falando aqui, todas essas dinâmicas para que o docente já possa chegar na escola preparado para estes desafios.
“Nós queremos que o RS seja reconhecido em âmbito global. Precisamos estar conectados a tudo que diz respeito à inovação, tocando o desenvolvimento da sociedade.”
SIMONE STÜLP
Secretária estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia
Qual é a expectativa e o sentimento para este South Summit Brazil?
Estamos com um sentimento de tranquilidade, no sentido de que, obviamente, já estamos mais seguros neste processo. Eu acho que isso é importante. É extremamente positivo estarmos em uma terceira edição mais seguros, inclusive com o papel de cada um neste processo: da iniciativa privada, dos empreendedores e do poder público, sendo correalizadores de um evento desta magnitude. As pessoas esperam algo cada vez melhor. Queremos que este seja melhor, em vários aspectos. Queremos que o evento seja cada vez mais uma expressão não somente do ecossistema gaúcho de inovação, mas que o Brasil se sinta representado, que a América Latina esteja aqui presente. Desejamos que seja um evento com maior qualidade, mais relevante, que faça sentido para quem ali esteja presente. Que faça a diferença, para deixar mais consistente o ecossistema gaúcho de inovação. É a nossa festa da inovação e estamos preparados para isso.