O desfecho de mais uma audiência sem acordo entre os rodoviários grevistas de Esteio e a empresa de ônibus Viação Hamburguesa reflete no deslocamento de centenas de passageiros pela cidade. A paralisação teve início na segunda-feira (26) pela manhã. Desde então, o número de ônibus circulando caiu significativamente.
Na reunião de mediação realizada nesta quarta-feira (28), na sede do MPT-RS, foi reafirmada a grade de horários (confira abaixo) que deverão ser atendidos. Seguem os percentuais mínimos de 35% da frota em horário de pico e 15% nos demais períodos do dia.
Apesar de ter participado da audiência, a prefeitura de Esteio reafirmou que, em meio a esse impasse, seu papel perante a lei é fazer cumprir a manutenção do serviço público essencial. Por conta disso, a fiscalização será mantida.
A equipe de GZH entrou em contato com a procuradora-geral do município, Carolina Weber. Ela informou que a Viação Hamburguesa vem operando o transporte coletivo através de licitação emergencial há cerca de um ano e meio, desde que houve o rompimento contratual com o Consórcio TEU.
Hoje, a passagem de ônibus em Esteio custa R$ 4,00. Segundo a procuradora, para atender às demandas dos rodoviários, a empresa de ônibus teria de aumentar a tarifa, levando a uma redução ainda maior do número de passageiros.
— Se eu não atrair o usuário para andar de ônibus, pode ter certeza de que é só ladeira abaixo — argumenta a procuradora-geral.
De acordo com a Procuradoria-Geral do Município de Esteio, o serviço é considerado deficitário e o município já aporta recursos financeiros. O repasse varia mensalmente.
Grevistas manifestam indignação
Os rodoviários de Esteio reivindicam: ganho real de 5% nos salários; adicional de dupla função de 15% sobre o salário dos motoristas que também exercem a função de cobrador; e vale-alimentação de R$ 30 proporcional à jornada.
— Nós esperávamos lá no Ministério Público do Trabalho que as empresas apresentassem uma proposta que contemplasse os benefícios que os rodoviários tinham antes da pandemia. O que está deixando a categoria mais indignada é que elas receberam, por parte do poder público municipal de Esteio e da Metroplan, somados os valores, cerca de R$ 18 milhões em aportes (subsídios). E para os trabalhadores não foi recolocado nada — disse Wilson Júnior Caetano, do comando de greve.
O escritório Zanella Advogados Associados, que representa a empresa Viação Hamburguesa, foi contatado por GZH para se manifestar sobre o processo de mediação. No entanto, a equipe de reportagem obteve como retorno que "toda e qualquer manifestação vai ser feita nos autos do processo", não desejando responder aos questionamentos relacionados ao assunto.
A informação repassada por outras partes envolvidas e interessadas no processo dão conta de que o único ponto acertado foi o reajuste salarial. A empresa, no entanto, estaria irredutível quanto à dupla função e ao vale-alimentação por falta de condições financeiras.
Transporte metropolitano tem impacto amenizado
A paralisação dos trabalhadores não afeta apenas a operação da Viação Hamburguesa como também a Real Rodovias, que faz o deslocamento entre cidades da Região Metropolitana e do Vale do Sinos.
A empresa não está realizando as viagens de Esteio para São Leopoldo e Sapucaia do Sul, somente até Porto Alegre. Apesar disso, foram disponibilizados ônibus da Central, do Vale do Sinos, para cumprir os itinerários em falta.
— Estamos com quase 60% do serviço operando com esse reforço da Central. E o nosso SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor/Cliente) não tem tido reclamação. Ou seja, estamos atendendo da melhor maneira possível — declarou o diretor-superintendente da Metroplan, Francisco Hörbe.
Segundo o órgão, que faz a gestão do transporte coletivo intermunicipal, os transtornos também são amenizados devido à disponibilidade da Trensurb, que faz os deslocamentos entre Porto Alegre e o Vale do Sinos.