É impressionante a habilidade manual dos competidores que disputam o campeonato de cubo mágico, neste fim de semana em Morro Reuter, no Vale do Sinos. Eles têm apenas alguns segundos para resolver os 13 tipos diferentes do brinquedo, inclusive de olhos vendados, como exige uma das categorias.
A disputa, que começou às 9h de sábado (3), foi retomada na manhã deste domingo (4) e segue até o fim da tarde, com a distribuição de medalhas. O evento ocorre na Arena Zimer, no pavilhão da Igreja Evangélica, no centro da cidade. O torneio tem transmissão em tempo real (neste link), mas quem quiser pode assistir presencialmente no local.
Participam 58 inscritos, entre moradores do Estado e visitantes de Santa Catarina, Paraná e Bahia. Além das medalhas, os vencedores garantem seu nome no ranking World Cube Association (WCA), entidade internacional de cubo mágico que regulamenta as competições.
O torneio tem 13 modalidades que variam conforme o cubo: duas camadas, três, quatro, cinco, seis, sete, Megaminx (12 camadas), square, pyraminx, skewb e clock (veja no vídeo acima como é cada uma delas). Em outras duas categorias, os participantes precisam solucionar o cubo com os olhos tapados: a modalidade vendada (em que se resolve um cubo) e multi-vendado (que soluciona vários cubos sem vê-los). Ainda há premiação para destaque de competidora feminina e de iniciante. O modelo mais popular de cubo mágico é o 3x3, que costuma ser a porta de entrada para o jogo.
No salão onde ocorre o evento, os jogadores se distribuem em quatro mesinhas pretas, todas com cronômetros e juízes. A posição de cada um vai sendo mostrada no telão.
Desafio às cegas
Com mais de cem medalhas de ouro, o engenheiro de software Diego Meneghetti, 36 anos, é um dos participantes. No sábado, disputou na modalidade 3x3 com os olhos vendados. Pela manhã, machucou um dos dedos, mas a rapidez com que resolve os cubos não foi afetada, surpreendentemente.
Ele conta que é preciso memorizar o embaralhado do cubo para solucionar o jogo com a venda.
— Eu olho o cubo por um minuto e memorizo onde está cada cor. Nem sempre dá certo, às vezes, tiro a venda e está tudo bagunçado. Mas normalmente funciona — explica.
O cubista conta que já participou de mais de 70 competições em seis países — como Argentina, suíça e França. Ele avalia que os Estados Unidos são os que mais se destacam no jogo, já que há incentivo desde a infância aos jogadores.
Morador de Eldorado do Sul, Meneghetti começou a praticar em 2012. Foca o treino no 3x3, cubo que o inspirou no início e decidiu priorizar. Um dos pontos positivos do cubo, para ele, é o fato de que pode ser disputado entre opositores de idades bem distintas:
— O Caio (Sato, de São Paulo) foi recordista no Brasil no 3x3 aos nove anos. Tem crianças supernovas que jogam muito bem. A idade realmente não faz diferença, nem o gênero.
O recorde de Sato foi alcançado em agosto do ano passado, também em competição em Morro Reuter. Ele resolveu o cubo de 3x3 com uma mão, em 7,58 segundos, conforme a organização.
Fenômeno de Salvador
Uma das cubistas mais conhecidas do país, Suzane Coelho também participou da competição. Aos 24 anos, ela reúne uma comunidade de mais de 360 mil inscritos em seu canal no YouTube, onde divulga lives diárias e fala sobre diversos assuntos relacionados ao tema.
A cubista mora em Salvador e já viajou para diversas cidades competindo. Na conta, são mais de 35 torneios. Na competição de sábado, foi um fenômeno: atendeu fãs e tirou fotos com todos com simpatia, nos intervalos dos jogos.
Ela conta que começou a treinar em 2016, depois de ser desafiada por um amigo cubista.
— Fiquei umas duas horas quebrando a cabeça para tentar aprender, e depois disso não consegui mais parar. Estou até hoje — conta, mencionando os benefícios que o jogo traz. — Quando comecei, ainda estava na escola e já pude ver melhora no raciocínio lógico, em coordenação motora e principalmente na concentração. A gente tem muito mais facilidade de focar depois de pegar prática.
Mochila recheada de cubos
Alguns cubistas compareceram ao evento para conhecer ídolos e pegar dicas para se aprimorar nos jogos, antes de começarem a competir. Orgulhosos, alguns pequenos mostravam mochilas recheadas de cubos, como Felipe Bernardino da Silveira, 13 anos.
Ele ganhou os itens da mãe há alguns anos, mas o interesse surgiu há cerca de dois meses, quando passou a conseguir solucioná-los. Desde então, leva ao menos um dos itens para onde quer que vá, da escola até o supermercado. No sábado, carregava quase 20 cubos diferentes dentro da mochila.
Dos medalhistas de ouro, a adolescente Vitória Silveira Mozzini, 14 anos, foi a mais rápida a resolver o Megaminx, que tem 12 lados. Ela veio com o pai, André Mozzini 53, de Passo Fundo, onde moram, para competir.
Segundo ele, a adolescente aprendeu a resolver o cubo na pandemia e participa de competições desde 2022. A primeira medalha de ouro veio neste fim de semana, mas os benefícios do jogo já são notados há alguns tempos:
_ Ela ganhou um cubo com personagens da Disney e procurou uns tutoriais na internet. Aprendeu e seguiu jogando, ao menos uma hora por dia ela pratica. A gente viu uma melhora dela até na escola, no desempenho em matemática - conta Mozzini, orgulhoso.
Os praticantes desse esporte afirmam que a dica é treinar muito para pegar o jeito, e que o raciocínio lógico desenvolvido com a prática do jogo ajuda em diversos outros momentos do dia a dia.
Torneio de família
A iniciativa em Morro Reuter é de uma família. Fabiomar Kolling e Iara Werner Kolling viram o filho Arthur Werner Kolling começar a se interessar pelo jogo há alguns anos.
O adolescente pediu aos pais para participar de campeonatos, e a família foi a um torneio em Itajaí, Santa Catarina, em abril de 2023. Depois disso, sem encontrar muitas opções de competições no RS, a família decidiu começar a organizar os eventos.
Arthur se tornou membro da associação da WCA internacional de cubos mágicos, que cede os equipamentos para as competições e estipula o regulamento.
O primeiro torneio organizado pela família foi em agosto de 2023, também em Morro Reuter. Naquela edição, as 70 vagas disponíveis foram preenchidas e teve até fila de espera. Com a repercussão, uma nova edição foi marcada para este fim de semana, quando ele também está entre os competidores.
— Nós não temos um orçamento grande nem nada, decidimos nos envolver porque vimos que há muitos cubistas no Estado esperando por campeonatos. Há praticantes em várias cidades, mas ainda é um esporte que aguarda por incentivo, seja da iniciativa privada ou de órgãos públicos, que entendam que é uma prática muito positiva para o desenvolvimento de crianças e adultos, para a construção de um mundo melhor. Quem compete busca por soluções e superar de seus próprios limites — comenta Iara.
Neste ano, a taxa de inscrição do campeonato é de R$ 25, e o valor é usado na confecção das medalhas. O valor excedente, se tiver, será doado para instituições sociais. O torneio é organizado por voluntários (alguns deles credenciados pela associação, como os que atuam como juízes) e conta com o apoio da prefeitura de Morro Reuter.