Cartão postal da cidade e símbolo da colonização portuguesa em Porto Alegre, o Largo dos Açorianos passa por obras de recuperação desde novembro de 2023. O espaço, que havia sido revitalizado e dotado de novas estruturas em 2019, em uma parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), deverá ter sua reforma entregue em março. A conclusão estava prevista incialmente para janeiro, mas sofreu adiamentos e ajustes em seus prazos, conforme a prefeitura, por conta da sequência de eventos climáticos adversos ocorrida nos últimos meses.
O monumento está localizado no ambiente onde o Centro Histórico se encontra com os bairros Cidade Baixa e Praia de Belas, representando um dos recantos de lazer ao ar livre para moradores e visitantes da Capital. A atual intervenção busca reparar fendas entre as placas de concreto após a revitalização, que provocavam vazamento de água dos tanques que compõem o espelho d'água.
Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre (Smamus), a fase que está em andamento trata da manutenção do espelho superior, localizado à altura do Largo Zumbi dos Palmares, entre a alça de acesso da Avenida Borges de Medeiros para a Avenida Loureiro da Silva. Houve dragagem de sedimento e remoção de lixo indevidamente lançado no local.
"Foi seco para ser recuperada a impermeabilização das juntas de dilatação. Na semana passada foi colocada uma lâmina d'água para verificar se o polímero aplicado nas juntas produziu o efeito desejado. Para esta semana, será seco novamente, para aplicar impermeabilizante nas paredes internas", informou por nota a Smamus.
Ainda serão recuperados os chafarizes que haviam sido alvos de vandalismo. Por fim, vão ser recompostos os tanques, com enchimento até o nível da cascata. A nova previsão de conclusão do trabalho ficou para o início de março, "não havendo chuva persistente", diz o texto da Secretaria.
O serviço é realizado pela empresa Athena Construção e Paisagismo, com fiscalização da equipe técnica da Smamus, com investimento privado de R$ 36.402,17 em contrapartida de empreendimento licenciado na Rua Cabral, números 521 e 571, no bairro Rio Branco.
Toneladas de lixo
A prefeitura destacou, ainda, que a OAB-RS, adotante do Largo dos Açorianos, mantém uma equipe fazendo o recolhimento de lixo diariamente, pois o descarte irregular de resíduos é "bastante grande" na área.
Em coluna publicada em GZH em janeiro de 2020, menos de seis meses após a revitalização, o jornalista Paulo Germano mostrou que um quarto de tonelada de resíduos havia sido removido do espelho d'água. Entre garrafas, latas e outras embalagens, havia até um vibrador.
Cardume exótico é remanejado
Carpas e tilápias encontradas às dezenas nos tanques antes da reforma foram recolhidas e encaminhadas a criadouros pela prefeitura. Em janeiro, a reportagem de GZH registrou imagens que mostravam a grande quantidade de animais aquáticos exóticos que havia no local. Peixes pequenos, com potencial de adaptação ao espaço, serão mantidos.
"Os peixes grandes foram levados para açudes com condições apropriadas para sobrevivência da fauna e os de menor porte foram transferidos de um espelho para o outro, conforme o andamento dos trabalhos", descreve a nota da Smamus.
7 curiosidades sobre a Ponte dos Açorianos:
1 - O Dilúvio já passou por ali
Quando foi aberta ao público, em 1848, a Ponte de Pedra ou dos Açorianos (que substituiu outra, em madeira) cruzava um dos braços do Arroio Dilúvio, que se bifurcava onde hoje está o Colégio Estadual Protásio Alves. Depois que o curso d´água foi canalizado, em 1937, a obra perdeu sua função de ligar o Centro Histórico à Zona Sul (trajeto que hoje passou a ser feito pelas avenidas Borges de Medeiros e Praia de Belas).
2 - Já pensaram em derrubar a ponte
O projeto original da 1ª Perimetral, na década de 1970, previa a demolição da estrutura para permitir a construção de oito alças viárias de acesso ao Viaduto dos Açorianos. Mais tarde, a Ponte de Pedra foi agregada ao projeto urbanístico do novo viaduto e integrada ao plano de paisagismo da arquiteta e urbanista Enilda Ribeiro. Foi ela quem concebeu a praça onde um espelho d’água liga a Ponte de Pedra ao Viaduto dos Açorianos, remetendo ao Arroio Dilúvio.
3 - Agora, ninguém pode mexer com a ponte
A Ponte de Pedra foi tombada pelo município em 1979. Naquele ano, o local recebeu o espelho d’água sob os arcos da estrutura. Em razão do alto nível da água, rebaixado na revitalização, boa parte da construção ficou encoberta durante décadas.
4 - Já foi palco de outras aglomerações
Apreciado sobretudo nas tardes ensolaradas, o Largo dos Açorianos foi palco de diversas aglomerações noturnas entre 2012 e 2014, quando o bar Tutti Giorni migrou da escadaria do Viaduto Otávio Rocha (para onde retornou posteriormente) para um prédio em frente à praça. À época, o local atraía centenas de pessoas ao redor do espelho d’água. A movimentação provocou diversos atritos entre moradores e frequentadores do bar, que chegou a ser interditado pela prefeitura.
5 - Revitalização levou mais de mil dias
O primeiro prazo para a entrega da obra de revitalização da área, que teve ordem de início em outubro de 2016, era maio de 2017. Em razão de uma série de problemas, a devolução do local à comunidade sofreu nada menos do que sete adiamentos, contabilizando quase três anos em obras. Enquanto os prazos foram postergados, com anuência da prefeitura, o valor estipulado inicialmente teve incremento de 15%, passando de R$ 4,7 milhões para R$ 5,4 milhões.
6 - Alvo de vândalos
Levou quatro dias, depois de ter sido reaberto ao público, no ano passado, para que o local fosse alvo de vandalismo. Horas depois da ação, uma equipe do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) fez a limpeza das paredes do viaduto e dos bancos de concreto que foram riscados com tinta vermelha. O problema se repete sucessivamente.
7 - Um barco atracou por lá, outro vigora como monumento
Em outubro de 2019, um barco de papel de dois metros de altura chamava a atenção de quem passava pela área verde. A estrutura que flutuava sobre o espelho d'água era obra do artista plástico e arquiteto Roberto Freitas. A intervenção artística, cuja proposta era resgatar a memória afetiva de quem brincava com barquinhos na infância, foi promovida pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). No outro lado da Avenida Loureiro da Silva, outra representação de embarcação vislumbra o olhar dos observadores. Trata-se do Monumento aos Açorianos, painel em aço produzido pelo artista plástico Xico Stockinger.